Orlando Azevedo

Marinhas, 1992
Orlando Azevedo
Matriz - positivo
Texto
Orlando Manuel Monteiro de Azevedo (Ilha Terceira dos Açores, Portugal, 1949). Fotógrafo, curador, editor. Dedica-se à fotografia autoral marcadamente em expedições exploratórias que captam flagrantes da paisagem natural e humana com seu olhar atento e lírico e suas imagens se desdobram em exposições e publicações.
Na infância conhece a fotografia documental ao acessar a coleção da família da revista National Geographic. Aos 9 anos ganha sua primeira câmera fotográfica com a qual inicia experimentos. Passa a residir com a família no Brasil, fixando-se em Curitiba a partir de 1962. Nessa época, realiza por correspondência um curso de fotografia no Instituto Universal Brasileiro. Aos 19 anos inicia suas atividades profissionais quando retorna a Portugal por um breve período como repórter fotográfico para as Revistas Azem Lisboa e Quatro Estações.
Entre 1969 e 1979 é o baterista da banda de rock A Chave, cujas letras contavam com a frequente colaboração do poeta paranaense Paulo Leminski (1944-1989). A circulação internacional de Orlando contribui para trazer referências e influências da cena musical de vanguarda da época, e a banda é cultuada como precursora do rock curitibano. Em 1980 forma-se em direito na Faculdade de Direito de Curitiba e, nessa década, com a fotógrafa Vilma Slomp (1952) funda uma agência fotográfica e editora, que organiza suas atividades para publicidade e imprensa, onde continua atuando como repórter fotográfico, publicando matérias especiais e entrevistas.
Em paralelo a esses trabalhos, conduz sua carreira autoral. Seu projeto de livro sobre a fábrica têxtil Venske, de 1987, é uma investigação visual e poética nas extensas instalações abandonadas da fábrica – que é referência por sua história e pelo fato de que anos depois de sua desativação, viria a se tornar um importante pólo cultural de Curitiba. A mostra Fitas e Bandeiras Venske acontece no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) em São Paulo no ano seguinte e as fotos apresentam a dicotomia entre o permanente rigor formal do maquinário e mobiliário, em contraste com objetos abandonados que aludem à memória de épocas de vigor produtivo. Em carretéis ou bobinas, linhas coloridas aparecem organizadas ou esticadas em teares, ou ainda se vê o registro de exemplares de bandeiras de estados brasileiros penduradas nas vigas de madeira em um dos galpões, produzindo um jogo de vazios, escala e memória.
Entre 1993 a 1996 ocupa a direção de artes visuais da Fundação Cultural de Curitiba, onde concebe e assina a curadoria da 1ª, 2ª e 3ª edição da Bienal Internacional de Fotografia. Como curador e gestor, realiza também a mostra A Revolta (1995), com obras do artista plástico polonês Frans Krajcberg (1921-2017), evento de sucesso no jardim botânico que atrai público de 800 mil visitantes em apenas dois meses. Também funda em 1998 o Museu de Fotografia da Cidade de Curitiba, o primeiro do gênero no País, com acervo de 1500 imagens.
Seu projeto autoral de maior envergadura é a Expedição Coração do Brasil que começa em abril de 1999 e termina em julho de 2002. Percorre 70 mil quilômetros, em estradas alternativas, retratando a paisagem e os moradores de diferentes regiões. O nome faz referência a semelhança que enxerga entre o formato do mapa do Brasil e um coração, além de apontar para o objetivo da missão que é registrar a fundo o território brasileiro. A jornada dá origem a publicação da trilogia Homem, Terra e Mito, e exposições no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS) e no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro.
Outras três expedições subsequentes são realizadas. Entre 2005 e 2006 percorre mais de 20 mil quilômetros e gera livro e mostra chamados Coração do Paraná no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba; em 2011 a expedição Paranaguá, Lagamar, documenta a cultura caiçara na região entre Guaraqueçaba no Paraná e Iguape-Cananéia em São Paulo; e em 2014 retorna à sua terra natal para a expedição Arquipélago dos Açores.
Inspirado pelos fotógrafos da agência Magnum como Henri-Cartier Bresson, a obra de Orlando Azevedo prioriza paisagens e retratos em preto e branco com grande apuro técnico. Identifica um entrelaçamento entre poesia, música e fotografia, e procura, no momento do enquadramento da foto, a captura de emoções que suscitam uma narrativa lírica e poética.
