Outros Cinemas, outras narrativas
![Auto-Retrato, 1965 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000877023019.jpg)
Auto-retrato, 1965
Flávio de Carvalho
Óleo sobre tela, c.s.d.
90,00 cm x 67,00 cm
Coleção Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP)
Texto
Definição
O termo vincula-se a filmes e experimentos audiovisuais que fogem ao tradicional filme de exibição e exposição comercial. Caracterizam-se pela narrativa como expressão artística, conjunto de elementos poéticos e traços estilísticos com o objetivo de explorar o potencial estético da linguagem cinematográfica contemporânea. Nesse contexto, o filme alia-se a outros recursos dinâmicos e sensoriais, o que liberta a mente do espectador para participar do universo ficcional.
Nestes outros cinemas, o filme comporta-se como instalação, é mapeado para seu lugar de exibição (videomapping), torna-se interativo, é exibido à medida que é produzido (em tempo real) e distribuído pela web, entre outras possibilidades.
O pesquisador Phillipe Dubois1 afirma que o cinema é, simultaneamente, uma sala, um dispositivo, uma linguagem e um diálogo com o espectador. Os outros cinemas discutem estes elementos. Para dialogar com a cultura contemporânea, buscam novos espaços para a exibição: prédios, árvores, jatos de água ou vapor. A reinvenção de suportes de exibição desconstrói a face interna do cubo, explora o exterior e instala-se em suportes flexíveis, interagindo com o local. Também abandonam a produção em 35 mm e percorrem o vídeo digital, os dispositivos móveis, os drones, as webcams e outros equipamentos que captem imagens em movimento, assumindo um contexto pluralizado de máquinas de ver.
No que diz respeito à linguagem, as narrativas são descontínuas, multilineares, em vários formatos e extensões, lugares e tempos, aproximando-se da dinâmica dos jogos, das artes visuais ou da performance. Neste cenário, o corpo do espectador também é solicitado. Antes sentado numa poltrona, é convidado a participar. Ele pode caminhar, movimentar-se diante das telas de projeção e compor diferentes modos enunciativos.
Estes outros cinemas convocam olhares e formas de narrar diversos. As narrativas brincam com a linguagem fílmica, tradicionalmente organizadas de modo linear, ainda que trabalhadas com flashbacks, elipses e hiatos, em mosaicos narrativos. Outras bases narrativas multiplicam-se em contextos hipertextuais, multilineares, simultâneos e interativos, como desenhado pela literatura desde o século XIX. Sem definir um único vetor para a narrativa, a cena contemporânea avança para uma multiplicidade que se desvia do tradicional. A invenção da nova mídia2 traz consigo a construção de outros modos de narrar, mesclando gêneros, fórmulas e estruturando novas poéticas.
Não se trata de uma ruptura ou negação, mas de experiências distintas, expressão de seu tempo, e não substitutos da tradição cinematográfica e a narrativa linear.
No cenário internacional, Jeffrey Shaw (1944), Maurice Benayoun (1957), Peter Greenaway (1942), Peter Weibel (1944) e Gary Hill (1951) são referência de filmes experimentais. No Brasil, destacam-se artistas e pesquisadores como Arlindo Machado (1949), Christine Melo, Ricardo Ribenboim (1953), Kátia Maciel (1963), Eder Santos (1960), Danillo Barata (1976) e André Parente (1957), entre outros.
Kátia Maciel e André Parente inserem o espectador na cena em trabalhos como a instalação interativa de Katia Maciel, À Sombra, (2001) e Visorama, (1997/2007)um sistema de visualização de ambientes virtuais criado por André Parente, envolvendo-o física, visual e sensorialmente. Já Danillo Barata e Eder Santos, vindos do vídeo, exploram as instalações e efeitos de sons e imagens. Em Bruce Nauman’s Friend, 2010 (videoinstalação de Danillo Barata), os efeitos visuais tomam a cena, em um confronto de performer e câmera. Em Passagem de Mariana, 1996 (performance de Eder Santos), uma aldeia composta por sete tendas ocupadas por músicos são locais de projeção de objetos relacionados aos pecados capitais.
A cena brasileira em novos cinemas e novas narrativas é vasta e densa, abrangendo desde o trato da imagem e som até a interatividade.
Notas
1. DUBOIS, Phillipe. Entrevista In: Comunicação & Informação. v. 11, n. 1: p. 146-153, jan./ jun. 2008. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/ci/article/viewFile/7500/5318. Acesso em: 06 mai. 2014.
2. MURRAY, Janet. Inventing the Medium: principles of interaction design as a cultural practice. Massachusetts: The MIT Press, 2012; MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural: Unesp, 2003 e MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Massachusetts: MIT Press, 2000.
Obras 13
Fontes de pesquisa 4
- DUBOIS, Phillipe. Entrevista. In: Comunicação & Informação. v. 11, n. 1: p. 146-153, jan./ jun. 2008. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/ci/article/viewFile/7500/5318. Acesso em: 06 mai. 2014.
- MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Massachusetts: MIT Press, 2000.
- MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural: Unesp, 2003.
- MURRAY, Janet. Inventing the Medium: principles of interaction design as a cultural practice. Massachusetts: The MIT Press, 2012.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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OUTROS Cinemas, outras narrativas.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo910/outros-cinemas-outras-narrativas. Acesso em: 02 de fevereiro de 2023.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7