Título da obra: Noivos a Cavalo


Reprodução fotográfica Rodrigo Lopes
Noivos a Cavalo
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Mestre Vitalino
Reprodução fotográfica Rodrigo Lopes
Vitalino Pereira dos Santos (Ribeira dos Campos, Caruaru, Pernambuco, 1909 – Alto do Moura, Caruaru, Pernambuco, 1963). Ceramista popular e músico. Conhecido como Mestre Vitalino, o artista se notabiliza por suas peças de cerâmica que trazem figuras inspiradas nas crenças populares, em cenas do universo rural e urbano, no cotidiano, nos rituais e no imaginário da população do sertão nordestino brasileiro.
Filho de lavradores, ainda criança, começa a modelar pequenos animais de seu repertório rural, como bois e cavalos, com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos para serem vendidos na feira de Caruaru.
Nos anos 1920, Mestre Vitalino cria a banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal. Na década de 1930, possivelmente influenciado pelos conflitos armados do período, modela seus primeiros grupos. As cenas que remetem à ordem e ao crime no sertão brasileiro são recorrentes em sua produção. Entre bandidos e soldados, policiais, ladrões de cabra e de galinha, destacam-se as figuras dos cangaceiros Lampião, Maria Bonita e Corisco.
Nos anos 1940, começam algumas transformações na vida de Mestre Vitalino. Muda-se para o povoado Alto do Moura e, em 1947, sua atividade como ceramista, até então desconhecida do grande público, é apresentada na 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, organizada pelo desenhista e educador Augusto Rodrigues (1913-1993), no Rio de Janeiro. A partir dessa exposição, segue-se uma série de eventos que contribuem para torná-lo conhecido nacionalmente.
Boa parte dos trabalhos de Mestre Vitalino se refere aos três principais ritos de passagem do ser humano: nascimento, casamento e morte. O tema do casamento aparece com frequência, em trabalhos como Casamento no Mato, O Noivo e a Noiva, e Noivos a Cavalo. Os enterros também são composições reveladoras dos hábitos e do cotidiano da região. Comparando-se as obras Enterro na Rede, Enterro no Carro de Boi e Enterro no Caixão, por exemplo, percebe a diferença de status dos mortos, de acordo com o modo como são transportados. Somam-se a esses trabalhos as diversas procissões criadas pelo artista; cenas do imaginário popular, como em A Luta do Homem com o Lobisome (sic), O Vaqueiro que Virou Cachorro e Diabo Atentando o Bêbado; e aspectos sociais da região, como a seca e a migração, reproduzidos em obras como Retirantes (1960).
Outro tema frequentemente representado por Mestre Vitalino é o trabalho. Suas obras costumam expressar a divisão entre atividades laborais e tipos masculinos – vaqueiros e lavradores – e femininos – lavadeiras e rendeiras. O artista também modela profissões do contexto urbano, como dentista, médico, barbeiro e costureira, em parte para atender às demandas do mercado. Retrata, ainda, seu próprio trabalho, como em Vitalino Cavando Barro, Vitalino Queimando a Loiça e Vitalino e Manuel Carregando a Loiça, e produz ex-votos.
Além dos temas, a cor é um elemento importante na obra do artista. No início, ele a obtém por meio de argilas de diferentes tons, avermelhado e branco. Depois, passa a pintar os bonecos com tintas industriais, o que lhes confere um aspecto alegre e lúdico. De acordo com a antropóloga Lélia Coelho Frota, autora de livro sobre o ceramista, a cor, nessa fase de Vitalino, não é utilizada como mero elemento decorativo, mas sim como parte integrante da própria modelagem, na medida em que confere às figuras e cenas maior dramaticidade. A partir de 1953, o artista deixa de pintar as figuras, mantendo-as na cor da argila queimada.
Em 1955, Mestre Vitalino integra a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, em Neuchâtel, na Suíça. O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e a Prefeitura de Caruaru editam o livro Vitalino, com texto do antropólogo René Ribeiro e fotografias de Marcel Gautherot (1910-1996) e Cecil Ayres. Nessa época, ele conhece Abelardo Rodrigues, arquiteto e colecionador, que forma um significativo acervo de peças do artista, mais tarde doadas ao Museu de Arte Popular, depois chamado de Museu do Barro de Caruaru.
Mestre Vitalino representa um agente-chave de transformação de Alto do Moura, em Caruaru. Com seu sucesso, famílias inteiras passam a se ocupar da produção cerâmica na comunidade, o que transforma o povoado em referência nacional na área, considerado pela Unesco um dos mais importantes centros de arte figurativa das Américas.
Em 1971, é inaugurada na região, na residência do artista, a Casa Museu Mestre Vitalino. No espaço, administrado pela família, estão expostas suas principais obras, além de objetos de uso pessoal, ferramentas de trabalho e o rústico forno a lenha em que fazia suas queimas.
Mestre Vitalino caracteriza-se por um estilo pessoal marcante, que se revela na expressividade das feições, nos gestos e posturas corporais da composição teatralizada das cenas que representa. Em certa medida, seu sucesso está relacionado também à tendência cultural da época de valorizar elementos populares, considerados originais e exemplos de brasilidade.
Independentemente das razões do sucesso de Mestre Vitalino, é certo que ele se caracteriza como um dos representantes da cultura nacional, na medida em que expressa, de maneira genuína, o homem nordestino e tudo aquilo que o constitui.
Reprodução fotográfica Rodrigo Lopes
Reprodução fotográfica Cícero Rodrigues
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Nelson Kon
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Rodrigo Lopes
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Rodrigo Lopes
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Anibal Sciarretta
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)
Fundação Bienal de São Paulo
Kunsthaus Zürich
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
Museu Nacional de Belas Artes
Museu Afro Brasil
Galeria Mestre Vitalino
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
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