Título da obra: Miro


Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural
Miro
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s.d.
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Marcel Giró
Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural
Marcel Giró Marsal (Badalona, Catalunha, 1912 – Mirasol, Catalunha, 2011). Fotógrafo. Um dos maiores expoentes da fotografia moderna e da chamada Escola Paulista, Marcel Giró é também um dos principais representantes da fotografia publicitária brasileira dos anos 1950-1970.
Ao deflagrar-se a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Marcel Giró apresenta-se como voluntário ao Exército republicano de sua terra natal para combater a ofensiva do ditador Francisco Franco (1892-1975). Em 1937, porém, decepcionado com os conflitos existentes entre as diferentes forças de esquerda, decide exilar-se, partindo da cidade de Berga, na província de Barcelona, e atravessando os Pirineus até cruzar a fronteira francesa, permanecendo nesse país por quase dois anos.
“Marcel trocou seu carro por um revólver e cruzou os Pirineus a pé. Em sua juventude, era um montanhista experiente e conhecia bem os Pirineus. Ele viveu em diferentes cidades no sul da França, sempre evitando os campos de concentração como Argelès-sur-Mer, onde muitos espanhóis sofreram um terrível confinamento. Trabalhou onde pôde; conta que vendia meias para prostitutas em troca de poder dormir nos bordéis. Finalmente, em 1940, obteve um salvo-conduto e pôde embarcar, creio que em Bordéus, para a Colômbia”.1
Na Colômbia, Marcel Giró abre uma indústria têxtil juntamente com dois colegas. Em 1943, casa-se por procuração com a fotógrafa espanhola Palmira Puig (1912-1979), com quem se instala em São Paulo em 1948.
Marcel Giró começa a fotografar nos anos 1930, tendo por fonte de inspiração as montanhas dos Pirineus de sua terra natal. Suas primeiras paisagens, realizadas entre 1930 e 1936, vão além da captação do visível, evidenciando uma preocupação com a composição, que o fotógrafo explora intensamente a partir de 1950, quando filia-se ao Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB).
O ano de 1950 marca o início da ruptura do isolamento em que se encontra a fotografia brasileira. Fotógrafos ligados ao Foto Cine Clube Bandeirante começam a reivindicá-la enquanto expressão artística, desvinculando-se do pictorialismo, entendido como representação precisa da realidade, em favor de uma fotografia livre.
É nesse contexto que surge a Escola Paulista e, com ela, a fotografia moderna, da qual Marcel Giró é um dos representantes mais expressivos. O artista participa ativamente da busca de uma nova estética e de uma nova linguagem formal marcada pela alteração de perspectivas, pela aproximação de linhas e texturas e pelo contraste de luz e sombras. Não por acaso, esse momento coincide com uma fase de transformações econômicas e sociais profundas no Brasil, em que a cidade de São Paulo, marcada por um acelerado desenvolvimento industrial e urbano, se afirma como capital financeira. A metrópole em crescimento torna-se o foco central de sua produção. Nesse sentido, destacam-se as obras inspiradas pela arquitetura da época, com suas formas orgânicas, impregnadas de uma grande liberdade plástica, tais como as de Oscar Niemeyer (1907-2012) e de Roberto Burle-Marx (1909-1994). No modernismo da Escola Paulista, fotografia e arquitetura tornam-se “uma unidade inseparável e profunda”2, como formula o arquiteto catalão Manuel Brullet i Tenas (1941).
Em A Fotografia Moderna no Brasil, Helouise Costa (1960) e Renato Rodrigues da Silva assim definem a obra de Marcel Giró: “Referendando o campo do figurativismo, suas fotos nos remetem ao mesmo tempo ao abstracionismo. Nem forma pura, nem realismo, tudo em Giró resulta em ambiguidades. (...) O que enriquece o trabalho de Marcel Giró é o ludismo que se estabelece pela ambiguidade entre a figuração e a abstração. O olhar do observador é obrigado a percorrer as fotos ansiosamente, saltando do objeto materializado aos seus componentes formais enfatizados plasticamente e vice-versa, sucessivamente. No fim – que pode ser um recomeço – a foto permanece íntegra em sua individualidade irredutível, como que desafiando uma nova inserção racionalizadora do nosso olhar...”3.
Ainda que plenamente entregue à exploração das possibilidades criativas da linguagem fotográfica moderna, Marcel Giró reafirma a natureza documental da fotografia na medida em que registra as rápidas transformações dos centros urbanos de seu tempo, a exemplo de outros membros do Foto Cine Clube Bandeirante como José Yalenti (1895-1967), Ademar Manarini (1920-1989), Paulo Pires (1928), Gaspar Gasparian (1899-1966) e Eduardo Salvatore (1914-2006).
Em 1953, com sua esposa Palmira Giró, abre o Estúdio Giró, um dos mais importantes estúdios de fotografia publicitária no Brasil, ativo por 25 anos, tendo contribuído para a formação de uma nova geração de fotógrafos de publicidade, dos quais se destacam JR Duran (1952) e Marcio Scavone (1952). Em 1978, o Estúdio Giró é vendido e o casal retorna definitivamente para a Espanha.
Para além do legado artístico à fotografia brasileira, a qualidade e o rigor formal presentes na obra de Marcel Giró são uma forte contribuição à legitimação artística da fotografia moderna produzida nos fotoclubes brasileiros.
1. Depoimento de Toni Ricart Giró, sobrinho do artista, em 7 nov. 2020.
2. Catálogo da exposição Marcel Giró, Fotògraf. Transformar les coses corrents en extraordinàrie. Barcelona: TR multistudio, 2014, p. 33.
3. COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naif, 2004, p. 52.
Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural
Fundação Bienal de São Paulo
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
Centro de Arte Contemporânea e Fotografia (Belo Horizonte, MG)
Museu do Estado do Pará
Foto Cine Clube Bandeirante (São Paulo, SP)
Museo del Barro (Assunção, Paraguai)
Maison Européenne de la Photographie
Paço Imperial
Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP)
Galeria Alberto da Veiga Guignard (Belo Horizonte, MG)
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Itaú Cultural
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