Título da obra: Retrato do Barão de Irapuá


Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Retrato do Barão de Irapuá
,
ca. 1850
,
Barandier
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
(Claude) Joseph Barandier (Chambéry, Saboia, França ca. 1807- São Paulo, São Paulo, 1877). Pintor, decorador, professor. Inicia estudos com o professor de desenho e diretor da École de Peinture de Chambéry, Pierre-Emmanuel Moreau (1766-1833), que por sua vez fora aluno de Jacques-Louis David (1748-1825). Há indícios de que também tenha frequentado aulas do pintor Horace Vernet (1789-1863) em Paris entre 1828 e 1830. Recebe premiação da Academia Albertina em Turim em 1829. Realiza pinturas para igrejas em Saboia em 1833. Chega ao Brasil em 1838 a bordo do navio L’Orsan. Sua pintura é apreciada pela nobreza e Barandier torna-se frequentador do Paço Imperial. Participa das Exposições Gerais de Belas Artes (EGBA) da Academia Imperial (Aiba), desde sua primeira edição em 1840, quando exibe os quadros Morte de Camões (1840), Retrato do Cônego Januário da Cunha Barbosa e outras duas pinturas. Tais obras lhe garantem a condecoração de Cavaleiro da Ordem da Rosa, concedida pelo Império. Em 1845 exibe a pintura A Filha de Jefté. Pinta um retrato de dom Pedro I, inaugurado em 1859 na Associação Comercial da Bahia em um grande baile com a presença do Imperador. Transfere-se para São Paulo e em 1860 remete para a EGBA os quadros Costumes do Interior de São Paulo e uma paisagem. Realiza retratos para alta sociedade local. Chega a Campinas em 1864, por indicação do presidente da Província de São Paulo, e oferece a execução de uma série de quadros bíblicos para a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição de Campinas. Em torno de 1864 viaja para Roma e outras cidades europeias, em acordo com o diretório da Catedral, com o objetivo de buscar inspiração para a série de quadros. Traz as telas esboçadas em 1866. No ano seguinte contrata como ajudante o futuro pintor Pedro Alexandrino (1856-1942), com apenas onze anos de idade. Finaliza o trabalho ainda em 1867. Não foram encontradas informações sobre as atividades de Barandier no período entre 1867 e 1877, exceto pelos registros de sua passagem por Saboia para o casamento de sua filha em 1876. Retorna à capital paulista, onde falece em 1877.
Claude Barandier ganha notoriedade no Brasil como hábil retratista, sendo o cromatismo intenso, a correção do desenho e da fatura marcas de sua produção que, somadas ao interesse por aspectos fisionômicos e expressivos do retratado, afirmam a singularidade de suas pinturas, e o tornam um dos retratistas preferidos pela família imperial.
O Retrato do Violinista Joseph Artot (1828) pintado em Paris, apresenta um desenho de proporções anatômicas precisas e pinceladas aveludadas que transitam por diferentes nuances de tons escuros. O quadro Saint Pierre Recevant Les Clés de La Main du Seigneur (1833), pintado para a Igreja de Cognin, Saboia, onde ainda se encontra, representa Jesus entregando as chaves a São Pedro. Configura-se como uma das mais complexas telas do artista, em termos de assunto e variedade de figuras.
Relatos indicam a existência de uma produção de pinturas históricas de Barandier no Brasil. Os quadros Morte de Camões, Cena de Selvagens, A Filha de Jefté e Durante o Massacre das Prisões em Paris no Ano de 1793 são mencionados nos catálogos da Exposição Geral de Belas Artes. Já os retratos de Barandier encontram-se em coleções cariocas, paulistas e baianas, provenientes de famílias ligadas à nobreza. Retratos como o do presidente da Província do Rio de Janeiro João Caldas Viana (s/d) ou o Retrato do Barão de Irapuá (ca. 1850), revelam a proximidade de Barandier aos altos círculos sociais. Sua transferência para São Paulo acompanha a ascensão da economia cafeeira, que abre um novo espaço para encomendas.
