Título da obra: Degolação de São João Batista


Passagem de Humaitá (Estudo)
,
1886
,
Victor Meirelles
Biografia
Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis SC 1832 - Rio de Janeiro RJ 1903). Pintor, desenhista, professor. Inicia seus estudos artísticos por volta de 1838, com o engenheiro argentino Marciano Moreno. No ano de 1847, muda-se para o Rio de Janeiro e se matricula na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba onde, em 1849, inicia o curso de pintura histórica. Em 1852 ganha o prêmio de viagem ao exterior e no ano seguinte segue para a Itália. Em Roma freqüenta, em 1854, as aulas de Tommaso Minardi (1787 - 1871) e, posteriormente de Nicola Consoni (1814 - 1884), com quem realiza uma série de estudos com modelo vivo. Com a prorrogação da pensão que lhe fora concedida continua sua formação estudando em Paris onde, em 1857, matricula-se na École Superiéure des Beaux-Arts [Escola Superior de Belas Artes], freqüentando as aulas de Leon Cogniet (1794-1880) e, em seguida, recebendo orientações de seu discípulo Andrea Gastaldi (1810-1889). Durante o período em que permanece no exterior corresponde-se com Porto Alegre (1806 - 1879). Retorna ao Brasil em 1861 e, um ano depois, é nomeado professor de pintura histórica da Aiba. Entre os anos de 1869 e 1872 executa duas grandes telas, Passagem do Humaitá e Batalha de Riachuelo. Em 1879 participa da Exposição Geral de Belas Artes, expondo a Batalha dos Guararapes ao lado da Batalha do Avaí de Pedro Américo (1843 - 1905). A apresentação das duas obras gera grande polêmica e um intenso debate no meio artístico. A partir de 1886 passa a se dedicar à execução de panoramas. Entre eles destacam-se: o Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro, feito na Bélgica, juntamente com Henri Langerock (1830 - 1915) e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894, produzida nesse mesmo ano.
Análise da trajetória
Nasce em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, e vai para o Rio de Janeiro em 1847, onde estuda na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. Em 1852, obtém o prêmio de viagem ao exterior da Aiba. Em Roma, é orientado pelos artistas Tommaso Minardi (1787 - 1871) e Nicola Consoni (1814 - 1884) e entra em contato com a pintura "purista", na qual o desenho é mais tênue e delicado que o da tradição neoclássica e as cores são suavizadas. Estuda as obras dos mestres italianos, em especial os artistas da Escola Veneziana, como Ticiano (ca.1488 - 1576) e Paolo Veronese (1528 - 1588), por quem manifesta especial interesse. Consegue renovação do pensionato e estuda em Paris, a partir de 1857, com o artista Léon Cogniet (1794 - 1880) e posteriormente com Andrea Gastaldi (1826 - 1889). Durante o tempo em que reside no exterior, mantém intensa correspondência com Porto Alegre (1806 - 1879), pintor e escritor, diretor da Aiba entre 1854 e 1857. Após mais de oito anos de ausência, retorna ao Brasil em 1861. No ano seguinte é nomeado professor de pintura histórica e de paisagem na Aiba, cargo que exerce até 1890.
Na permanência em Paris, pinta o quadro A Primeira Missa no Brasil (1860). O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comenta essa obra, ressaltando sua importância histórica: "... A primeira missa não poderia ser senão aquilo que ali está. Devia ser, forçosamente, aquele conjunto, isto é, um altar, um padre oficiando, um outro servindo de acólito, a guarnição da armada portuguesa assistindo ao ofício divino, o gentio aproximando-se, cauteloso, admirado, imitando o que via fazer. É isso o que narra a história e só".1 O quadro retrata a primeira missa da maneira como é descrita na carta de Pero Vaz de Caminha (ca.1451 - 1500). O documento, publicado somente em 1817, assume papel primordial na história do Brasil. No momento em que o quadro é pintado, a temática indianista está presente na literatura romântica e nas artes plásticas. Destaca-se o sentido poético de organização dos grupos que participam da cena e a gama cromática, com sutilíssimas passagens de tons. A cena principal estende-se ao longe e o olhar do espectador é direcionado para a cruz, no alto. No plano de fundo, abre-se a paisagem serena, banhada por uma luz suave, na qual está presente a vegetação tropical. O quadro tem uma atmosfera contemplativa. Meirelles cria uma imagem da história que dificilmente pode ser esquecida e que para muitos setores da intelectualidade do século XIX é a primeira grande obra de arte brasileira.
A tela Moema (1866) inspira-se no canto VI do poema épico Caramuru (1781), de frei José de Santa Rita Durão (1722 - 1784), que, como outros textos literários do período, trata do tema indianista ligado ao imaginário nacional. O poema narra a desventura da índia que, abandonada pelo português Caramuru, se atira ao mar e segue o navio no qual ele está partindo. No quadro, o corpo nu, banhado pelas ondas na praia, é exposto em primeiro plano, o rosto revela uma beleza exótica. O pintor cria uma imagem sensual e que, ao mesmo tempo, causa estranheza. Revela um sentimento poético na representação da paisagem.
Ao longo da carreira, recebe várias encomendas de quadros oficiais, entre eles, a Batalha de Riachuelo (ca.1882), no qual, com a técnica naturalista da representação, explora o triunfo e a destruição associados ao combate. Na Exposição Geral de Belas Artes, em 1879, são apresentadas as telas A Batalha de Guararapes, de Victor Meirelles e a Batalha do Avaí, de Pedro Américo (1843 - 1905), que marcaram época na pintura brasileira. É criada uma polêmica na imprensa, em relação às duas telas, consideradas antagônicas.
Com a Proclamação da República, modifica-se a direção da Aiba, que passa a se chamar Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Surgem propostas de renovação no ensino das artes e os antigos professores, como Victor Meirelles, são exonerados. Ele passa a ser marginalizado, por ser identificado como o pintor oficial da monarquia. Desde 1885, procurando alternativa à pintura historica e às encomendas oficiais, cria uma empresa de panoramas da cidade do Rio de Janeiro. No fim da vida, sobrevive das exibições públicas de seus panoramas e, melancólico, lamenta que o público tenha esquecido de seus quadros. Do primeiro panorama, exposto em Bruxelas e em Paris, em 1889, foram preservados apenas seis estudos. Nestes, a paisagem é representada com equilibrada distribuição de tons, e o olhar do espectador é convidado a percorrer a variedade de passagens, da semi-obscuridade da vegetação à luminosidade da atmosfera.
Vitor Meirelles tem papel importante na formação de vários artistas, na segunda metade do século XIX, devido a sua longa carreira como professor. Destaca-se, sobretudo, pelas qualidades de sua pintura: o desenho primoroso e a requintada combinação tonal em telas trabalhadas com sentimento e poesia.
Notas
1 DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p.173. (Arte: ensaios e documentos).
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Raul Lima
Reprodução fotográfica Lula Rodrigues
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Eduardo Marques
Reprodução Fotográfica Autoria Desconhecida
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Academia Imperial de Belas Artes (Aiba)
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Fundação Bienal de São Paulo
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