Título da obra: Rua Dom Manuel


Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Largo da Lapa
,
1910
,
Gustavo Dall´Ara
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Biografia
Gustavo Giovanni Dall'Ara (Rovigo, Itália 1865 - Vargem Alegre RJ 1923). Pintor, ilustrador, decorador. Em 1881, é aceito no curso preparatório à Accademia di Belle Arti di Venezia [Academia de Belas Artes de Veneza], Itália, que frequenta regularmente até 1883, e é aluno de Franco Dall'Andrea. Em Veneza, conhece os pintores Luigi Nono, Ettore Tito e Beppe Ciardi e trabalha como desenhista e caricaturista do periódico Sior Tonin Bonagrazia em 1889. No ano seguinte viaja para o Brasil e fixa residência no Rio de Janeiro. É convidado a exercer o cargo de diretor artístico, desenhista e caricaturista do semanário Vida Fluminense. Entre 1893 e 1895, integra a comissão de estudo dirigida pelo engenheiro Aarão Reis, encarregada pelo governo da província de Minas Gerais de planejar e construir a nova capital da província, em Arraial do Curral d´El Rei, atual Belo Horizonte. Realiza, em 1904, pinturas decorativas em uma das salas da Vila Itararé, em Petrópolis, Rio de Janeiro. O historiador Laudelino Freire dedica um fascículo à biografia de Dall'Ara na obra Galeria Histórica dos Pintores, trazendo informações em sua maior parte relatadas pelo próprio artista. Em 1986, é publicado o livro Gustavo Dall´Ara, de autoria de Ronaldo do Valle Simões, Sandra Quintella e Umberto Cosentino, pela editora Winston.
Comentário crítico
Gustavo Dall'Ara é conhecido como o "pintor da cidade do Rio de Janeiro". De fato, a parte mais significativa de sua obra é composta de retratos da cidade, de suas paisagens, seus habitantes e, sobretudo, das transformações pelas quais o Rio de Janeiro passa no início do século XX. Sua pintura alterna o realismo de cores fortes - não faltam, portanto, céus azuis, lavadeiras carregando montes de roupas coloridas, habitantes trajando roupas de cores vivas e paisagens tropicais cenográficas, elementos que Dall'Ara retrata com grande verossimilhança - e a influência impressionista, quando o artista abre mão das formas mais definidas para mostrar, por exemplo, o efeito ótico da chuva ou de uma situação de pouca luminosidade. Em muitos casos, deixa transparecer um certo olhar estrangeiro sobre o Brasil, e seu interesse aí não é o de registro histórico, como seria se a intenção fosse mesmo realizar a crônica pictográfica de uma época, e sim o registro do inusitado: a chegada do carro a uma sociedade atrasada, o último tílburi1 a circular nas ruas etc. Como o efeito esperado por Dall'Ara, imagina-se, é o de exaltação ao país e suas virtudes (tanto naturais como as do progresso), cria-se um interessante jogo duplo, em que a vontade de mostrar a beleza natural de seu segundo país - o artista naturaliza-se brasileiro em 1910 -, acaba revelando o eterno gosto do estrangeiro por retratar os contrastes da sociedade arcaica que se vê diante da modernidade. Paradoxalmente, é justo desse contraste que vem a força de sua pintura.
O que distingue o trabalho de Dall'Ara é a criação de um Rio de Janeiro próprio. Embora a maioria dos retratos seja de cenas públicas, o universo carioca é mostrado por um recorte particular, que privilegia uma espécie de crônica da inserção do indivíduo e da sociedade em um novo estágio do progresso. É o caso, por exemplo, do quadro Automóvel e Bonde, pintado na década de 1910. A cena se passa no largo São Francisco, e mostra um automóvel estacionado (com o chofer apoiado na porta) e, ao fundo, um bonde. Vale lembrar que o largo São Francisco é ponto de partida tradicional dos tílburis. As mulheres que circulam pelo quadro vestem roupas e chapéus luxuosos e o garoto ao lado de uma delas, um uniforme de marinheiro. É o Rio de Janeiro se tornando uma metrópole, aderindo em massa a padrões e costumes europeus - o que explica ser o carro encarado de maneira tão natural pelos passantes. De fato, se o cenário e a arquitetura não são tão característicos, pode-se imaginar que a obra retrata Paris, e não o Rio de Janeiro. O mesmo movimento de traçar um paralelo entre o passado e o futuro acontece na pintura O Último Tilbury, de 1918. O quadro mostra um tílburi, um dos poucos ainda em circulação, parado na rua, o cavalo aparentando sinais de cansaço e até derrota. Apesar da nostalgia de um Rio de Janeiro mais provinciano, a cena é mais um registro histórico-afetivo do que uma crítica aos efeitos da modernidade.
Num trabalho quase etnográfico, o artista registra os tipos que compõem a cidade - madames, lavadeiras, cavalheiros, ambulantes - e também sua arquitetura, ruas, praças e vegetação. Em Casario em Santa Teresa, 1907, por exemplo, na encosta do morro há aglomeração de casas típicas da época e, ao fundo, uma floresta tropical. A atenção aos detalhes confere à obra de Dall'Ara estatura de importante documento do panorama visual e de costumes do início do século XX. Do retrato de uma lavadeira carregando uma pilha de roupas aos arcos da Lapa, passando por portos, parques e cenas do interior, Dall'Ara sabe capturar os instantâneos da cidade que o acolhe, e sabe também gravá-los quase como se os congelasse em movimento. Apesar de sua técnica pouco inovadora, fica o registro de uma época e um lugar.
Nota
1 Espécie de charrete puxada a cavalo que funciona como transporte de aluguel
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Hemrique Sodré
Reprodução Fotográfica Eduardo Castanho/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfico Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica Henrique Sodré
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Biblioteca Estadual da Guanabara (Rio de Janeiro, RJ)
Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_)
Fundação Bienal de São Paulo
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