Título da obra: Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira e a transformação dos meios de vida

Antonio Candido
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1992
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Guilherme Maranhão
Reprodução fotográfica Guilherme Maranhão
Não frequenta a escola primária. Educado em casa, toma as primeiras lições com a mãe Clarisse de Mello e Souza. Muda-se ainda criança para Poços de Caldas, Minas Gerais, cidade de sua família. Conclui o ensino secundário em 1935, no Ginásio Estadual de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. Faz o curso complementar no Colégio Universitário da Universidade de São Paulo (USP), entre 1937 e 1938. Neste período, participa da União Democrática Socialista (UDS) ao lado do crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977). Milita contra o Estado Novo (1937-1946) de Getúlio Vargas (1882-1954), em grupos clandestinos como o Grupo Radical de Ação Popular.
Em 1939, ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e no curso de ciências sociais da USP. Em 1941, Antonio Candido é convidado por Alfredo Mesquita (1907-1986) e Décio de Almeida Prado (1917-2000) para colaborar com a revista Clima, ao lado de intelectuais como Paulo Emílio Salles Gomes, a ensaísta Gilda de Mello e Souza (1919-2005) e o neurocientista Antonio Branco Lefévre (1916-1981). De cunho acadêmico, a revista marca e difunde os novos caminhos da crítica paulistana.
Abandona o direito no quinto ano e conclui o bacharelado e a licenciatura em ciências sociais, em 1942. Nesse ano, torna-se docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências (FFLC/USP)1 como assistente de sociologia do professor Fernando de Azevedo (1894-1974). Obtém título de livre docente com a tese Introdução ao Método Crítico de Silvio Romero, apresentada em concurso para a cadeira de literatura brasileira em 1945. Em 1954, obtém a titulação de doutor em ciências sociais com a tese Os Parceiros do Rio Bonito, publicada em 1964.
Em 1956, idealiza o Suplemento Literário, caderno de crítica que circula anexo ao jornal O Estado de S. Paulo, até 1966. A publicação é um marco do pensamento crítico brasileiro, com participação de grupo variado de colaboradores como Paulo Emílio Salles Gomes, o crítico literário Wilson Martins (1921-2010), além do próprio Antonio Candido. Esse periódico traz as particularidades da crítica paulista, ligada aos estudos acadêmicos da Universidade de São Paulo (USP), responsável pelo dinamismo de ideias e efervescência de novos caminhos para as artes e estudos sociais da época.
Em 1958, desliga-se da cadeira de sociologia da FFLC/USP e passa a lecionar literatura brasileira na Faculdade de Filosofia de Assis, interior de São Paulo, onde permanece até 1960.
Em 1959, lança sua obra mais influente, Formação da Literatura Brasileira, na qual estuda a formação do sistema literário brasileiro. Candido escreve no capítulo "Traços gerais": "O momento decisivo em que as manifestações literárias vão adquirir, no Brasil, características orgânicas de um sistema é marcado por três correntes principais de gosto e pensamento: o neoclassicismo, a ilustração, o arcadismo"2.
O lançamento de duas obras no mesmo período evidenciam a interdisciplinaridade na obra do autor. Por um lado, Os Parceiros do Rio Bonito propõe uma interpretação da formação social brasileira por meio do estudo do caipira, um dos tipos de homem rural brasileiro, como define o próprio Antonio Candido; de outro, Formação da Literatura Brasileira traça uma historiografia da produção literária nacional concomitante à primeira.
Antonio Candido, portanto, antecipa uma metodologia que só será amplamente utilizada na crítica nacional anos mais tarde - a interdisciplinaridade -, para entender a literatura como uma das expressões de nossa cultura.
De volta à USP, em 1961, assume como professor colaborador a disciplina de teoria literária e literatura comparada. Entre 1964 e 1966, dá aulas de literatura brasileira na Universidade de Paris e, em 1968, atua como professor visitante de literatura brasileira e comparada na Universidade de Yale, Estados Unidos.
Aposenta-se pela USP, em 1978, mas permanece ligado à pós-graduação e à orientação de trabalhos acadêmicos, até 1992. Em 1980, participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) ao lado de outros intelectuais, como Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). Em 1998, em Lisboa, recebe o Prêmio Camões dos governos do Brasil e de Portugal; e, em 2005, o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México.
O autor desenha a literatura como um sistema orgânico de obras que envolvem a tríade autor-obra-público. Para além disso, o aspecto da literatura que Antonio Candido evidencia é a função humanizadora. Mais do que uma projeção do homem, a literatura é uma expressão de suas necessidades universais: a ficção e a fantasia expressam o desejo natural do homem pela fabulação, produzida com base na realidade, em paisagens conhecidas e em experiências de vida.
Antonio Candido, ao lado do grupo de amigos intelectuais que revolucionam a crítica brasileira, destaca-se na interdisciplinaridade de seus estudos, evidenciando aspectos da cultura brasileira que se encontram na literatura e são objetos de estudos das ciências sociais.
Notas
1. Em 1969, a então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) passa a se chamar Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
2. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 7. ed. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Itatiaia, 1993, v. 1, p. 41.
Registro fotográfico Ana Luísa Escorel
Reprodução fotográfica Guilherme Maranhão
Teatro Brasileiro de Comédia (TBC)
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