Artigo sobre Hotel Atlântico

João Gilberto Noll (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1946 – Idem, 2017). Romancista e contista. Em 1967, ingressa na Escola de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, curso que abandona dois anos depois. Em 1969, transfere-se para o Rio de Janeiro e inicia o curso de letras da Faculdade Notre Dame, concluído em 1979. Na cidade carioca, colabora com os jornais Folha da manhã e Última hora. Publica seu primeiro conto em uma antologia lançada em Porto Alegre, em 1970.
Atua como revisor de provas, coordena oficinas literárias e leciona no Curso de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1975. Seu primeiro livro, O Cego e a Dançarina, é lançado em 1980. Em 1986, retorna a Porto Alegre e, a partir de 2004, colabora com o jornal Correio Braziliense, publicando contos no caderno “Pensar”.
Publica 13 livros até 2010, seis deles com traduções para o espanhol, o italiano, ou o inglês. É contemplado com bolsas concedidas pela universidade de Iowa e pela Fundação Vitae, além de ser convidado por universidades nos Estados Unidos e na Europa como conferencista e escritor-residente. Recebe diversos prêmios, entre eles o Prêmio da Fundação Guggenheim, em 2002, e o Prêmio ABL de Ficção de 2004.
João Gilberto Noll é autor de uma literatura errante. Seus protagonistas carregam identidades mal delineadas, carecem de um passado bem determinado e de destinos certo para seus percursos. Daí a configuração das narrativas como itinerários de buscas incertas, cujos personagens encontram-se submetidos aos impulsos do corpo e ao desnorteamento. Habitam um mundo esvaziado de sentido, traço revelador da presença formadora de Clarice Lispector (1920-1977). A linguagem direta busca apreender a concretude da vida em detrimento de voos psicologizantes, com fluxos linguísticos vertiginosos em que a apresentação da realidade confunde-se com digressões de caráter poético.
A trama apresenta-se secundária, suporte para o trabalho com a linguagem, mais do que como centro de gravidade dos textos. “Palavras em pássaro”, que voam sem que a língua “possa freá-las”, tal como afirma o narrador do conto “O Cego e a Dançarina”, que fecha o livro de estreia. Nele, já se anuncia a proliferação verbal que permite a alternância entre tempos e espaços, ocorrida em livros como A Céu Aberto (1996), em que também se entrevê a depuração da linguagem. O procedimento é central em Hotel Atlântico (1989). Trata-se do relato percurso errante de um ex-ator desconhecido, cuja morte é narrada com a mesma ausência de profundidade psicológica que caracteriza as relações humanas mantidas por ele. Críticos como Flora Sussekind (1955) destacam a obra de Noll como renovadora da ficção brasileira nos anos 1980, responsável por uma revitalização da pesquisa formal das estratégias narrativas.
Teatro Cacilda Becker
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