Título da obra: Quadrívio

Ivana Arruda Leite (Araçatuba, São Paulo, 1951). Escritora. Em sua obra predominam os contos, microcontos e a literatura infantil, com incursões pelo romance. A temática da vida urbana perpassa a obra de Ivana, por meio da perspectiva individual de suas protagonistas.
Antes de publicar seu primeiro livro, Ivana atua por cerca de três décadas como bancária e depois como socióloga concursada da Secretaria de Bem-estar Social da Prefeitura de São Paulo. Segue o trabalho de escrita literária paralelamente às outras atividades profissionais e à pesquisa acadêmica. Em 1999, a autora conclui o mestrado em sociologia na Universidade de São Paulo (USP).
Ivana estreia na literatura com o livro de contos Histórias da Mulher do Fim do Século (1997) por uma editora de pequeno porte, e seu primeiro livro não alcança projeção nacional. O escritor Marcelino Freire (1967) reconhece nos manuscritos inéditos de Ivana o potencial de publicação em maior escala e facilita o encontro da autora com uma editora de maior porte. Com o segundo livro de contos, Falo de Mulher (2002), Ivana é reconhecida pelo grande público.
Embora publique seu primeiro livro tardiamente, a autora escreve desde os 14 anos, de forma que a boa recepção de Falo de Mulher propicia a publicação de um amplo material inédito do arquivo da autora. Em 2003, é incluída na antologia Geração 90: os Transgressores, organizada pelo escritor Nelson de Oliveira (1966). No ano seguinte, 2004, Ivana assina a coluna Mulher na Revista da Folha, do jornal Folha de S.Paulo.
O livro Ao Homem que Não Me Quis (2005) é finalista no Prêmio Jabuti e traz 15 microcontos e três contos. Nessas narrativas curtas, as mulheres são representadas de forma intimista, com seus dilemas e sua força transformadora.
O primeiro romance de Ivana é Hotel Novo Mundo (2009), selecionado pelo Programa Petrobras Cultural. O tempo presente da narrativa se passa no decorrer de sete dias, com incursões de relatos sobre o passado. Renata, a protagonista, é uma mulher recém-chegada a São Paulo, após abandonar sua casa e seu casamento no Rio de Janeiro.
Renata se hospeda no hotel Novo Mundo, um hotel barato localizado no centro de São Paulo, onde sua história se cruza com a de outros personagens marginalizados em busca de esperança, abrigo ou redenção. A narrativa acompanha a trajetória de reconstrução da protagonista, uma ex-prostituta que se casa com um homem rico e larga tudo para tentar algo diferente.
O romance Alameda Santos (2011) é composto de nove capítulos, cada um dos quais representa um ano do período entre 1984 e 1992, contado pela perspectiva da narradora-protagonista, cujo nome não conhecemos. O dispositivo narrativo do romance consiste na transcrição das fitas que a protagonista grava anualmente entre o Natal e o Réveillon, em que ela relembra os acontecimentos daquele ano. Segundo a autora, é seu livro de maior cunho autobiográfico. O tempo histórico da narrativa transparece nas referências à situação política do Brasil e ao cenário cultural, com músicas marcantes e eventos que transformam a sociabilidade daquela geração, como a eclosão da pandemia do vírus da Aids.
A narradora-protagonista tem o sonho de se tornar escritora e fala dirigindo-se a uma plateia imaginária, que são seus possíveis leitores. A oralidade é marcante no romance, justificada pelo recurso das fitas cassetes gravadas. Os assuntos abordados perpassam as temáticas daquela época, como a inflação e a fragilidade da democracia: um regime político de transição entre a ditadura civil-militar brasileira e a eleição direta para presidente.
Em 2014, Ivana inicia o projeto literário A Cozinha da Doidivana, no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Em cada um dos encontros mensais do projeto, ela recebe um autor diferente para uma conversa aberta ao público e para a degustação de um prato preparado pela escritora, inspirado na história literária do convidado.
Breve Passeio pela História do Homem (2017) é seu terceiro romance. Lena, a protagonista da história, é uma mulher aposentada de 65 anos que dedica seu tempo frequentando cursos livres sobre temas diversos. No livro, estão presentes fragmentos de aulas da professora Raquel sobre a formação da civilização contemporânea, intercalados por ficções curtas que representam passagens históricas de forma satírica.
Na literatura de Ivana Arruda Leite, o contexto sociopolítico e histórico se manifesta por meio das experiências individuais das protagonistas. Músicas, diálogos e eventos apresentam o panorama cultural de cada época, com seus costumes e valores, e o ponto de vista das mulheres protagonistas traz força e inconformidade à narrativa da escritora.
Ivana Arruda Leite - Enciclopédia Itaú Cultural
Na infância, Ivana Arruda Leite se alimenta da obra de Monteiro Lobato. Na adolescência, na São Paulo da década de 1970, é estimulada pela literatura formal e também pelas editorias jornalísticas, passando a escrever “loucamente” seus contos de temática urbana e feminina tendo a Rua Augusta como pano de fundo. Apesar de redigir, editar e diagramar seus textos para enviar às editoras no anseio de ter um livro publicado, só tem seu sonho realizado aos 50 anos, quando é apresentada ao escritor Marcelino Freire. Conhecida por abordar temas femininos em suas narrativas, Ivana explica que sua mulher não é de “chororô” e/ou submissa, tampouco é feminista. “Falo pela mulher brava, possuída por um ódio, que vai à luta e dá a volta por cima”, analisa. Sua narrativa também compreende o mercado infantil e infanto-juvenil: “O meu barato é contar histórias. Quero despertar o encantamento nos meus leitores”, conclui.
Realização: Gasolina Filmes
Entrevista: Gabriel Carneiro
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Itaú Cultural
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