Título da obra: Ermos e Gerais

Bernardo Élis Fleury de Campos Curado (Corumbá de GoiásGoiás, 1915 – Idem, 1997). Contista, romancista, poeta, ensaísta, advogado e professor. Inicia sua educação em casa, ensinado pelo pai, Érico José Curado (1880-1961). Em seguida, cursa o ginásio no Liceu de Goiás, concluindo os estudos em 1940. Transfere-se para Goiânia, onde se forma em Direito em 1945. Durante o curso, é nomeado secretário da Prefeitura Municipal, e exerce a função de Prefeito da Capital em duas ocasiões. Paralelamente, advoga em foros locais entre Anápolis, Goiânia e Inhuma.
Como professor, ingressa no magistério da Escola Técnica Federal de Goiânia e também em colégios da rede pública. Leciona a disciplina de literatura na Universidade Católica e em cursos preparatórios para o vestibular. Desde 1934, tem grande participação na literatura do centro-oeste: funda a União Brasileira dos Escritores de Goiás, presidindo-a diversas vezes, integra a Academia Goiana de Letras, a Academia Brasiliense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
Funda a revista Oeste (1942-1944), em que publica o conto “Nhola dos Anjos e a Cheia de Corumbá”. Em 1945, participa do 1º Congresso de Escritores, em São Paulo e, em 1953, organiza o 1º Congresso de Literatura, em Goiás. Dois anos depois, publica seu único livro de poemas, Primeira Chuva.
Em 1964, exerce o cargo de vice-diretor e professor do Centro de Estudos Brasileiros, na Universidade Federal de Goiás, órgão fechado pela intervenção militar naquele ano. Em 1966, publica o romance Veranico de Janeiro, prêmio José Lins do Rego e prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, em 1967.
Na década de 1970, torna-se assessor cultural do Escritório de Representação do Estado de Goiás no Rio de Janeiro, e volta a lecionar na Universidade Federal de Goiás. Em 1975, é eleito o quarto ocupante da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras (ABL), o primeiro goiano a ingressar nessa instituição.
Desempenha a função de diretor adjunto do Instituto Nacional do Livro (INL), em Brasília, de 1978 a 1985. Em 1986, é nomeado para o Conselho Federal de Cultura, do qual faz parte até sua extinção, em 1989.
A obra de Bernardo Élis é polígrafa: conto, romance e ensaio. No entanto, a crítica o reconhece por seus contos e consagra-o como pioneiro no centro-oeste do país.
Destaca-se a trilogia de contos Ermos e Gerais (1944), Caminhos e Descaminhos (1965) e Veranico de Janeiro (1966) pelo interesse de uma escrita propensa ao neorrealismo regionalista, e uso de técnicas como o fluxo de consciência, o monólogo interior e o discurso indireto-livre. Essas características fazem com que Gilberto Mendonça Teles (1931) refira-se à obra do autor como aquela que se desenvolve “pela linguagem e pela técnica modernizante, criando no Centro do Brasil uma obra estranha e original”1.
Exemplo das características citadas está no conto “A Mulher que Comeu o Amante”, publicado no volume Caminhos dos Gerais (1975). O enredo desenvolve-se em um cenário agropecuário goiano, ilustrando o aspecto físico e social da região de maneira direta e concisa. O que a princípio parece ser uma narrativa circunscrita pelas generalidades do regionalismo, assume um caráter de humor negro e de fatalismo, ao contar o assassinato do baiano Januário, migrante que deixa a família na Bahia e foge com a amante, Camélia. Ela, uma moça sensual, cheia de lascívia. O entrecho baseia-se na chegada de um antigo namorado da moça, Izé, e no desejo de ambos de matarem Januário. A partir desse conflito, Élis cria uma história incomum, em que a maldade humana aparece como tema principal, em meio à desolação e pobreza do sertanejo goiano. Com contornos reflexivos e realistas, mostra a violência como um caminho de propagação de mais violência.
No que se refere a obra romanesca de Élis, destaca-se O Tronco (1956). Por meio de personagens comuns ao espaço geográfico e ao período político da Primeira República (1889-1930), constroem-se características do coletor, do coronel, do camarada, do juiz, da mulher e do cangaceiro. Evidenciam-se os mecanismos pelos quais aquela sociedade se organiza, privilegiando a crítica e a denúncia dos favorecimentos, dos desmandos e das manipulações comuns ao cenário coronelista. Além disso, demarca a ineficácia legislativa para conter tal situação.
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