Título da obra: O Pornógrafo

Biografia
João Callegaro (Joaçaba SC 1945). Cineasta, roteirista e publicitário. Amigo de infância do cineasta Rogério Sganzerla (1946 - 2004), é influenciado pelos filmes norte-americanos e pelas histórias em quadrinhos. Muda-se para São Paulo em 1960. Frequentador de cineclubes, ingressa na primeira turma da Escola Superior de Cinema (ESC), das Faculdades São Luís, em 1965. Realiza o curta-metragem Alegria (1967), nunca finalizado. Na mesma época, estagia no filme O Homem Nu (1968), de seu então professor, o cineasta Roberto Santos (1928-1987). Callegaro abandona a faculdade após dois anos. Associa-se ao cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012) e ao crítico de cinema Antônio Lima (19--) e funda a Xanadu Produções Cinematográficas, na Boca do Lixo, em São Paulo. Realiza pela produtora o longa-metragem em três episódios As Libertinas (1968). Cada um dos sócios é responsável por um episódio. Callegaro dirige o terceiro, Ana. Fora da sociedade dirige o longa O Pornógrafo (1970). Por conta de ambos os filmes, é vinculado ao chamado Cinema Marginal. Atua em Ritual dos Sádicos (1969), de José Mojica Marins. Passa a se dedicar à produção de comercias publicitários, paralelamente à direção de curtas-metragens documentais O Suspense Segundo Hitchcock (1969), Papagaio (1970), Quem é Quem no Cinema Brasileiro (1970), Fazendo Fita (1977), Moto Cross (1979) e Auwe (2000).
Comentário crítico
Em seu Manifesto do Cinema Cafajeste1, o cineasta João Callegaro define o que é seu cinema: filmes de ficção que buscam uma comunicação direta com o público e tomam como base o cinema norte-americano, o teatro de revista e as revistinhas pornográficas. É também influenciado pelas comédias italianas, pelas revistas em quadrinho e pelo cinema cochon francês, aquele que explora o corpo nu de mulheres. Ao buscar uma alternativa ao modo de produção cinematográfico brasileiro, é vinculado pela historiografia ao Cinema Marginal, rompendo, por exemplo, com a estética cinemanovista, pela irreverência, pela antropofagia, pela exploração do erotismo e pelo metacinema. Callegaro adota o ideário de gêneros cinematográficos populares e os recria a partir do registro da avacalhação e da esculhambação.
Em Ana, Callegaro combina comédia de costumes, erotismo, voyeurismo e deboche, e opta por terminá-lo numa sequência de três minutos, sem cortes, num plano estático, de um strip-tease, diretamente influenciado pelo longa-metragem Superbeldades (1962), do cineasta ucraniano Konstantin Tkaczenko (1925-1973). Em O Pornógrafo, sobre a Boca do Lixo paulistana, critica os padrões morais da época de produção do filme, em relação às liberdades sexuais dos indivíduos. No longa, Metralha, um jornalista que se espelha no imaginário estético dos filmes norte-americanos de gângsters, promove a crítica, de maneira debochada, ao revolucionar o negócio das revistinhas pornográficas, à época, proibidas pela censura.
Torna-se, assim, um dos precursores do cinema da Boca do Lixo, por conta de sua proposta cinematográfica, instituindo uma fórmula posteriormente muito usada: produção de baixo custo + erotismo + título apelativo2 - sem deixar a inventividade de lado.
1 CALLEGARO, João. Manifesto do Cinema Cafajeste. São Paulo, 1968. Disponível em . Acesso em 02 de abril de 2012.
2 ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2006, p. 38.
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