O Retrato de Senhora (s/d) pertencente à Pinacoteca do Estado de São Paulo evidencia o esforço do artista em dar tratamento apropriado a cada matéria, como o brilho da madeira envernizada ou a cor profunda do tecido aveludado. Do mesmo modo, a expressão fisionômica se coaduna à posição social de cada personagem.
No Retrato de Dom Afonso, Príncipe Imperial do Brasil (ca. 1845-1847), observamos o empenho do pintor em conferir expressão à figura e a variedade de texturas dos diferentes tecidos. O quadro apresenta uma composição incomum para os retratos do artista, com a inserção de uma vista exterior próxima ao rosto do príncipe, dividindo com este o interesse da cena e conferindo-lhe uma luminosidade cheia de aspectos simbólicos.
O quadro D. Pedro II (1859) representa o imperador em trajes militares, como Chefe da Armada Nacional e Imperial. O tratamento dado às cores opõe tons quentes e frios, como o dourado que ornamenta as vestes e o cabelo, sobreposto ao fundo azul. A luminosidade atua como foco e realça a postura altiva do retratado. Outra característica de seus retratos é a passagem suave entre as luzes altas e baixas da cena, integrando em alguns trechos figura e fundo. Embora utilize cores intensas, a tinta não se sobrepõe ao desenho. A definição da pose é parte fundamental de suas obras, característica que remente à influência neoclássica de sua formação.
Dentre as obras de caráter histórico a série da Via Sacra (1867), pintada para a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição de Campinas, representa o maior empenho do artista neste gênero de pintura, e está entre as últimas obras registradas de Barandier. É composta por seis grandes painéis dedicados aos seguintes episódios que nomeiam as pinturas: Jesus Encontra Sua Mãe (1865-1866), Verônica Limpa a Face de Jesus (1865-1866), Primeira Queda da Cruz (1866), Segunda Queda da Cruz (1866), Terceira Queda da Cruz (1866), Simão de Cirene Ajuda Jesus (1866). A documentação pertencente à Catedral indica que apenas esses episódios foram encomendados ao pintor. Barandier revela nos painéis sua habilidade como retratista, focando as expressões dos personagens, comprimidos no primeiro plano. Explora uma anatomia estilizada que confere maior elegância às figuras. Esse aspecto e a pouca sensualidade do tratamento da pele aumentam a expressão do sofrimento e o caráter intangível dos personagens. Foram produzidas para ocuparem a nave principal da Catedral, entre os altares laterais e permanecem neste espaço até 1969, quando é criado o Museu Arquidiocesano de Campinas.
1 As pesquisas genealógicas de Alain Lecoeur, Marie Thérèse Chambon-Stoclet e os estudos de Maria Elizabete S. Peixoto afirmam que Barandier teria acrescido o nome “Claude” após a vinda para o Brasil. Cf. LECOEUR, Alain; CHAMBON-STOCLET, Marie Thérèse. Sur les traces du peintre savoyard (Claude)-Joseph Barandier. In: Traces d’histoire. Chambéry: Société des Amis du Vieux Chambéry, tome dix-neuvième, 2010.
2 Problemas na construção da Catedral e a mudança de diretoria dificultam o pagamento da obra, cujo processo para recebimento está documentado em arquivo da Catedral. O artista só seria remunerado em 1877, ano de seu falecimento.
3 Três anos depois, o artista baiano João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893) executa uma cópia desta tela para a sala de sessões da Sociedade Montepio dos Artistas da Bahia.
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Academia Imperial de Belas Artes (Aiba)
Academia Imperial de Belas Artes (Aiba)
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Fundação Casa França-Brasil (Rio de Janeiro, RJ)
Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_)
Banco Santander (São Paulo, SP)
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