Eduardo Sued
![Nº 38, 1995 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2022/06/38350_8960.jpg)
Nº 38, 1995
Eduardo Sued
Óleo sobre tela
155,00 cm x 155,00 cm
Acervo Banco Itaú
Texto
Biografia
Eduardo Sued (Rio de Janeiro RJ 1925). Pintor, gravador, ilustrador, desenhista, vitralista e professor. Gradua-se na Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1948. No ano seguinte estuda desenho e pintura com Henrique Boese (1897-1982). Entre 1950 e 1951, trabalha como desenhista no escritório do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). Em 1951, viaja para Paris, onde freqüenta as academias La Grande Chaumière e Julian. Em sua estada na capital francesa entra em contato com as obras de Pablo Picasso (1881-1973), Joán Miró (1893-1980), Henri Matisse (1869-1954) e Georges Braque (1882-1963). Retorna ao Rio de Janeiro em 1953 e freqüenta o ateliê de Iberê Camargo (1914-1994) para estudar gravura em metal tornando-se mais tarde, seu assistente. Leciona desenho e pintura na Escolinha de Arte do Brasil, em 1956 e, no ano seguinte, transfere-se para São Paulo, onde ministra aulas de desenho, pintura e gravura, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de 1958 a 1963. Em 1964, volta a morar no Rio de Janeiro e publica o álbum de águas-fortes 25 Gravuras. O artista não se vincula a nenhum movimento mantendo-se alheio aos debates da época. Sua carreira teve uma breve etapa pautada no figurativismo, mas logo se encaminha para abstração geométrica. Nos anos de 1970, aproxima-se das vertentes construtivas, desenvolvendo sua obra a partir da reflexão acerca de Piet Mondrian (1872-1944) e da Bauhaus. Entre 1974 e 1980, ministra aulas de gravura em metal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).
Comentário Crítico
Antes de decidir pela carreira artística, Eduardo Sued freqüenta de 1946 a 1948 a Escola Nacional de Engenharia no Rio de Janeiro. Em 1949 inicia formação como artista plástico no curso livre de pintura e desenho do pintor alemão Henrique Boese. De 1950 a 1951 colabora como desenhista de arquitetura no escritório de Oscar Niemeyer. Com o dinheiro da venda de algumas aquarelas, parte para Paris em 1951, lá permanecendo até 1953. Durante a estada na França entra em contato direto com as obras da École de Paris, de Pablo Picasso, Joán Miró, Henri Matisse e Georges Braque. Como aluno freqüenta as Académies Julian e de La Grande Chaumière, que mais do que escolas eram locais onde os estudantes se expressavam livremente por meio do desenho e da pintura. De volta ao Brasil, inicia curso de gravura em metal com Iberê Camargo, tornando-se mais tarde seu assistente no ateliê. Sobre este contato, o artista afirma: "Iberê foi um artista sério, dedicado, um modelo para mim".
Eduardo Sued realiza importante produção de gravuras durante o período e participa de mostras como a Bienal de San Juan de Gravura Latino-Americana (1970) e da Bienal Internacional de Gravura (1970), na Polônia. Em 1956 inicia a carreira de professor de desenho, pintura e gravura em metal, atividade que abandona 1980. O interesse por grandes áreas cromáticas e a busca por mais plasticidade levam-no a dedicar-se de forma cada vez mais exclusiva à pintura em meados dos anos 1960.
Ele acredita na pintura como fazer intelectual, solitário e meditativo. Por isso, aquele que na visão do crítico Ronaldo Brito "é o grande desinibidor das linguagens abstratas, de origem construtiva, na pintura moderna brasileira"1 não participa ativamente de nenhum movimento, mantendo-se ao largo das disputas travadas entre concretos e neoconcretos nos anos 1950 e também das discussões sobre a nova figuração dos 1960. Sua poética abstrata forma-se pouco a pouco, em diálogo constante e refletido com a tradição da pintura moderna internacional e brasileira. Após um breve período de produção figurativa, Sued conquista já no início dos anos 1970 o domínio seguro da linguagem construtiva a partir da reflexão sobre Piet Mondrian e a Bauhaus. Contudo, trata-se de um construtivismo atualizado e não a aplicação imediata dos postulados de artistas do começo do século XX. Por outro lado, no âmbito nacional, preocupa-se em expandir "a pintura construtiva brasileira sem perder o conflito produtivo introduzido pelos neoconcretos", como avaliou o crítico Paulo Sérgio Duarte.
Costuma-se apontar a conquista de uma dimensão pública como a maior contribuição de Sued à pintura brasileira. Em seus trabalhos consegue superar o caráter intimista que perpassa a obra de alguns de nossos melhores pintores modernos, como Alfredo Volpi (1896-1988) e Milton Dacosta (1915-1988), por exemplo. Sued rompe com a cor local de vestígios figurativos, com o clima rememorativo e pessoal pelo qual é marcado o uso de elementos geométricos nesses artistas. Em telas de dimensões "monumentais" para os padrões da história da arte brasileira, projeta para fora o espaço da pintura através da estruturação precisa, rigorosa e "impessoal" da superfície da tela em campos variados de cor. Esse movimento para o exterior se dá tanto em enormes pinturas-painéis quase monocromáticas quanto em trabalhos que apostam na tensão vibrante entre campos cromáticos diversos organizados segundo uma geometria "fora dos eixos", criando um ritmo frenético, em que a superfície plana parece pulsar.
Nota-se que em mais de 30 anos de produção, Eduardo Sued não cristalizou sua linguagem abstrata em estruturas preconcebidas. Para ele, "experimentar é aceitar o desafio da dúvida. Sou pintor enquanto artista que experimenta". Tal exercício se expressa numa trajetória que reinventa constantemente seus desafios e soluções. Destacam-se no conjunto dessa obra as telas, desenvolvidas desde os anos 1980, de vastas áreas cinzas ou pretas entremeadas de modo preciso por faixas coloridas, num jogo sóbrio, mas vibrante, de expansão e contenção. Em meados dos anos 1990, Sued introduz elementos novos em seu trabalho, como a tinta de alumínio e pinceladas espessas e descontínuas de modo que a superfície pareça "quase esculpida", além de retornar à colagem, presente nos anos 1960 e 1970. Tais composições apresentam uma reflexão acurada sobre as relações entre luz, superfície, espaço e tempo na pintura, reafirmando mais uma vez a posição do artista como um constante "desinibidor" na arte brasileira.
Notas
1 Ronaldo Brito acompanha o trabalho de Eduardo Sued desde os anos 1970, sendo aquele que mais escreveu sobre o artista. Esta afirmação foi feita em 1998 no texto O Pensamento Contemporâneo da Cor, escrito para o catálogo da exposição Eduardo Sued: pinturas 1980-1998, realizada no Centro de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro.
Obras 20
Alfa ... Alfa
Branco/azul
Nº 38
Pintura 1
Exposições 182
Feiras de arte 2
-
29/4/2010 - 2/5/2010
-
12/5/2011 - 15/5/2011
Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil Captação, edição e legendagem: Sacisamba Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada) Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Fontes de pesquisa 32
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Como citar
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EDUARDO Sued.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8960/eduardo-sued. Acesso em: 19 de agosto de 2022.
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ISBN: 978-85-7979-060-7