Inaicyra Falcão
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Inaicyra Falcão dos Santos (Salvador, Bahia, 1958). Cantora lírica, pesquisadora, professora das artes da cena. Sua atuação nos palcos está ligada a recriações de matrizes da cultura yorubá e africano-brasileira em uma visão contemporânea. Na área da educação, possui investigações e estudos de propostas pluriculturais para a dança-arte-educação que dialogam com a crítica decolonial e resgate das ancestralidades afro-brasileiras.
Filha do escultor, escritor e sacerdote afro-brasileiro Mestre Didi (1917-2013), e neta de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora (1890-1967), terceira Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador. É introduzida ao candomblé durante a infância e fortemente influenciada pelo universo das artes por sua família. Ainda durante o período de estudos no colégio, tem seu interesse pela dança aguçado pelas coreografias do Grupo de Dança Contemporânea da Universidade Federal da Bahia (GDC/UFBA) coreografada pelo dançarino e coreógrafo alemão Rolf Gelewski (1930-1988).
Ingressa no curso de bacharelado em Dança da Universidade Federal da Bahia em 1969. É aluna do dançarino estadunidense Clyde Morgan (1940) que a convida para participar do GDC/UFBA, grupo que ele passa a dirigir em 1972. Apesar de curso de dança não se dedicar com ênfase às culturas negras, Morgan é o responsável por apresentar obras de artistas negros que se tornam referências importantes, dentre eles: o coreógrafo estadunidense Alvin Ailey (1931-1989) e a coreógrafa e dançarina estadunidense Judith Jamison (1943).
Ainda durante o curso na UFBA, integra a Companhia de Dança Olodumarê – antigo Grupo Folclórico Olodum – coreografado por Domingos Campos (1934). Ao terminar a graduação, permanece no Ballet Brasil Tropical, novo nome da companhia, e viaja com o grupo para a Europa em 1973, mantendo o objetivo de continuar seus estudos. Neste momento, faz aulas no curso de Dança Contemporânea na Schola Cantorum, na França.
A estadia na França é um momento de grande desenvolvimento das questões artísticas. Faz aulas de Jazz e Danças Africanas, no Centro Americano, em Paris, participando de workshops e apresentações de professores de origem africana. Participa também da obra La déesse Lune [A deusa Lua], do dançarino e coreógrafo japonês Hideyuki Yano (1943-1988), no Theatre D. Ennah – primeira experiência envolvendo a tradução de um mito na forma de gestos, sons e movimentos, sem o uso da palavra.
Em 1980, deixa o grupo Ballet Brasil Tropical e vai para os Estados Unidos onde faz o curso de Dança Moderna no Studio Alvin Ailey. Percebe a grande influência da cultura clássica grega e da mitologia grega para os artistas da dança moderna e decide usar como orientação em sua prática artística a cultura afro-brasileira e a mitologia yorubá.
Em 1982, vai para a Universidade de Ifé (atual Obáfémi Awólòwo), na Nigéria, com bolsa do governo brasileiro para desenvolver sua pesquisa de mestrado. Transfere-se para a Universidade de Ibadan, onde é convidada para ministrar a disciplina de dança no Departamento de Artes Teatrais. Durante a estadia na Nigéria, compreende que o preconceito não se dá não apenas pela dimensão racial, mas interseccionando questões de classe e cultura.
Finaliza o mestrado sobre danças rituais na Bahia em 1984. No período que permanece na Universidade de Ibadan, 1982 até 1988, participa de eventos artísticos do departamento como dançarina, coreógrafa e no coral da universidade. Deste período destacam-se a participação nos trabalhos: “Recital” (1985), realizado em comemoração aos vinte anos do departamento, “Reencontro” (1985), e “Royal Jester”, no qual, além de coreógrafa e atriz, estreou como cantora lírica.
A partir dos estudos no mestrado, descobre as teorias de Rudolf Laban (1879-1958) e vai para o Laban Centre for Movement and Dance, na Universidade de Londres (Inglaterra), com bolsa do Conselho Britânico, em 1988, para desenvolver a pesquisa “Estudo Coreológico do Batá e sua possibilidade Coreográfica”. Participa de diversos workshops envolvendo as culturas e danças africanas aprofundando seus conhecimentos na área.
Retorna ao Brasil e, em 1990, é convidada pelo Departamento de Artes Corporais (DACO) da Universidade Estadual de Campinas, a continuar suas pesquisas sobre o batá. Torna-se, em seguida, professora colaboradora no departamento.
Sua tese de doutorado Da Tradição Africana Brasileira a uma Proposta Pluricultural de Dança-Arte-Educação, defendida em 1996, articula sua trajetória como artista e pedagoga no sentido de desenvolver uma proposta pluricultural de dança-arte-educação. A partir de suas pesquisas sobre o universo simbólico e mítico ligada ao tambor Batá, retrata o processo de criação do poema cênico Ayán: Símbolo do Fogo ressaltando a importância dos mitos de diferentes tradições na arte como elementos capazes de resgatar elementos culturais ligados à ancestralidade, reelaborar tradições em contexto contemporâneos e como formas de vivenciar exercícios de alteridade. Em 2000, lança o CD Okan Awa [Nosso Coração] em homenagem a sua avó, Mãe Senhora.
Inaicyra Falcão é uma cantora lírica, educadora e pesquisadora com longa trajetória artística como dançarina e coreógrafa. Sua pesquisa se volta especialmente ao resgate da ancestralidade e tradições africanas na cultura brasileira e preocupação com o desenvolvimento de uma perspectiva pluricultural para a prática da dança-arte-educação, compreendendo e resgatando as diversas tradições que compõem a cultura do Brasil
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 2
- MASTERCLASS – Escavando Memórias com Inaicyra Falcão. Cruz das Almas: UFRB, 2021. (1h 03min). Disponível em: https://youtu.be/O4bCcZWpHio. Acesso em: 01 nov. 2022.
- SANTOS, Inaicyra Falcão dos. Corpo e Ancestrdalidade: uma proposta pluricultural da dança-arte-educação. 5. Ed. Curitiba: CRV, 2021.
Como citar
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INAICYRA Falcão.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa643553/inaicyra-falcao. Acesso em: 30 de janeiro de 2023.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7