Bia Medeiros
Texto
Maria Beatriz Medeiros (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1955). Artista plástica, performer, pesquisadora e professora. Gradua-se em educação artística na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Durante o fim dos anos 1970 e começo dos 1980, vive na França onde faz o mestrado em estética e o doutorado em artes na Sorbonne. Em Paris, leciona no ADAC Galerie – Atelier, de 1984 a 1988. Retorna ao Brasil e torna-se professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), onde desenvolve atividades que dão origem ao Coletivo Corpos Informáticos,
Pesquisa a convergência arte e tecnologia, no campo da telemática, sendo uma das pioneiras brasileiras em teleperformance. O grupo Corpos Informáticos, com o passar dos anos, adquire identidade artística própria, tornando-se um coletivo, independente da Universidade de Brasília. Volta-se, principalmente, para performances, ou seja, ações ao vivo.
O grupo decide investir no uso de objetos obsoletos (low-tech – baixa tecnologia) e na tradução antropofágica de termos-conceito como performance, intervenção urbana, efêmero etc. Adota postura favorável à abordagem brasileira das questões relacionadas ao binômio arte e tecnologia. Desse empenho, emerge a ressignificação de termos como “fuleragem”, C.U. (composição urbana), “mixuruca” e outros. A artista atua na defesa desses termos em eventos acadêmicos, o que provoca situações de estranhamento.
Em 2001, faz o pós-doutorado em filosofia no Collège de Philosophie de Paris e, entre 2003 e 2005, preside a Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (Anpap). Publica livros dedicados às relações entre arte e tecnologia e à performance. Dentre eles, Corpos Informáticos. Arte, Corpo, Tecnologia (2006), Corpos Informáticos: Arte, Cidade, Composição (2009) e Corpos informáticos – Performance, Corpo, Política (2009/2011). Este último em parceria com Fernando de Aquino. Com Mariana Monteiro e Roberta Matsumoto produz os volumes Espaço e Performance e Tempo e Performance (2007), coletâneas de textos que atualizam a bibliografia sobre o tema no Brasil.
Dentre os momentos de atuação com o Corpos Informáticos destacam-se a participação do grupo no Circuito Centro da Terra de Artes Cênicas (2002), com patrocínio da Petrobrás e curadoria de Renato Cohen (1956-2003) e Ricardo Karman (1957) e a sala na 5ª Bienal do Mercosul (2005). Em 2009, recebe o Prêmio Artes Cênicas na Rua, da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Ainda com o Corpos Informáticos produz, a partir de 2010, eventos relacionados com o edital Cultura e Pensamento (Ministério da Cultura) com ações como o Festival Performance: corpo, política e tecnologia. Participam em eventos e congressos, além de intervenções urbanas, como na rampa do Palácio do Planalto em Brasília.
Em 2011, ganha o edital de ocupação da Funarte de São Paulo, onde apresenta o trabalho e com carcaças de carros, principalmente kombis.
Análise
Na coletânea de textos do filósofo francês Bernard Stigler (1952), traduzidos por Bia Medeiros, pode-se perceber uma crítica ao “tempo real”. Tempo esse que nos é trazido pelo vídeo e que resulta no voyeurismo dos programas de televisão que acompanham o cotidiano de celebridades.
O coletivo Corpos Informáticos trabalha com esse mesmo tempo do vídeo na teleperformance. Atua em canais abertos simultâneos, muitas vezes com o software I Visit , permitindo que outros usos, como o exibicionismo e a pornografia, disputem a atenção do espectador.
Tais procedimentos determinam a ambiguidade semântica do trabalho de Bia Medeiros. A confusão entre criança e adulto, falso e verdadeiro, brincadeira e compromisso, crítica social e chacota caracteriza as performances das “unhas defeitas”, na alegoria do enterrar de dejetos da indústria da informática e de veículos de desmanche inteiros, na distribuição de “chococristos”, nos jogos de amarelinha, pula-corda, bambolê e corridas s com velhas enceradeiras.
Desses limites fazem parte as formulações como “fuleragem” e “mixuruca”. Os termos seguem a lógica inaugurada por Hélio Oiticica (1937-1980), no uso de deslocar palavras que, pertencendo a um vocabulário fora do circuito oficial de arte, desafiam-no pela simples menção. Por exemplo, o termo “maria-sem-vergonha”, que designa o conceito de rizoma, segundo a filosofia dos franceses Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992), acaba desdobrando-se em dois outros: o “ia-sem-ver”, espécie de defesa da ação que usa todos os sentidos e a “margonha”, palavra construída com os restos do trocadilho anterior.
Sempre na tônica palavra e conceito, os textos de Bia Medeiros insistem nas ideias de traição, mentira, e trapaça. O próprio termo “fuleragem” é a síntese disso. Critica as etiquetas oficiais, revelando as contradições sob as aparências da legitimidade da arte convencional.
Espetáculos 5
Exposições 21
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3/11/1980 - 29/11/1980
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13/11/1981 - 1/1980
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23/9/1993 - 2/10/1993
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9/4/1997 - 2/5/1997
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12/12/1998 - 1/2/1997
Festivais 1
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27/7/2009 - 30/8/2009
Mostras 1
Fontes de pesquisa 8
- AQUINO, Fernando ; MEDEIROS, Maria Beatriz de (Orgs.). Corpos informáticos: performance, corpo, política. Brasília: Programa de Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília, 2011. Acompanha 1 DVD.
- CORPOS informáticos. Disponível em: http://corpos.blogspot.com.br/. Acesso em: 15 out. 2019
- MEDEIROS, Maria Beatriz de; AQUINO, Fernando ; AZAMBUJA, Diego. Corpos informáticos. Arte, cidade, composição. 1. ed. Brasília: Programa de Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília (PPG-Arte-UnB), 2009.
- MEDEIROS, Maria Beatriz de; MONTEIRO, Marianna F. M. (Orgs.). Espaço e performance. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
- MEDEIROS, Maria Beatriz de; MONTEIRO, Marianna F. M.; MATSUMOTO, Roberta K. (Orgs.). Tempo e performance. Apresentação Marianna Francisca Martins Monteiro. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
- MEDEIROS, Maria Beatriz de; STIEGLER, Bernard. Bernard Stiegler. Reflexões (não) contemporâneas. Tradução e organização. Chapecó: Argos, 2007.
- PERFORMANCE Corpo Política. Disponível em: http://www.performancecorpopolitica.net/. Acesso em: 13 mar. 2013
- Planilha enviada pela pesquisadora Julia Alves Carvalhal. Não Catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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BIA Medeiros.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa216689/bia-medeiros. Acesso em: 15 de agosto de 2022.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7