Atento à questões de memória e conservação, organiza em condições museográficas suas mais de 5 décadas de trabalho que compreendem 160 mil matrizes analógicas em diversos formatos, assim como todos os seus equipamentos fotográficos. Adquire todo o acervo do fotógrafo austríaco Augusto Weiss composto por 3 mil placas de vidro com as imagens da colonização européia no Paraná no final do século 19, entre elas retratos em estúdio, residências e localidades rurais. E Orlando traz à luz esse importante material histórico com a publicação de um livro e a curadoria de uma exposição em 2017, na Casa Romário Martins em Curitiba.
Mesclando lirismo a um profundo conhecimento de técnicas fotográficas, Orlando Azevedo constrói uma carreira em que projetos de grande envergadura geográfica se destacam tanto quanto seu interesse pelo resgate histórico de eventos, lugares e pessoas. Sua diligente e prolífica atuação – seja como criador, editor, curador e agitador cultural – contribui para ampliar a divulgação, circulação e a história da fotografia no Brasil.
Obras 10
Francisco Koloceak - Polonês de Varsóvia - Agricultor
Marco Beat Swarcz - Suíço Primatólogo
Marinhas
Marinhas
Marinhas
Exposições 93
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1978 - 1978
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1980 - 1980
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20/11/1981 - 17/12/1981
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Feiras de arte 1
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20/8/2015 - 23/8/2015
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 16
- A FÁBRICA. História da Fábrica de Fitas e Bandeiras Venske. Disponível em:http://afabrika.com.br/historia-da-fabrika-de-fitas-e-bandeiras-venske/. Acesso: 15 ago. 2021.
- ARAÚJO, Bento. A história da banda A Chave. Poeira Zine. 2 fev. de 2015. Disponível em: https://www.poeirazine.com.br/a-historia-da-banda-a-chave/. Acesso em: Acesso: 15 ago. 2021.
- AZEVEDO, Orlando. Expedição Coração do Brasil - Homem. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002.
- AZEVEDO, Orlando. Expedição Coração do Brasil - Mito. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002.
- AZEVEDO, Orlando. Expedição Coração do Brasil - Terra. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002.
- AZEVEDO, Orlando. Jardim de Anões. Curitiba: Edição do autor, 1993.
- AZEVEDO, Ricardo José Duff. Fitas e bandeiras Venske. Curitiba: SEEC/ SEIC, 1988.
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- CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 3. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1993.
- CURITIBA recebe mostra inédita de fotos de Augusto Weiss. Bem Pará. 26 set. 2017. Disponível em: https://www.bemparana.com.br/noticia/curitiba-recebe-mostra-inedita-de-fotos-de-augusto-weiss#.YR1xay2Eri0. Acesso em: 15 jun. 2021.
- Curitiba recebe mostra inédita. Revista Use, Curitiba. 19 set. 2017. Disponível em: http://www.revistause.com.br/curitiba-recebe-mostra-inedita-de-fotografias-acervo-de-augusto-weiss-com-curadoria-de-orlando-azevedo/. Acesso em: 15 jun. 2021.
- CÂMERA Velha. Bate Papo com Orlando Azevedo. Parte 2. 7 jun. 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-JKFoirGEjw. Acesso em: 15 jun. 2021.
- ENXERGANDO o planeta: Orlando Azevedo. IrisFoto, São Paulo, ano 45, p. 451, p. 64, jan. /fev. 1992. Edição de Aniversário.
- ORLANDO Azevedo. IrisFoto, São Paulo, ano 46, n. 460, n. p. , jan. /fev. 1993.
- PAIVA, Joaquim (org.). Visões e alumbramentos: fotografia brasileira contemporânea na coleção Joaquim Paiva. Versão em inglês Katica Szabó, Laura Ferrari. São Paulo: BrasilConnects Cultura & Ecologia, 2002.
- TV Sinal Paraná. Essa Casa tem História - Fábrica de Fitas Venske (Bloco 2). Publicado em 27 de out. 2010. Disponível em: https://youtu.be/ESU8WkZ7lPw. Acesso: 15 ago. 2021.
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ORLANDO Azevedo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa27297/orlando-azevedo. Acesso em: 02 de julho de 2022.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7