Título da obra: O Cantador

Nelson Cândido Motta Filho (São Paulo, São Paulo, 1944). Jornalista, compositor, produtor musical e escritor. Tem importante papel na divulgação da música popular brasileira (MPB) e da cultura pop, além de lançar, disseminar e refletir sobre tendências de música e comportamento no país.
Neto de Cândido Motta Filho (1897-1977), intelectual do movimento modernista, ainda na adolescência, frequenta inúmeras festas com integrantes da bossa nova. Aproxima-se principalmente do músico João Gilberto (1931-2019) e do poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980). Tem aulas de música com um dos expoentes do movimento, o compositor e violonista Roberto Menescal (1937). Esse convívio é determinante para seu engajamento com a canção. O vínculo entre carreira e vida pessoal permeia todo o seu percurso.
Em 1966, ganha prestígio com o sucesso de Saveiros, composto em parceria com Dori Caymmi (1943) e interpretado por Nana Caymmi (1941). A música chega a ser finalista do 1º Festival Internacional da Canção.
Na mesma década, ingressa no curso de design da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde assiste às aulas do poeta e ensaísta Décio Pignatari (1927-2012) e do jornalista e escritor Zuenir Ventura (1931), referências importantes para sua escrita.
Em 1968, Nelson assume a coluna Roda Viva, do jornal carioca Última Hora. Uma de suas importantes contribuições é a publicação da crônica Cruzada Tropicalista, em fevereiro do mesmo ano, considerada uma das primeiras aparições do termo “tropicalismo” na imprensa nacional. Sua publicação antecede o lançamento do disco-manifesto Tropicália ou Panis Et Circencis1 (1968), momento de consolidação mais objetiva dessa estética emergente, já visível em outras obras desde 1967. O texto de Nelson Motta é ilustrado com uma foto do cantor Vicente Celestino (1894-1968), considerado de mau gosto pela classe média intelectualizada do período, porém reivindicado como referência pelos tropicalistas em seu movimento de valorização da cultura popular regional.
Na década de 1970, torna-se diretor artístico de grandes gravadoras, como Warner Music e Polygram, e assume a produção musical de importantes nomes da MPB, como as cantoras Elis Regina (1945-1982) e Gal Costa (1945). Influencia as gerações seguintes ao lançar nomes consagrados da MPB, como Marisa Monte (1967).
Ainda na década de 1970, Nelson produz e apresenta o programa Sábado Som na Rede Globo. Com shows de artistas e bandas inovadoras como David Bowie (1947-2016) e Pink Floyd, contribui significativamente para a difusão do rock estrangeiro no Brasil. Em 1976, estimula a popularização do rock nacional ao produzir o Festival de Saquarema, nos moldes do antológico evento norte-americano Woodstock (1969). Na praia de Saquarema, no Rio de Janeiro, aproximadamente 25 mil jovens formam o público de cantores como Raul Seixas (1945-1989), Rita Lee (1947) e Angela Rô Rô (1949).
Como prova de sua surpreendente versatilidade, no mesmo ano, Nelson Motta inaugura a discoteca Frenetic Dancin’ Days. Como atração do estabelecimento, idealiza o sexteto feminino As Frenéticas. Inicialmente contratadas como garçonetes que fariam pequenos shows ao longo da noite, As Frenéticas lançam discos de sucesso nacional e chegam a inspirar uma novela da Rede Globo em 1978. A obra ficcional se chama Dancin’ Days e tem na abertura uma canção homônima de Nelson Motta. É uma de suas composições de maior sucesso comercial. Em 1985, é um dos idealizadores do seriado Armação Ilimitada, pensado para o público adolescente, com linguagem pop próxima a do videoclipe.
Autor de mais de 14 livros, Nelson transita por diferentes gêneros e formatos. Contos, romances, biografias, crônicas, longas reportagens e textos híbridos entre elaborações ficcionais e testemunhos constituem sua diversificada produção.
Em 2008, lança Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia. Nesse livro, com mais de 300 mil cópias distribuídas, a trajetória do compositor e intérprete Tim Maia (1942-1998) é narrada com base em uma perspectiva afetuosa e aproximada. Nelson Motta inicia a narrativa relatando seu último encontro com Tim, grande amigo desde a década de 1970. Além das contribuições originais do cantor para o campo da música popular brasileira, a biografia destaca seu conhecido senso de humor e sua personalidade excessiva tanto no trabalho como na vida pessoal.
Em seguida, publica Força Estranha (2009). A compilação de contos mescla a ficção com memórias de vivências do autor. Seu objetivo é criar um livro divertido, uma literatura pop e de entretenimento, mas capaz de refletir sobre autoria e originalidade. Sua experiência como compositor lhe rende uma consciência rítmica e sonora que busca imprimir em sua escrita literária e jornalística. Suas frases curtas e objetivas proporcionam uma apreensão veloz e cativante dos textos.
Em suas múltiplas atividades, Nelson Motta contribui para a divulgação da cultura pop do Brasil. Transitando entre diferentes campos da produção musical e literária, é capaz de perceber os desdobramentos políticos e comportamentais em torno de diversos grupos de artistas que acompanha em seu trabalho e nos bastidores.
1. O disco Tropicalia ou Panis et Circencis (Philips Records) é lançado em julho de 1968 e reúne músicos como Caetano Veloso (1942), Gilberto Gil (1942), Gal Costa etc. e tem letras de Capinam (1941) e Torquato Neto (1944-1972). Rogério Duprat (1932-2006) é o maestro responsável e a capa é do artista Rubens Gerschman (1942-2008).
Teatro Glaucio Gill
Teatro Glaucio Gill
Teatro Copacabana
Teatro Brigadeiro
Itaú Cultural
PITANGA, Hélio. Nelson Motta idealizou o festival no modelo de Woodstock. [Entrevista cedida a] Marcelo Abreu. Revista Continente, Recife, 11 fev. 2009. Disponível em: http://www.revistacontinente.com.br/secoes/entrevista/-nelson-motta-idealizou-o-festival-no-modelo-de-woodstock-.
Acesso em: 12 nov. 2020.
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