Título da obra: Inventário das Pequenas Mortes (Sopro)


Registro fotográfico Cia de Foto/Itaú Cultural
Gambiarras 01
,
2005
,
Cao Guimarães
Arquivo do artista
Claudio Gontijo Guimarães (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1965). Artista visual, cineasta. Ingressa na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1983 e, logo depois, transfere-se para o curso de jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG), onde estuda até 1986. Inicia o trabalho artístico com a fotografia e realiza experimentações estéticas em vídeo no fim dos anos 1980.
Aos 32 anos, frequenta aulas de cinema experimental em Londres, onde reside com a então esposa, a artista plástica mineira Rivane Neuenschwander (1967), aluna da Royal College of Art. Com ela, realiza uma série de vídeos, como Sopro (2000) e Word World (2001). Outra colaboração frequente é com o coletivo sonoro O Grivo, de Nelson Soares (1967) e Marco Moreira (1967), responsável pelas trilhas de áudio dos filmes de Cao. Um deles, O Homem das Multidões (2013), realizado com o cineasta recifense Marcelo Gomes (1963); e outro, Acidente (2006), com o artista mineiro Pablo Lobato (1976).
A partir dos anos 2000, sua produção contempla longas-metragens, como O Fim do Sem Fim (2001), Rua de Mão Dupla (2002), A Alma do Osso (2004), Andarilho (2006) e os já citados Acidente e O Homem das Multidões. Andarilho recebe os prêmios de melhor diretor no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro (2007) e de melhor filme no 9o Festival Internacional de Cinema de Las Palmas de Gran Canária (2008), na Espanha.
Participa de exposições coletivas importantes, como a 25a e 27a Bienais de São Paulo (2002 e 2006) e a 11a Bienal de Sharjah nos Emirados Árabes em 2013. Neste mesmo ano, o Itaú Cultural realiza a mostra retrospectiva Ver é Uma Fábula, com trabalhos fotográficos, filmes e seminários do e sobre o artista.
As obras de Cao estão presentes em acervos públicos, como Instituto Inhotim (Brasil), Modern Art Museum (MoMA) e Museu Guggenheim (Estados Unidos), Fundação Cartier (França), Tate Modern (Reino Unido), Museu Thyssen-Bornemisza (Espanha) e Coleção Jumex (México). Seus filmes são apresentados em festivais internacionais de cinema, como os de Locarno (Suíça), Cannes (França), Sundance (Estados Unidos) e Veneza (Itália).
A produção de Cao Guimarães inscreve-se em um lugar híbrido, entre artes plásticas e cinema documental. Autodidata, internaliza as questões técnicas dos equipamentos antigos que utiliza em seus trabalhos, como câmeras Super-8 e 16mm. Incorpora também questões conceituais, ao se educar com repertório audiovisual de vanguarda, exposições de arte e literatura. Sem recorrer a roteiro pré-estabelecido, orienta seu processo criativo com proposições ou sugestões. Ao abrir espaço para o acaso na captação das imagens, confia na montagem para reconstruir, com a trilha sonora, realidades que dilatem a percepção por meio do tempo cinematográfico.
O olhar de Cao tem interesse em revelar o que não é percebido ou valorizado, como na série fotográfica Gambiarras, produzida desde 2001. Como o nome sugere, estes trabalhos evidenciam soluções alternativas e inusitadas, tomadas no cotidiano com materiais que se encontram à mão. É o caso, por exemplo, de compensar a falta das hastes de uma armação de óculos com um fio elétrico rígido e colorido, em Gambiarras, n. 13 (2005), ou do uso de uma tábua de cozinha para manter uma janela basculante aberta, em Gambiarras, n. 1 (2005). Desta maneira, Cao registra os atos criativos que resgatam as pequenas crises cotidianas, e eles passam a existir como obras de arte. Com isso, o artista oferece outro sentido e novo lugar de permanência ao que é desprezado.
