Artigo sobre 4ª Semana de Arte da Poli

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP)
Registro fotográfico Marcus Leoni
Rosana Paulino (São Paulo, São Paulo, 1967). Artista visual, pesquisadora e educadora. Destaca-se por fazer da imagem impressa um meio estruturador de seu pensamento visual, desdobrando-a em diferentes linguagens. Desde os anos 1990, investiga questões que eram pouco discutidas no cenário artístico brasileiro, como gênero, identidade e representação negra.
Cursa artes plásticas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) entre 1991 e 1995, período em que também se dedica à gravura no ateliê de restauro do Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP) e na oficina de gravura do Museu Lasar Segall.
A produção de Paulino ganha visibilidade com a instalação Parede da Memória (1994), extensa composição em grade formada pela reprodução de onze pequenos retratos do arquivo familiar da artista que, agrupados em diferentes combinações, desdobram-se em 1500 imagens. As fotocópias são inseridas em almofadas preenchidas com algodão e emolduradas por uma costura manual ao modo de patuás1.
Embora parta de elementos pessoais, como a memória do patuá na casa de infância e os retratos de família, essa busca por identidade só se realiza no coletivo, na reunião de muitos indivíduos para tornar manifesta a força de sua representação. A disposição dos retratos se contrapõe às antigas tipologias fisionômicas que mapeavam características étnicas e psicossociais. Paulino inverte a função dessa estrutura classificatória e dirige sua indagação à memória individual e coletiva. A expressiva representação de pessoas negras faz lembrar, por oposição, sua rara ocorrência – excetuando-se o registro etnográfico – em séculos de produção visual no Brasil.
Em 1998, faz uma especialização em gravura no London Print Studio, em Londres, com bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A seguir, leciona disciplinas de desenho e gravura, trabalha como assistente de restauração e participa de exposições no Brasil e no exterior.
Na instalação Bastidores (1997), a artista reproduz fotografias sobre tecido esticado em suportes para prática de bordado. No lugar de ornamentações, linhas pretas são usadas para amordaçar e vendar olhos e gargantas de mulheres negras. O termo bastidor é ao mesmo tempo o suporte para a obra e o cenário de violência contra a mulher. A expectativa da delicadeza do bordado é contrariada na denúncia da violência camuflada pelas paredes domésticas.
É bolsista da Fundação Ford entre 2006 e 2008, quando produz a série Ama de Leite (2005-2008), na qual formas dissociadas retiram a subjetividade de esculturas sem rostos e membros, expondo a visão escravocrata que considerava as amas de leite apenas uma função e não como indivíduos. Fitas coloridas são presas aos muitos pares de seios e, tal como um fluxo de leite, saem em direção a bonecos presos nas extremidades.
Obtém o título de Doutora em poéticas visuais pela ECA/USP, em 2011, com a pesquisa Imagens de Sombras, na qual investiga a construção da imagem da mulher negra no Brasil, entre as marcas deixadas pela escravidão e desigualdades de gênero. Essas questões são pensadas por meio da instalação, gravura e de outras linguagens. Em 2011, recebe o 1º Prêmio Nacional de Expressões Afro-Brasileiras.
No ano seguinte, participa de residência artística no Tamarind Institute da University of New Mexico, Estados Unidos (EUA). A atividade faz parte de um projeto financiado pelo Departamento de Estado dos EUA, que visava levar artistas brasileiros ao Tamarind para que tivessem experiências com mestres impressores do instituto. A residência motiva, em 2013, a exposição Brasileiros e Americanos na Litografia do Tamarind Institute, realizada no Museu Afro Brasil, na qual Rosana e os colegas expõem as litografias produzidas no período de residência.
É bolsista no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, na Itália, em 2014. Como curadora, em 2016, realiza, ao lado da designer Diane Lima, a mostra Diálogos Ausentes, no Itaú Cultural, que discute a produção de artistas afro-brasileiros contemporâneos.
Em muitos de seus trabalhos, a fotografia é pensada em diálogo com o desenho e a gravura. Na série Assentamento (2013), manipula retratos de “tipos brasileiros” produzidos pelo fotógrafo francês Auguste Stahl (1824-1877) para o livro Viagem ao Brasil, 1865-1866, de Louis Agassiz (1807-1873), naturalista suíço que investiga teorias de superioridade racial. Reproduções dessas fotografias em tamanho natural são recortadas e rearranjadas por Paulino numa costura rústica que expõe uma sutura entre as partes mutiladas da imagem. Intervenções gráficas sinalizam o processo de cicatrização e enraizamento, metáfora do trauma das pessoas que foram desterritorializadas pela escravidão. Num processo semelhante, no livro de artista ¿História Natural? (2016), Paulino transforma poeticamente a significação da iconografia científica oitocentista.
Em muitos trabalhos de Paulino, paira um desejo de redenção simbólica, ao expor as fraturas existentes nas tradicionais representações de indivíduos marcados pela escravidão. Para resgatar fragmentos de identidades expropriadas, recorre ao diálogo com a representação etnográfica que, se por um lado é fruto do olhar do colonizador, por outro, guarda rastros que permitem indagar pelo “outro” na história.
1 Patuás são considerados objetos de proteção trazida pelos ancestrais, orixás e outras divindades nas religiões afro-brasileiras.
Rosana Paulino – Série Cada Voz (2019)
Rosana Paulino apresenta sua perspectiva sobre o que é ser artista. Traz elementos não reconhecidos tradicionalmente na cultura brasileira, em especial, a representação da população negra para além do olhar do artista branco.
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP)
Paço Municipal
Espaço Cultural SOS Sul
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_)
Adriana Penteado Arte Contemporânea
Fundação Nacional de Artes
Adriana Penteado Arte Contemporânea
Fundação Cultural de Curitiba. Solar do Barão
Galeria Fotóptica
Paço Municipal
Adriana Penteado Arte Contemporânea
Galeria de Arte São Paulo
Centro Cultural de Belo Horizonte
Itaú Cultural
Fundação Bienal de São Paulo
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