Título da obra: Sem Título


Iara Venanzi/Itaú Cultural
Sem Título
,
1954
,
Ademar Manarini
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural
Ademar Heitor Manarini (Campinas, São Paulo, 1920 – São Paulo, São Paulo, 1989). Fotógrafo, industrial. Premiado em concurso oferecido pela Companhia Melhoramentos no fim da década de 1940, Manarini aprofunda seu interesse pela fotografia na década seguinte. Associa-se ao Foto Cine Clube Bandeirantes (1939), centro da fotografia experimental que promove panorama da produção da fotografia local e mundial por meio de publicações como a Revista Boletim do Foto Cine Clube Bandeirante (1946-1981), editada em São Paulo.
Nos anos 1950, filia-se ao movimento Escola Paulista, cujo interesse é a pesquisa geométrica na formação das imagens e a decodificação do processo fotográfico. Em 1953, como integrante do grupo Ruptura, coordenado por Waldemar Cordeiro (1925-1973), participa da 2a Bienal Internacional de São Paulo, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Nesse mesmo ano, na Argentina, recebe por sua obra fotográfica o prêmio Homenagem a Alejandro C. Del Conte. Em 1954, seus trabalhos são expostos pela pela primeira vez em uma mostra individual no MAM/SP, organizada em colaboração com o Foto Cine Clube Bandeirante.
Em 1960, funda com o pai a empresa Equipesca, precursora na pesquisa de matérias-primas e tecnologia na confecção de redes para a indústria pesqueira. O logotipo da empresa é desenvolvido em 1957 pelo colega do Grupo Ruptura, Alexandre Wollner (1928). A partir de 1962, Manarini passa a viver em Campinas, onde funda, em 1970, a empresa Equilab, pioneira no desenvolvimento de culturas de orquídeas por micropropagação a partir de biotecnologia vegetal.
Em 1985, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS/SP) organiza a retrospectiva Manarini, 35 Anos de Fotografia. Em 1989, recebe o título de sócio-honorário do Foto Cine Bandeirante e, na década de 1990, o designer e professor universitário Freddy van Camp (1946) organiza textos críticos no livro Ademar Manarini: fotografia (1992).
Antes dos anos 1950, a tradição fotográfica no Brasil organiza-se em duas grandes vertentes: a foto documental, que registra a informação histórica das transformações sofridas pelas cidades, e o pictorialismo, que pretende aproximar a fotografia das artes, especialmente da pintura.
O trabalho de Ademar Manarini deve ser percebido no contexto dos fotoclubes, associações organizadas para a divulgação de fotografia em termos técnicos e subjetivos. Organizam cursos, palestras, salões, exposições e concursos, além de editar revistas. O Foto Cine Clube Bandeirante (FCBB) é um dos mais antigos, fundado em 1939, em São Paulo, com atuação reconhecida na formação dos fotógrafos chamados “modernos”. Ele abriga a Escola Paulista, denominação da crítica da época para o grupo de fotógrafos foto clubistas a que Manarini associa-se a partir de 1952.
Profissionais liberais adotam a fotografia como modo de expressão artística. Empresário com sólida formação e repertório cultural, Manarini é um dos pioneiros do Foto Cine Clube Bandeirante com outros fotógrafos de áreas variadas. Entre eles, o engenheiro José Oiticica Filho (1906-1964), o bacharel em contabilidade German Lorca (1922), engenheiro civil José Yalenti (1895-1967) e o advogado Eduardo Salvatore (1914-2006).
A estreita relação entre o Foto Cine Clube Bandeirante e os museus paulistas possibilita que artistas veiculem seus trabalhos em exposições. Em 1953, Manarini participa com alguns trabalhos na Mostra Especial de Fotografias da 2a Bienal Internacional de São Paulo. O diretor da Bienal, Wolfgang Pfeiffer (1912-2003), escreve sobre a estranheza que as fotos causam no público: “o espírito de modernidade, até com a apresentação de formas absolutas, sem muito comprometimento com o público, que até então não estava habituado à leitura de obras desse tipo”1.
Os fotógrafos da Escola Paulista interessam-se pela construção geométrica na composição de suas imagens, que se intensifica em experimentações formais e intervenções no processo laboratorial. Renovam conceitos de estilo, composição e temática – além da geometria-abstrata, incluem as transformações percebidas no espaço público da cidade. Manarini adota como fundamental referência para as questões técnicas a obra Fotoformas (1940-1950), de Geraldo de Barros (1923-1998). Neste trabalho, o artista usa a técnica de alocar objetos reais no fotograma no momento em que o filme fotográfico é sensibilizado no laboratório. Essas interferências fazem a fotografia prescindir do registro de uma cena – ela é construída a partir da ação do artista no material fotográfico. A multiexposição do negativo também é recorrente na obra de Manarini, que pausa suas atividades artísticas durante a meados da década de 1970 para retomá-las quinze anos depois, em série que investiga as formas orgânicas das plantas, em especial as orquídeas, interesse também refletido nos negócios.
Ademar Manarini produz mais de 5 mil imagens. Uma seleção de seus trabalhos é adquirida em 2016 pelo Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, e faz parte do acervo Itaú Cultural.
Nota
1 PFEIFFER, Wolfgang. Apresentação. In: CAMP, Freddy Van (Org.). Ademar Manarini: fotografia. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1992, p. 3.
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural
Iara Venanzi/Itaú Cultural
Itaú Cultural (Campinas, SP)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Galeria Bergamin & Gomide
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs)
Centro de Arte Contemporânea e Fotografia (Belo Horizonte, MG)
Museu do Estado do Pará (Belém, PA)
Museo del Barro (Assunção, Paraguai)
Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP)
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP)
Itaú Cultural
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas (Belém, PA)
Oca (São Paulo, SP)
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: