Título da obra: Poemas e Canções


Reprodução Fotográfica Horst Merkel
Poemas e Canções
,
1908
,
Vicente de Carvalho
Reprodução Fotográfica Horst Merkel
Biografia
Vicente Augusto de Carvalho (Santos SP, 1866 - idem, 1924). Poeta, contista, jornalista e juiz de direito. Revela interesse precoce pela poesia, escrevendo os primeiros versos aos 8 anos. Ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo aos 16 anos, formando-se em 1886, um ano depois da publicação de Ardentias, a estreia em livro. Colabora para os jornais O Patriota, A Ideia Nova, Piratini, O Correio da Manhã e A Tribuna, sustentando ideais republicanos e abolicionistas.
Eleito membro do Diretório Republicano de Santos SP, participa da Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara - a situação será mote para o poema épico "Fugindo ao cativeiro", publicado em 1908 em Poemas e Canções, título com que se notabiliza. Em 1889 é redator do Diário de Santos e funda o Diário da Manhã em Santos. Eleito deputado em 1891, participa da Comissão Redatora da Constituinte. Abandona a carreira política em 1892, após demitir-se do cargo de secretário do Interior do Estado.
Entre 1894 e 1913 colabora em O Estado de S. Paulo sob o pseudônimo de João d'Amaia. De volta a Santos desde 1901, exerce a advocacia, funda O Jornal em 1905 e colabora para a Revista dos Educadores em 1912. É eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1909. No período de 1914 a 1920 atua como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, em Santos. Tendo já publicado verso e prosa, em 1924 lança Luizinha, comédia em dois atos.
Comentário Crítico
Reconhecido principalmente como poeta, Vicente de Carvalho é ora identificado como o quarto maior parnasiano brasileiro - atrás de Olavo Bilac (1865 - 1918), Raimundo Correia (1859 - 1911) e Alberto de Oliveira (1857 - 1937) -, ora considerado um parnasiano atípico. Seus versos dedicam-se a temas como o amor, a morte e a natureza, em especial o mar.
Ardentias (1885), o primeiro livro, descreve a mulher amada em diferentes situações: "Adormecida", é uma "angélica figura"; de passagem, perturba, nos dizeres do poeta, "toda minha'alma de louco". O arroubo romântico, notável nos dois exemplos, é contido pelas formas poéticas fixas: no soneto ou na canção, o poeta trabalha rigorosamente a métrica e o esquema de rimas.
O intertexto com o passado poético está igualmente nos horizontes do autor. Um soneto de "Velho tema", conjunto incluído em Poemas e Canções (1908), inicia-se com o verso "Eu cantarei de amor tão fortemente", relembrando o "Eu cantarei de amor tão fortemente" do poeta quinhentista Luís de Camões.
Já os ecos da poesia oral se fazem presentes em recursos de repetição empregados com destreza, conforme exemplifica o refrão do primeiro fragmento de "Arte de amar". A variação do verso "O que fui, o que fiz" ao fim de cada estrofe ("No que fui, no que fiz", "No que fui - o que fiz") proporciona diferentes sentidos a partir de modificações mínimas. As imagens criadas pelo poeta prezam a clareza e a capacidade plástica, sem obscurecer o sentido do poema. Diante do mar, afirma: "[...] A minha vida é como as praias,/ E o sonho morre como as ondas voltam!". Já o solo é assim descrito: "Na sombra em confusão do mato farfalhante/ Tumultuando, o chão corre às soltas, sem rumo".
Os temas sociais tampouco lhe escaparam: a escravidão surge em "Fugindo ao cativeiro"; em "A voz do sino" o eu lírico se compadece ao observar que "Na roça a miséria é tanta?". Essas preocupações, somadas ao sentimentalismo evidente, são o que tornam problemática a plena identificação de Vicente de Carvalho ao Parnasianismo.
Reprodução Fotográfica Horst Merkel
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