Esta posição de observador atento às realidades, como um documentarista de sutilezas, articula questões poéticas como o desvio, a memória, o tempo e o afastamento. A Alma do Osso, O Andarilho e O Homem das Multidões, este codirigido por Marcelo Gomes, são filmes que compõem a "trilogia da solidão" e debruçam-se sobre aquelas temáticas. O filme O Andarilho apresenta, em suas particularidades, três homens que vagueiam em rodovias no nordeste de Minas Gerais (BR-521, BR 135 e BR-122). Com poucas falas e movimentos de câmera pontuais, o calor do asfalto oferece qualidade incorpórea às imagens, que se dissolvem em longos planos. Há pouca ação: a câmera ora se aproxima ora se distancia dos andarilhos, e a trilha sonora amplia o estado contemplativo sobre personagens que vivem à margem da estrada e da sociedade.
O vídeo Sin Peso (2007), comissionado para uma exposição coletiva no museu mexicano Carrillo Gil, exibe uma sucessão de imagens quase estáticas de lonas coloridas em uma feira de rua na cidade do México. As vozes dos comerciantes sobrepõem-se aos sons de apitos, buzinas de automóveis, assobios e ruídos indistintos. Quando a perspectiva mais ampla do lugar é mostrada, a feira parece estar distante do observador e, ao mesmo tempo, protegida, em sua efemeridade, entre altos edifícios históricos. A trilha sonora desenvolvida pelo coletivo O Grivo aumenta a cacofonia da situação: a retórica da venda é emudecida pelo distanciamento que a língua estrangeira oferece. Predominam planos de cor na geometria formada pelas sobreposições das tendas, e o movimento que elas produzem permite que, eventualmente, perceba-se o céu azul com nuvens brancas. O título faz menção à moeda mexicana desvalorizada, como também à leveza das lonas que estruturam de modo provisório aquele comércio.
Registro fotográfico Cia de Foto/Itaú Cultural
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Arquivo do artista
Frame do vídeo El Pintor Tira El Cine a La Basura de Cao Guimarães/Divulgação
Cao Guimarães - Enciclopédia Itaú Cultural
Videomaker e fotógrafo, Cao Guimarães define seu trabalho como um híbrido que caminha entre as artes plásticas e o cinema. O tom experimental e autoral de seus filmes o leva a expor suas produções não apenas em festivais de cinema, como Sundance (EUA) e Rotterdam (Holanda), mas também em importantes eventos de artes plásticas, entre eles, a Bienal de São Paulo e a mostra Panorama da Arte Brasileira, realizada pelo MAM/SP. “O mundo das artes plásticas tem essa função interessantíssima de buscar trabalhos mais investigativos e experimentais, com uma narrativa autoral, para formar espectadores para um tipo de cinema que só está nascendo agora”, diz. O filme Acidente (2006), por exemplo, é uma parceria do artista com Pablo Lobato e cria uma narrativa a partir dos nomes de vinte cidades mineiras. Cada município recebe a visita da equipe, que registra cenas aleatórias, acidentalmente – daí o nome da obra.
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Renato Magalhães Gouvêa - Escritório de Arte
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Galeria Genesco Murta (Belo Horizonte, MG)
Galeria Arlinda Corrêa Lima (Belo Horizonte, MG)
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Espaço Index
Vinha d"Alhos Espaço Cultural
Galeria Genesco Murta (Belo Horizonte, MG)
Cafeicultura (Belo Horizonte, MG)
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Galeria Volpi (São José dos Campos, SP)
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
Museu da Imagem e do Som (São Paulo, SP)
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Parque Ferial Juan Carlos I
SESC Pompéia
SESC Pompéia
Itaú Cultural
ALMEIDA, Carlos H. Cao Guimarães foca na solidão do século XXI em ‘O Homem das multidões’. O Gobo, Rio de Janeiro, 31 jul. 2014. Disponível em:
< https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/cao-guimaraes-foca-na-solidao-do-seculo-xxi-em-homem-das-multidoes-13434713 >. Acesso em: jun. 2017.
CHÃO e parede. Belo Horizonte: EMBRA, 1994.
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