Título da obra: Inauguração do Túnel Alaor Prata (atual Túnel Velho)


Fortaleza da Laje durante a Revolta da Armada
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1894
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Juan Gutierrez
Juan Gutierrez de Padilla (Antilhas, ca.,1859 – Canudos, Brasil, 1897). Fotógrafo, empresário. Chega ao Rio de Janeiro por volta de 1888, já iniciado no ofício da fotografia. A partir de 1889, passa a fotografar retratos no ateliê Fotografia União. O prestígio conquistado pela qualidade de suas imagens faz com que seja o penúltimo profissional a receber o título de Fotógrafo da Casa Imperial, concedido por d. Pedro II, em 1889[1]. Estampa essa menção em suas fotografias, mas a retira no mesmo ano, com a instauração do regime republicano. Recebe a cidadania brasileira. Em 1890, com mais 31 acionistas, funda a Companhia Fotográfica Brasileira. O estabelecimento, do qual Gutierrez atua como diretor técnico, é inaugurado em 1892 e dissolvido no mesmo ano. Abre, em seguida, o ateliê J. Gutierrez, no mesmo endereço, apresentando-se como sucessor da antiga firma. Realiza apenas retratos, vistas da cidade do Rio de Janeiro, além de vender acessórios e aparelhos fotográficos para profissionais e amadores. Em 1893, torna-se sócio do poeta e dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908), do poeta Francisco de Paula Ney (1858-1897) e do tipógrafo H. Lombaerts, na criação do periódico O Álbum. Gutierrez é o responsável pela publicação de dezenas de retratos de personalidades brasileiras. Durante essas atividades, torna-se amigo de muitas delas, como o jornalista José do Patrocínio (1853-1905) e o poeta Olavo Bilac (1865-1918). Ainda em 1893, por encomenda do Exército do Brasil, realiza extensa documentação fotográfica da Revolta da Armada. Em 1894, documenta os festejos dos cinco anos de Proclamação da República. Em 1897, alguns meses após o início do conflito em Canudos, alista-se no Exército e parte para lutar a favor dos interesses do governo republicano. Ferido, morre em seguida. A missa celebrada em homenagem à sua morte reúne amigos e figuras públicas.
Juan Gutierrez é um profissional singular na história da fotografia brasileira do século XIX. Essa qualidade provém de sua atuação no campo da fotografia e de seu caráter militante. Embora agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, Gutierrez é um republicano declarado e participa ativamente do conflito de Canudos, deflagrado em fins de 1896. O fotógrafo luta ao lado do governo contra os “rebelados monarquistas”, liderados por Antônio Conselheiro (1830-1897). É morto no campo de batalha, logo no início do conflito.
Ainda que o desenvolvimento da fotografia seja contemporâneo à participação do Brasil em revoltas internas e guerras (a mais famosa delas, a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870), não existe uma iconografia brasileira desses episódios. Essa falta refere-se não apenas a cenas de guerra, difíceis de serem captadas nas primeiras décadas da fotografia, devido à sua lentidão, mas também a registros posteriores do resultado das batalhas.
Gutierrez é o primeiro profissional de que se tem notícia a fotografar os cenários de um conflito brasileiro armado. Essa cobertura coloca algumas de suas imagens em destaque na história da fotografia nacional. É de sua autoria a extensa documentação sobre a Revolta da Armada, rebelião contra os governos de Deodoro da Fonseca (1827-1892) e Floriano Peixoto (1839-1895), iniciada pela Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, em 1891, e convertida em conflito entre 1893 e 1894. Coube ao Exército a encomenda feita ao fotógrafo.
Chama a atenção o fato de Gutierrez já dispor de métodos que permitem rápida captação de elementos em movimento. Ele utiliza esses recursos em fotografias que registram, por exemplo, o movimento dos mercados do Rio de Janeiro. O fotógrafo, entretanto, não faz uso dessa técnica ao retratar a Revolta da Armada. Dela capta apenas os resultados dos confrontos. Essa escolha indica a intenção de o Exército registrar apenas as edificações destruídas, quase todas da Marinha derrotada, e assim afirmar o poderio do Exército sobre a Marinha.
Para além desses registros e do envolvimento de Gutierrez em conflitos brasileiros, há outra parte de sua produção que merece destaque.
Em primeiro lugar, ele é um dos sócios do primeiro estúdio fotográfico de capital aberto de que se tem notícia no Brasil, a Companhia Fotográfica Brasileira. Nela, ao lado de mais 31 acionistas, atua apenas como diretor técnico de fotografia, participando de um formato de empresa diferente dos demais estúdios existentes no país. Nesses, até então, um único proprietário (ou, no máximo, uma sociedade de dois ou três proprietários) desempenha todas as funções, de gerente a diretor técnico, exercendo também as atividades de fotógrafo e comerciante.
Em segundo lugar, Gutierrez torna-se sócio no periódico O Álbum, publicação de cunho republicano. O objetivo do jornal, a partir de 1893, é promover a formação de uma “galeria viva” com nomes das artes e das letras nacionais. A cada edição são apresentados um esboço biográfico escrito pelo redator e um retrato realizado por Gutierrez.
A ideia não é nova. As primeiras biografias escritas fazem parte de importante projeto do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro desde o início do século XIX. E os álbuns visuais encontram sua tentativa mais ambiciosa em 1859, com a publicação de Galeria dos Brasileiros Ilustres, álbum de gravuras pautadas em fotografias, publicado em pelo artista Auguste Sisson (1824-1898) e Victor Frond (1821-1881).
O Álbum une esses dois projetos e é privilegiado por um momento de inovação gráfica: realiza, pela primeira vez, um programa crescente de memória em que a cultura escrita e a visual (por meio da fotografia) são fundidas em um impresso, sem a ajuda de um artista plástico.
1. Título oferecido pelo Imperador D. Pedro II no período de 1851 a 1889. Juan Gutierrez de Padilla recebe o título em 3 de agosto de 1889, seguido três dias depois pelo fotógrafo Inácio Mendo, o último agraciado no período monárquico.
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