Título da obra: Studio Butterfly


Registro fotográfico Amilcar Packer
Studio Butterfly
,
2004
,
Virgínia de Medeiros
Registro fotográfico Amilcar Packer
Virgínia de Medeiros (Feira de Santana, Bahia, 1973). Artista visual. Em sua obra, padrões que compõem a imagem social dos indivíduos são expostos e desconstruídos em instalações, fotografias e vídeos que aproximam linguagens documentais e ficcionais.
Inicia sua carreira com experimentações no campo da pintura. Em séries como Catatônica (1995-1998), a figuração, que remete a obras de Gustav Klimt (1862-1918), espelha a paralisia do lugar do feminino na sociedade por meio da ênfase sobre os limites espaciais das figuras. A exploração desse tema direciona sua produção a uma conceituação mais diretamente implicada na tomada de posse física, psíquica e política do próprio corpo, como maneira de libertá-lo dos estereótipos que envolvem a visualidade aceitável dos corpos femininos. Para isso, incorpora fotografias de sua adolescência, mescladas a imagens apropriadas da mídia impressa para discutir a construção social da feminilidade, fazendo uso dos procedimentos técnicos/poéticos da reprodução e repetição, em diálogo com a obra da artista norte-americana Cindy Sherman (1954).
Nesse contexto, as estruturas de concreto pré-moldadas dos dispositivos urbanos chamam sua atenção para as ideias de limite, desgaste, opressão e esvaziamento de sentido, e são conceituadas como símiles dos estereótipos de feminilidade em sua pesquisa de mestrado em artes visuais, realizada pela Universidade Federal da Bahia em 2002. Sobre placas de concreto Virgínia transfere, por meio de processos analógicos de revelação, fotografias de mulheres apropriadas dos meios de comunicação de massa. Na instalação Quem Passar por Cima Verá (2003), o público participa da construção e desconstrução de sentido, pisando sobre as placas, desgastando e negando as imagens nelas impressas.
Desde meados dos anos 2000, sua produção incorpora mais fortemente a dimensão da experiência como construtora e condensadora da imagem. A videoinstalação Studio Butterfly (2006) exibe os registros produzidos ao longo de suas conversas por cerca de um ano e meio com travestis, no estúdio que a artista mantém no centro de Salvador.
Na década seguinte, a narrativa individual marca diversos trabalhos de Virgínia de Medeiros, subvertendo a distância e frieza que podem permear o caráter documental que essas obras tangenciam. A artista utiliza o depoimento, o vídeo e a fotografia para tornar os sujeitos representados também agentes criadores, construindo processos colaborativos de ficcionalização.
Na instalação Fábula do Olhar (2012-2013), além da colaboração com o fotopintor cearense Mestre Júlio Francisco dos Santos (1944), os retratados, pessoas em situação de rua, constróem a imagem pela qual gostariam de ser vistos pela sociedade. As fabulações são concretizadas em fotopinturas digitais, gravações de áudio e depoimentos escritos, coletados em estúdios instalados por Virgínia nas proximidades de refeitórios públicos. Seguindo os pedidos dos retratados, o fotopintor colore digitalmente as fotografias obtidas em preto e branco, acrescentando vestimentas, maquiagens, ornamentos, e assim conferindo uma aparência estranhamente pictórica às fotografias, como os retratos em fotopintura que ainda podem ser vistos no interior do país. As molduras ovais que enquadram os depoimentos, de aparência tão doméstica, contrastam com os diferentes tipos de rupturas da chamada norma social relatados nos textos. A fusão entre imagem e sociabilidade é evidente no desejo de mudar a própria representação como forma de conexão afetiva e inserção social.
Na Ladeira da Montanha, periferia de Salvador, Virgínia conhece a travesti Simone, que se intitula guardiã da Fonte da Misericórdia. O processo de documentação do cotidiano de Simone ganha um surpreendente desfecho quando, após uma experiência mística, associada a uma convulsão por uso de drogas, Simone assume sua anterior identidade masculina, Sérgio, e a função de pastor religioso, e, oito anos mais tarde, concilia as identidades feminina e masculina com a função de pai de santo. O vídeo Sérgio e Simone (2007/2014) incorpora essas identidades conflitantes, evidenciando no corpo do indivíduo as opressões que pesam sobre gênero e religião.
O corpo como lugar de disputa é visível também na intervenção urbana Cais do Corpo (2015), em que imagens de prostitutas, personagens marcantes da região, são projetadas sobre os edifícios da Praça Mauá (RJ).
Da convivência com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Centro (MSTC) resultam trabalhos como a série Guerrilheiras (2017), composta de retratos fotográficos de moradoras da Ocupação Hotel Cambridge e suas ferramentas de luta, e Clamor (2019), conjunto de retratos em vídeo de militantes femininas, sobre o fundo percussivo da musicista Beth Beli (1968).
A produção de Virgínia de Medeiros está repleta de questões relacionadas à imagem social, tanto individual, quanto coletiva. Em seus trabalhos, o olhar sobre o outro é entremeado por diferentes formas de autorrepresentação dos indivíduos retratados, mesclando elementos das linguagens documentais e ficcionais que expõem as formas de construção da imagem na própria dinâmica social.
Registro fotográfico Amilcar Packer
Centro Cultural Dannemann
Centro de Cultura Amélio Amorim (Feira de Santana, Bahia)
Espaço Cafelier (Salvador, BA)
Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA)
Farol Santander Porto Alegre
Itaú Cultural
Paço Imperial
Museu de Arte Contemporânea (Fortaleza, CE)
Fundação Bienal de São Paulo
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Paço das Artes
Instituto Cervantes (São Paulo, SP)
Museu de Arte Contemporânea (Fortaleza, CE)
Oi Futuro
Santander Cultural (São Paulo, SP)
Caixa Cultural Rio
Casa Triângulo
Fundação Romulo Maiorana (Belém, PA)
USF Contemporary Art Museum
Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul – MARCO
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: