Wallace Downey
Texto
Wallace Downey (Nova York, Estados Unidos, 1902 - idem, 1967). Produtor e diretor. Em 1928, muda-se para São Paulo como diretor artístico da Columbia Records no Brasil. Associa-se ao industrial norte-americano Alberto Byington Jr. e realiza Coisas Nossas (1931), o primeiro filme musical brasileiro e o primeiro brasileiro terminado no sistema de som Vitaphone, feito em discos.
Downey se muda para o Rio de Janeiro, fundando a Waldow Filme. Através dela, associa-se à Cinédia, que possui um sistema de gravação de som mais avançado, feito diretamente na película, o Movietone, para realizar Alô! Alô! Brasil (1935), codirigido com os músicos e seus roteiristas habituais: João de Barro (1907-2006), o Braguinha, e Alberto Ribeiro (1902-1971). A Cinédia e a Waldow repetem a parceria em Estudantes (1935). Downey produz ainda Alô! Alô! Carnaval (1936), que dirigiria, mas viaja aos Estados Unidos e deixa a função para o sócio da Cinédia, Adhemar Gonzaga (1901-1978).
Downey associa-se novamente a Byington e funda a Sonofilms. Seu sócio, diretor da agência artística Toda América, leva seu star system para a nova companhia. Através dela, produz os longas João Ninguém (1936); O Bobo do Rei (1937); Bombonzinho (1937); Futebol em Família (1939); Pega Ladrão (1940); Banana da Terra (1939), que traz a cena musical O que É que a Baiana Tem?, com Carmen Miranda (1909-1955); Laranja da China (1939); e Abacaxi Azul (1944), este também dirigido por Downey. O fracasso do último filme enterra de vez a Sonofilms, cujos estúdios haviam sofrido um incêndio em 1940.
Análise
Wallace Downey é um dos pioneiros do cinema brasileiro, especialmente da comédia musical baseada no teatro de revista, batizada posteriormente de chanchada. O diretor e produtor, ligado ao mundo fonográfico, percebe o potencial da rádio brasileira e do cinema sonoro, que começa a se impor fora dos Estados Unidos no início dos anos 1930. Cria, assim, o primeiro filme musical brasileiro, o paulista Coisas Nossas, que traz, entre outros, Paraguaçu e o Bando de Tangarás. Sem uma linha narrativa definida, o filme alterna vinhetas cômicas e canções.
O sucesso de Coisas Nossas modifica o cinema comercial brasileiro, que passa a apostar nos musicais carnavalescos. Downey explora o segmento em seus três filmes seguintes como diretor, realizados no Rio de Janeiro: Alô! Alô! Brasil e Estudantes, filmes que se aproveitam dos principais sucessos do rádio; e Abacaxi Azul, feito 13 anos depois e cujo fracasso demonstra o enfraquecimento da fórmula. O cineasta Humberto Mauro (1897-1983) escreve a respeito do filme: “[Downey] apresenta por meio de fotografia animada, com som, os artistas de nosso rádio, fazendo graças, tocando e cantando... São produções que nada tem a ver, portanto, com cinema”.
A frase de Humberto Mauro sintetiza o que representa Wallace Downey para o cinema brasileiro, uma pessoa com muito mais tino de produção e negócios do que artístico. Diretor por conveniência, ao alcançar o sucesso com seu modelo de filme, dedica-se praticamente à produção, fazendo longas emblemáticos para o cinema brasileiro dos anos 1930, como Alô! Alô! Carnaval e Banana da Terra.
Notas
1. O pesquisador Máximo Barro (1930) conta uma versão ligeiramente diferente da divulgada à época do lançamento do filme. Diz ele: “No início de 1931, a Byington Company de São Paulo montara um equipamento sonoro batizado de fonocinex, fazendo crer tratar-se de uma acomodação do vitafone. Para divulgá-lo, o proprietário, Alberto Byington Jr., financia Coisas Nossas, com a supervisão de Downey". Cf. BARRO, Máximo. Coisas nossas. In: 60 Anos: Atlântida. São Paulo: 2001. Disponível em: www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/atlantida. Acesso em: 10 nov. 2012.
2. MAURO, Humberto. Palestra cinematográfica. A Cena Muda. Rio de Janeiro, v. 23, n. 7, 15 fev. 1944, p. 16.
Fontes de pesquisa 9
- ALLÔ! Allô! Brasil!. A Cena Muda. Rio de Janeiro, v. 14, n. 725, 12 fev. 1935. p. 5.
- AUGUSTO, Sérgio. Este Mundo é Um Pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
- BARRO, Máximo. 60 Anos: Atlântida. São Paulo: 2001. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/atlantida>. Acesso em: 10 nov. 2012.
- BENTES, E.M. Allô! Allô! Brasil! Cinearte. Rio de Janeiro, v. 10, n. 407, 15 jan. 1935. p. 11.
- CINEMATECA BRASILEIRA. Site. São Paulo. Disponível em: <http://www.cinemateca.gov.br/>. Acesso em: 12 nov. 2012.
- GONZAGA, Alice. 50 anos de Cinédia. Rio de Janeiro: Record, 1987.
- MAURO, Humberto. Palestra cinematográfica. A Cena Muda. Rio de Janeiro, v. 23, n. 7, 15 fev. 1944. p. 16.
- RAMOS, Fernão (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art, 1987.
- SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: longa metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2009.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
WALLACE Downey.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa636423/wallace-downey. Acesso em: 06 de julho de 2022.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7