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Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Azulejaria Verde em Carne Viva
,
2000
,
Adriana Varejão
Registro fotográfico autoria desconhecida
Adriana Varejão (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1964). Artista visual. A pintura constitui o campo maior de sua produção, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura. Mesclando elementos barrocos em diálogo com a arte contemporânea, Adriana Varejão cria pinturas e instalações que questionam as relações sociais construídas em um passado colonial. Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira.
Ingressa na faculdade de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1981, mas a abandona no ano seguinte. A partir de 1983, faz cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), no Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. A obra de Adriana Varejão toma impulso com a pintura figurativa e gestual dos anos 1980. Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).
Ao conhecer a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, o repertório barroco passa a marcar suas criações. A narrativa, a mescla de linguagens bi e tridimensionais e a exuberância material das obras dialogam com a visualidade barroca, em busca de uma experiência estética totalizante. Suas pinturas são influenciadas também pelo barroco cubano e pela filosofia chinesa.
Em pinturas como Altar I (1987), as pinceladas espessas remetem aos ornamentos das igrejas. Em Abóbada (1987), tais alusões e a materialidade vigorosa confrontam figuração e abstração. A intensidade barroca é expressa pela lógica compositiva de preenchimento total do espaço e pela cenografia das telas.
Participa da mostra Brasil Já, no Museu Morsbroich, em Leverkusen, Alemanha (1988). No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, no Rio de Janeiro, e integra a coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Em 1992, passa três meses na China, e as experiências da viagem integram a exposição Terra Incógnita, na Galeria Luisa Strina, em São Paulo.
Na década de 1990, o desenho toma maior importância, dialogando com a iconografia colonial e, por vezes, estabelecendo uma relação narrativa. Em Proposta para uma Catequese – Parte I Díptico: Morte e Esquartejamento (1993), cenas de antropofagia retiradas de gravuras do século XVI incorporam a visualidade da azulejaria portuguesa. No lugar das cenas cristãs, os indígenas ensinam a antropofagia, invertendo as posições da colonização. Com uma imagem de Cristo e uma inscrição do Evangelho1, Varejão aproxima simbologias distintas, como a antropofagia e a transubstanciação. A superfície azulejada, simulada por meio da pintura a óleo sobre tela, revela um interior visceral em pequenas incisões.
No início da década de 1990, fissuras invadem seus trabalhos em imagens apropriadas dos pintores holandês Frans Post (1612-1680) e francês Nicolas Taunay (1755-1803), e de temas tradicionais da azulejaria. Pedaços das imagens são extraídos e expostos sobre pratos fixados à parede ao redor das telas cortadas. O uso de camadas espessas de tinta a óleo conserva um interior úmido, e a artista explora essa condição de forma semântica: opõe a camada superficial da pintura, a pele, a seu interior, a carne. Este procedimento é enfatizado em pinturas e esculturas que mimetizam partes do corpo. Em seus intercâmbios simbólicos, a carne, além da antropofagia, remete aos estigmas católicos, como as chagas dos mártires.
Em 1993, participa da residência artística promovida pelo Instituto Goethe em Maceió. Em seguida, viaja pelo Nordeste brasileiro pesquisando sobre arte sacra e artesanato popular, especialmente ex-votos e azulejaria. Integra a mostra Mapping (1994), no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York e, também, a 22ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1994, 1998 e 2012).
Varejão apropria-se de imagens como signos de acesso, fornecendo-lhes um significado amplo. Paisagens (1995) apresenta-se como ligação entre universos visuais: uma imagem com rasgos que revelam outras paisagens como citações sobrepostas. Já a instalação Azulejões (2000), composta de pinturas de fragmentos de ornamentos, produz um aspecto vertiginoso pelo excesso de curvas em diferentes direções, que se agigantam no espaço sem chegar a uma completude.
Tal como as incisões em sua pintura, a iconografia colonial surge como irrupção anacrônica. Mas a escolha dos signos é sempre permeada pelas relações que estes estabelecem com a contemporaneidade.
Da série Saunas e Banhos (2001-2009) também emergem transposições culturais. A artista constrói, com a geometria do azulejo, espaços labirínticos que remetem à cultura muçulmana e à influência portuguesa na arquitetura de Macau e nos botequins e mercados de carne do Rio de Janeiro.
Para a série Polvo (2013-2014), Varejão produz uma caixa de tintas, em parceria com a fábrica Águia, com 33 cores apontadas como tons de pele em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 1975. A artista escolhe as denominações mais exóticas mencionadas na pesquisa, como “Café com leite” e “Burro quando foge”, e realiza pinturas sobre retratos seus encomendados a retratistas que revelam novas analogias entre tinta, pele e mestiçagem.
A produção de Adriana Varejão expõe a violência nos processos de assimilação cultural. Questiona ainda a superfície pictórica, o papel simbólico da imagem e a maleabilidade de seus signos.
Adriana Varejão constrói obras com diferentes camadas de materiais e significados. Por meio de símbolos que remetem à colonização e à evangelização católica, a artista questiona em suas obras como um passado de dominação ainda reverbera na contemporaneidade brasileira.
1. “Qui manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem, in me manet, et ego in illo”, do latim: quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Registro fotográfico autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Registro fotográfico autoria desconhecida
Registro fotográfico autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Registro fotográfico autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Caio Kauffmann/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Registro fotográfico autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Sérgio Guerini
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes. Grande Teatro
Cidade das Artes (Rio de Janeiro, RJ)
The Olympic Museum
Galeria Multiarte (Fortaleza, CE)
Estação Carioca do Metrô (Rio de Janeiro, RJ)
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
Galeria de Arte Centro Cultural Rio
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Morsbroich Museum (Leverkusen, Alemanha)
Galerie Landesgirokasse (Stuttgart, Alemanha)
Stedelijk Museum (Schiedam, Holanda)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Messehalle Koeln
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Konstavdelningen och Liljevalchs Konsthall
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Parque Ferial Juan Carlos I
Fundação Bienal de São Paulo
Shopping JK Iguatemi
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