Título da obra: Anarquitetura do Afeto


Criação gráfica: Denis Jesus Nunes Carvalho/Itaú Cultural
Anarquitetura do Afeto
,
2004
,
Simone Michelin
Criação gráfica: Denis Jesus Nunes Carvalho/Itaú Cultural
Biografia
Simone Michelin (Bento Gonçalves, RS, 1956). Artista visual, pesquisadora e professora. É doutora em artes visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com especialização em arte e tecnologia na Temple University (Filadélfia, Estados Unidos) e na University of Plymouth (Inglaterra).
Durante os primeiros anos de sua formação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG) entre 1975 e 1979, em Porto Alegre, demonstra grande interesse em fotografia, serigrafia, vídeo e gravura. Isso a faz se aproximar de Vera Chaves Barcelos (1938), Carlos Pasquetti (1948) e Telmo Lanes (1955), que constituem o coletivo Nervo Ótico, dedicado à discutir artes, meios de comunicação e política. Michelin se associa ao grupo na fundação de uma cooperativa de artistas cuja sede, chamada Espaço N.O., é inaugurada em 1979. Ali, participa na curadoria de mostras de arte multimídia e realiza sua primeira exposição individual, Registros da Memória (1979). Sua segunda mostra, Pão Nosso de Cada Dia (1980), ocorre na 542 Galeria de Arte.
Junto aos artistas Heloisa Schneiders da Silva, Renato Heuser (1953) e Mara Álvares (1950) organiza, em 1982, a mostra Porque Sim, Fragmentos de Multimedia, a primeira exposição de arte multimídia apresentada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). O projeto conta com a colaboração do cineasta Jorge Furtado (1959), então criador e apresentador do programa TV Kizumba, do canal TVE, que faz a direção de TV da videoperformance de mesmo nome que também veicula no canal aberto da TVE. No mesmo ano realiza sua primeira exposição individual internacional na Maison Internationale, Citè Universitaire, em Paris. No ano seguinte, muda-se para o Rio de Janeiro.
A partir da década de 1990, Simone Michelin dá início ao vínculo acadêmico com a UFRJ. Em 1991, integra o colegiado do Departamento de Artes Base, onde se torna professora e pesquisadora em 1992. De 1996 a 1997, desenvolve mestrado na mesma instituição. Em 1998, muda-se para Nova York para desenvolver pesquisa em arte e tecnologia na School of Communications and Theater e na Tyler School of Art da Temple University, que conclui em 1999. No mesmo ano, muda-se para o Reino Unido para o curso de doutorado na Universidade de Plymoth, que interrompe no ano seguinte para retornar ao Rio de Janeiro a convite da Escola de Belas Artes. Torna-se doutora pela mesma instituição em 2006.
Entre seus prêmios, destaque para o Prêmio de Fotografia do 10° Salão Carioca da Rioarte (1986), a menção honrosa do Rumos Itaú Cultural em Pesquisa (2003) e o 6º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia pelo trabalho Lilliput 1.0 (2006). Também é convidada a criar uma obra para a Bienal de Arte e Tecnologia Emoção Art.ficial 2.0 (2004), no Itaú Cultural.
Dentre suas principais exposições coletivas, estão a mostra Vídeo Links Brazil: an Anthology of Brazilian Video Art (2007), na Tate Modern, em Londres; a 10ª Bienal de Havana, em Cuba, e a 7ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, ambas em 2009; e A RUA (2011-2012), no MHKA Antuérpia, na Bélgica.
Comentário crítico
O potencial de expansão que os meios de comunicação trazem para as artes visuais a partir da década de 1970 no Brasil é experimentado e incorporado por artistas que, como Simone Michelin, têm conhecimento e recursos técnicos para concretizar propostas em novas mídias. A contaminação que a artista propõe desde o início de sua carreira tem como base os meios de comunicação associados ao olhar construído pela história da arte e a diversos procedimentos de análise da visualidade. O espaço bidimensional, caro a esse sistema, é desafiado por mídias e canais de comunicação que trazem outros problemas para o olhar: a apreensão de fatos, a construção do cotidiano e a transferência da informação por meio de imagens.
No trabalho de Michelin, os meios de comunicação não estão isentos, como podem pretender, de comunicar seus reais objetivos, que podem implicar em posicionamentos político-ideológicos, manipulação de fatos e afirmações, aclamação de personalidades e influência em comportamentos sociais. A artista assume o compromisso de revelar como as mídias passam a influenciar na escrita da chamada história social, e por vezes as desafia por meio de intervenções no espaço público.
Entre 1978 e 1993, sua produção contempla esses objetivos de forma predominantemente fotográfica. Os trabalhos de Pão Nosso de Cada Dia e Prato Feito, ambos constituídos de sete fotografias sem cópia, lidam com a percepção do cotidiano, instigando uma analogia do dia a dia – as refeições determinadas por um tempo mecânico – com o próprio processo da cópia fotográfica.
Em 1994, com Circa 3’, a artista retoma sua obra em vídeo, preocupando-se com a apropriação e a reorganização de imagens televisivas, a representação da violência e a cobertura midiática da mudança de moeda pela qual o país passa. Durante toda a década de 1990, executa propostas que vão se tornando gradativamente instalativas e espaciais, de modo a relativizar e qualificar a presença do material audiovisual em arquiteturas provisórias ou permanentes.
Em 2002, Bonjour Bonsoir Adieu Tristesse instiga a participação do público em um circuito combinando arquitetura, vídeos e áudio que são recombináveis a partir de um acionamento eletrônico voluntário. Já ADA – Anarquitetura do Afeto (2004), é concebida para a fachada do Itaú Cultural. Liliput 1.0 é seu primeiro trabalho que integra a tecnologia móvel dos telefones celulares de forma interativa, possibilitando que o visitante colabore na construção imagética da obra com seus aparelhos pessoais. Em sua exposição individual Qualia (2010), a artista constrói uma máquina regulada por dados estatísticos sobre a violência e o narcotráfico do Rio de Janeiro, incidindo feixes de raio laser em uma superfície de látex, o que possibilita uma visualização alternativa desses dados, em substituição – ou complemento – às imagens televisivas. A artista explora o vídeo estereoscópico, enfatizando as sutilezas dos mecanismos de percepção, o meio e a posição absolutamente particular de cada um face à produção do espaço social.
Esta visão alternativa, para Simone Michelin, potencializa a percepção das conotações e distorções que a mídia televisiva incide sobre os fatos cotidianos.
Criação gráfica: Denis Jesus Nunes Carvalho/Itaú Cultural
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs)
Galeria Oswaldo Goeldi (Brasília, DF)
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs)
Fundação Nacional de Artes. Centro de Artes
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA)
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
Casa Degli Artisti (Milão, Itália)
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Itaú Cultural (Campinas, SP)
Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói)
Projeto Dromo (Rio de Janeiro, RJ)
Galeria Vermelho
Itaú Cultural
Armazem Nº 5 (Rio de Janeiro, RJ)
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
A Gentil Carioca
Fundação Bienal de São Paulo
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