Título da obra: Ângela

Thomas Payne (Lomas de Zamora, Argentina, 1914 – Alfenas, Minas Gerais, 1996). Cineasta, ator, roteirista. Tom Payne muda-se nos anos 1930 para a Inglaterra, para ser artista plástico. Em 1937, trabalha em cinema, como figurante, ator e assistente de produção, entre outros, mesmo sem constar nos créditos. Convidado pelo cineasta Alberto Cavalcanti (1897-1982), vem ao Brasil compor a equipe técnica da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Seu primeiro trabalho é como assistente de direção em Caiçara (1950). É promovido à direção em Terra é Sempre Terra (1951). Com a saída de Cavalcanti da Vera Cruz, assume a direção, com o dramaturgo e cineasta Abílio Pereira de Almeida (1906-1977), de Ângela (1951). Autor do argumento de Sai da Frente (1952), ainda dirige, dentro da companhia, Sinhá Moça (1953), com Oswaldo Sampaio (1912-1996). O filme é sucesso de público, vencedor do Leão de Bronze, no Festival de Veneza (1953), e do prêmio especial do senado de Berlim, no Festival de Berlim (1954). Com a falência da Vera Cruz, Payne ainda realiza Arara Vermelha (1957), fracasso comercial. Faz para a TV Tupi o programa A Vida com Eliane (1957), com a então esposa Eliane Lage (1928), atriz por ele descoberta. Atua em dois filmes da Universal-International rodados no Brasil, ambos dirigidos pelo cineasta alemão Curt Siodmak (1902-2000), Curuçu, o Terror do Amazonas (1956) e Escravos do Amor das Amazonas (1957), e em programas televisivos do Reino Unido. Tenta voltar ao cinema, sem sucesso, e torna-se empresário no Guarujá.
Tom Payne se faz diretor dentro da Vera Cruz, companhia cinematográfica que propõe industrializar o cinema brasileiro, trazendo técnicos da Europa e realizando grandes produções. Os quatro filmes que dirige – sejam os três dentro da companhia (Terra é Sempre Terra, Ângela e Sinhá Moça), seja Arara Vermelha – seguem as fórmulas do estilo hollywoodiano: narrativa linear e clara, gêneros demarcados, ação contínua, câmera onipresente, entre outras características.
No lançamento, Payne recebe críticas favoráveis por Sinhá Moça, um melodrama folhetinesco de época, que trata do abolicionismo e da escravidão no Brasil, enaltecido pelo domínio técnico e pela direção de atores. Ainda que mostre as condições e revoltas dos escravos, o filme centra-se na luta dos brancos abolicionistas que salvam os negros. Os demais filmes de Payne são contemporâneos à feitura e tratam de temas mundanos. Os melodramas Terra é Sempre Terra e Ângela versam sobre a decadência da aristocracia. O primeiro focado na elite cafeeira e na ascensão da indústria paulista; o segundo, nos problemas causados pelo vício no jogo. Ainda que Payne opte pela linguagem convencional, é curioso notar o gosto por personagens complexos e dúbios: seus filmes, salvo Sinhá Moça, não apresentam heróis masculinos. Isso é mais evidente na aventura Arara Vermelha. O suposto herói, um tenente da polícia, rouba uma pedra preciosa após perder dinheiro no jogo e foge, tentando vendê-la, para recomeçar sua vida, carregando consigo a esposa grávida.
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