Artigo sobre Sol do Meio-dia

Theatro Municipal de São Paulo
Ivonice Satie Yoshimatsu Fagundes (Bilac, São Paulo, 1950 – São Paulo, São Paulo, 2008). Bailarina, coreógrafa, professora, diretora. Com 9 anos, inicia os estudos em dança na Escola Municipal de Bailado de São Paulo. Em 1967, tem seu primeiro contrato profissional, para dançar na TV Record, a convite do bailarino Ismael Guiser (1927-2008) e da bailarina Ruth Rachou (1927). Em 1968, integra o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo. Ao longo de 14 anos junto à companhia paulistana, atua como bailarina e assistente de coreografia (1978-1981), assistente de direção artística (1981) e diretora (1993-1996 e 1999-2001).
Em 1974, vive o momento de transição da companhia, quando a sapatilha de ponta é substituída por repertório moderno, assinado por artistas como Antonio Carlos Cardoso (1939), o espanhol Victor Navarro (1944) e os argentinos Oscar Araiz (1940) e Luis Arrieta (1951). Em 1977, recebe prêmio de melhor bailarina pela Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca) e Prêmio Governador do Estado de São Paulo.
Em 1982, estreia sua primeira criação coreográfica, o dueto Shogun, que recebe diversos prêmios, entre eles, o 1º Prêmio Hors Concours no 7o Concurso Internacional de Coreografia em Nyon, Suíça, em 1983. Nesse ano, é convidada por Oscar Araiz para trabalhar como bailarina e assistente de coreografia no Ballet du Grand Theatre de Genève, na Suíça.
Em 1990, ao retornar para o Brasil, trabalha com a companhia paulistana Cisne Negro, como ensaiadora e professora. A partir de 1993, volta a atuar no Balé da Cidade de São Paulo como diretora artística. Em 1995, o grupo recebe o prêmio Mambembe de melhor companhia. Em 1996, Satie lança o Balé da Cidade em carreira internacional, em Lyon, França.
Com base na experiência como assessora de Linguagem Artística na cidade de Diadema, entre 1993 e 2003, Satie oferece oficinas para popularizar a dança e acesso a crianças de diferentes faixas etárias e biotipos. Esse trabalho, vinculado à prefeitura de Diadema, ganha força e dá origem à Companhia de Danças de Diadema, fundada e codirigida pela bailarina. Em 1998, cria o projeto Mão na Roda, voltado para portadores de deficiência física, bem como Trançando as Pernas e a Casa da Dança, ambos voltados para formação de crianças.
Em 1999, retoma a direção do Balé da Cidade de São Paulo e assume os cargos de diretora de dança do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de São Paulo (S
De 2001 a 2002, à convite do Instituto Göethe, integra o Conselho Consultivo do Festival de Dança de Joinville e participa do Global Dance 2002, em Düsseldorf, Alemanha. De 2003 a 2005, torna-se diretora artística da Companhia de Dança do Amazonas (CDA), para a qual cria, entre outros espetáculos, O Grito Verde, apresentado na França, em 2005, durante as comemorações do Ano Brasil-França. Convidada pelo governo do Amazonas, dirige a peça A Lenda do Guaraná, com artistas da comunidade indígena de Maués. Em 2005, assume, ao lado do bailarino e coreógrafo Anselmo Zolla (1967), a direção artística da Companhia Sociedade Masculina de São Paulo, para a qual cria o espetáculo solo Tomiko/A minha mãe (2006).
Análise
Ainda na infância, aprende com seu avô, mestre Yoshimatsu, yai-dô (arte da espada) e kembu (dança do samurai), práticas que exigem disciplina e precisão de movimentos. Em uma das últimas entrevistas concedidas por Satie, em 2008, quatro meses antes de sua morte, para o projeto Figuras da Dança, da São Paulo Companhia de Dança, declara: “Na verdade, ele estava me revelando um olhar diferente sobre a dança, sobre o movimento que vem do interior de cada um de nós. Aprendi uma postura interior que me acompanhará sempre e além”.
Essa perspectiva sobre a dança está expressa, sobretudo, nos trabalhos realizados nas cidades paulistas de Diadema e Ribeirão Pires e no estado do Amazonas. Nesses lugares, Ivonice, por meio de atuação de cunho social, profissionaliza, populariza e integra a dança nessas comunidades, inclusive na comunidade indígena de Maués, Amazonas. Cria espaços que permitem a aprendizagem da dança, entendendo essa linguagem artística como possibilidade de educação.
Na última passagem pelo Balé da Cidade de São Paulo, como diretora artística, entre 1999 e 2001, Satie imprime sua assinatura. Com 30 anos de existência, bailarinos com diferença de idade de até vinte anos dividem o mesmo repertório. Ivonice percebe a necessidade de mudanças no grupo e cria a Companhia 2, reservada ao elenco veterano, com espetáculos próprios que evidenciem a experiência dos artistas.
A convite de Ismael Guiser para uma gala produzida por ele, com participação de expoentes da dança brasileira, Satie homenageia seu avô com o dueto Shogun. A coreografia conquista vários prêmios e é encenada por diversas companhias e lugares do mundo. A palavra shogun remonta à época do Japão feudal e expressa a relação entre mestre e discípulo.
Como coreógrafa, cria para várias companhias nacionais e internacionais, na Europa e nos Estados Unidos. Satie trilha uma carreira comprometida com a difusão, a profissionalização e a socialização da dança no Brasil. Durante seu percurso profissional, não deixa de atuar como intérprete nos palcos brasileiros. Em entrevista, a bailarina afirma que o bom profissional da dança expressa sua alma e é um artesão do corpo.
Satie cria uma linha de produtos – como o Foot Tites, uma espécie de meia-sapatilha para proteger e dar a impressão de pés descalços aos bailarinos – e uma linha exclusiva de indumentária voltada para o balé contemporâneo. No final da vida, mantém aceso o espírito de bailarina, no Studio 3, onde dirige, coreografa e dança ao lado do bailarino e coreógrafo Anselmo Zola. O nome de Ivonice Satie ecoa pelos palcos e pelas salas de aula do Brasil. A atuação marcada pela disciplina, força e pelo poder transformador fazem dela uma artista reverenciada ecomprometida com a dança brasileira.
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