Título da obra: Marilena Ansaldi (Maria) em cena de Fundo de Olho


Registro fotográfico Ruth Toledo
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional
Maria Helena Ansaldi (São Paulo, São Paulo, 1934 – idem, 2021). Atriz e coreógrafa. Pioneira na criação de espetáculos que unem dança, teatro e recursos multimídia, a intérprete-criadora é precursora da dança-teatro no Brasil.
Filha do barítono italiano Paulo Ansaldi e da corista Maria Nazareth da Silva, desde pequena ambiciona ser bailarina, mas a resistência paterna a obriga a postergar a iniciação e, apenas em 1951, entra para a Escola Municipal de Bailado como aluna regular. Em 1952, já chama a atenção com uma dança oriental na ópera Thais e, no ano seguinte, passa à primeira bailarina, quando interpreta solos especialmente criados para ela. Em 1958, afastada da Escola por divergências internas, vê-se obrigada a trabalhar em boates, mas é readmitida e passa a dançar todo o repertório do Corpo de Baile do Teatro Municipal de SãoPaulo.
Em 1962 participa do Festival da Juventude em Helsinki, na Finlândia, e segue viagem à Rússia, onde obtém bolsa de estudos no Balé Bolshoi. Em 1964 interpreta Zarema, um dos papéis principais da ópera A Fonte, de Baychisaray, e é cumprimentada pelo dirigente soviético Nikita Kruschev (1894-1971), que assiste ao espetáculo.
Volta para o Brasil em 1965, inicia atividades no campo da coreografia e participa de espetáculos de balé moderno dirigidos pela coreógrafa francesa René Gumiel (1913-2006). Em 1966 cria o Balé de Câmara, com Victor Austin, Peter Hayden e Márika Gidali. Como primeiro trabalho do grupo, elabora a coreografia baseada na obra Vestido de Noiva (1943), do escritor Nelson Rodrigues (1912-1980). A partir de 1968, é uma das diretoras da Sociedade Ballet de São Paulo, e cria coreografias sobre as obras A Casa de Bernarda Alba (1945), do dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936), em 1968, e Maria Stuart (1800), do alemão Friedrich Schiller (1759-1805), em 1969.
Lança-se à criação de um espetáculo solo, inspirada em texto que escreve em um momento de crise, Isso ou Aquilo (1975). O diretor israelense Iacov Hillel (1949-2020) ensaia com base na improvisação, tentando encontrar formas para as imagens do roteiro, que trata da libertação das amarras do balé clássico e da procura de uma nova forma de expressão. Isso ou Aquilo estreia no Espaço Galpão, obtém êxito de público e crítica e conquista os prêmios Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA); Molière e Governador do Estado de São Paulo em 1975. Dois anos depois, é apresentado na Itália, na Alemanha e no Festival de Nancy, na França.
Em sua autobiografia, Atos (1994), Marilena descreve: "Escrevi alguma coisa, um texto que falava do que eu havia deixado de ser, do que eu não sabia se poderia ser e das coisas que me amarravam e das quais precisaria me libertar. Vi que aquilo já nascia em forma de roteiro, o esboço de um espetáculo. No dia seguinte, comecei a retrabalhar o texto, com a plena consciência de que estava tentando projetar um espetáculo teatral. Basicamente, era um roteiro visual, com descrição de imagens1.
Seguem-se espetáculos nos quais Ansaldi produz, cria e interpreta com base em roteiro inspirado em outros autores. Um dos maiores sucessos da década de 1970, Escuta, Zé! (1977), parte do livro do psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), modificado nos ensaios, com a inclusão de depoimentos pessoais dos atores/bailarinos, sob a direção de Celso Nunes (1941). Em 1979 cria Um Sopro de Vida, direção de José Possi Neto (1947), baseado na obra de Clarice Lispector (1920-1977), escritora que volta a inspirá-la em 1989, com A Paixão Segundo G.H., dirigido por Cibele Forjaz (1966).
No autobiográfico Jogo de Cintura (1982), a atriz-criadora conta sua vida entremeada por trechos de seus espetáculos. Em Se (1983), com direção de Roberto Galizia (1952-1985), integrante do Teatro do Ornitorrinco, aborda a condição da mulher, questionando ideias feministas. Em 1987 interpreta um texto teatral, Hamletmachine, do dramaturgo alemão Heiner Müller (1929-1995), com direção de Marcio Aurelio (1948), e, em 1991, com Clitemnestra, da escritora belga Marguerite Yourcenar (1903-1987), aposta no talento do então iniciante diretor Antônio Araújo (1966), consagrado por seu trabalho à frente do Teatro da Vertigem.
Marilena também coreografa espetáculos teatrais, como A Viagem (1972), com direção de Celso Nunes. Participa como atriz das produções da TV Globo Rabo de Saia (1995), com direção de Walter Avancini (1935-2001), e da regravação da novela Selva de Pedra (1986).
Em sua autobiografia, Marilena declara: "Tudo o que construo no teatro me chega através da música. A cor, o espaço e o próprio texto são ditados por uma inspiração musical. E cada música gera sua própria imagem"2.
Marilena Ansaldi é uma artista inconfundível por sua presença cênica, corpo em que dança e teatralidade fundem-se numa expressão dramática própria, que dota suas interpretações de forte impacto emocional, apesar do desenho milimétrico e coreografado de seus movimentos.
1. ANSALDI, Marilena. Atos. São Paulo: Maltese, 1994. p. 153.
2. Ibid. p. 15.
Registro fotográfico Ruth Toledo
Teatro Cacilda Becker
Teatro Galpão (Vitória, ES)
Teatro Galpão
Teatro Galpão
Teatro Galpão
Teatro Galpão
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