Glauco Rodrigues
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No Campo de Futebol, 1952
Glauco Rodrigues
Linoleogravura
24,00 cm x 20,10 cm
Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo, SP)
Texto
Glauco Otávio Castilhos Rodrigues (Bagé, Rio Grande do Sul, 1929 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004). Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, cenógrafo. Com afiado senso de humor, retrata elementos característicos da cultura nacional para questionar estereótipos e explorar a complexidade da história brasileira.
Começa a pintar, como autodidata, em 1945. Em 1949, tem aulas com o pintor José Moraes (1921-2003), que instala um ateliê coletivo nas proximidades de Bagé, Rio Grande do Sul. Nesse ano, recebe bolsa de estudos da prefeitura bageense e frequenta por três meses a Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro.
Em 1951, funda o Clube de Gravura de Bagé, com Glênio Bianchetti (1928-2014) e Danúbio Gonçalves (1925-2019). Fixa-se em Porto Alegre e participa do Clube de Gravura de Porto Alegre, fundado por Carlos Scliar (1920-2001) e Vasco Prado (1914-1998). No período em que frequenta essas associações de gravadores, seus trabalhos são voltados para a representação do homem do campo e para tipos e costumes regionais.
Em 1958, muda-se para o Rio de Janeiro e integra a primeira equipe da revista Senhor como ilustrador. A partir do fim da década de 1950, sua produção se aproxima da abstração, como em Paisagem de Porto Alegre (1957). A tendência se agrava nas aquarelas declaradamente abstratas, realizadas no período em que Rodrigues mora em Roma, entre 1962 e 1965.
Ao retornar para o Brasil, participa de importantes exposições, como a Opinião 66 no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. No decorrer da década de 1960, volta à figuração e produz obras sob o impacto da arte pop, tratando com humor temas nacionais como a imagem de indígenas, o carnaval, o futebol, a natureza tropical e a história do Brasil. Essa abordagem está presente em Mito (1964/1965) e Pão de Açúcar (1968) e inspira séries como Terra Brasilis (1970) e Carta de Pero Vaz de Caminha (1971).
Além do registro do processo de carnavalização como crítica da cultura visual brasileira, alguns comentadores destacam o caráter hiper-realista do estilo do artista, como no quadro A Juventude (1970). A paisagem brasileira também é um elemento recorrente de suas obras, notada, por exemplo em Icatu-Água Boa (1975).
A postura crítica e bem-humorada também está presente na produção da década de 1980, como em No País do Carnaval (1982) ou Sete Vícios Capitais (1985). Segundo o crítico Roberto Pontual (1939-1994), a obra de Glauco Rodrigues mostra um caráter de "tropicalismo crítico", questionando o contexto social e político brasileiro por meio de personagens identificáveis do passado histórico e empregando uma leve ironia.
Partindo de fontes fotográficas, postais ou reproduções e considerando a fotografia como fixadora de fatos, Rodrigues reúne na superfície da tela signos de uma realidade que se apresenta como inegavelmente brasileira. Soma-se ainda a constante utilização do verde e do amarelo e da própria bandeira do Brasil. Na opinião de Pontual, o humor e a festa são táticas pelas quais o artista questiona uma série de clichês associados à imagem do país. A metalinguagem ganha forma também pela citação de quadros consagrados, como a figura de O Derrubador Brasileiro (1879), de Almeida Júnior (1850-1899), presente em Abrasileirar-se (1986) e Paz na Tarde (1989), ou a tela Primeira Missa no Brasil (1860) de Victor Meirelles (1832-1903), retomada em obra de mesmo nome, datada de 1980. Na tela A Ira (1985) estão presentes as figuras do afresco Expulsão do Paraíso, do pintor renascentista Masaccio (1401-1428).
Na década de 1980, Rodrigues recebe o Prêmio Golfinho de Ouro Artes Plásticas do governo do estado do Rio de Janeiro e publica o livro Glauco Rodrigues, que reúne toda a sua obra. Em 1999, recebe o Prêmio Ministério da Cultura Candido Portinari – Artes Plásticas.
Glauco Rodrigues dá forma a aspectos muito característicos da cultura brasileira com ironia e tom provocativo. Estabelecendo diálogos entre presente e passado, o artista justapõe diferentes representações do país e reflete sobre a história nacional.
Obras 24
A Conquista da Terra - 2 (Canção de Prisioneiro)
A Minha Demoiselle D`avignon
Abaporu
Canibales Brasilis
Cântico dos Cânticos
Espetáculos 6
Exposições 238
Feiras de arte 1
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29/4/2010 - 2/5/2010
Fontes de pesquisa 24
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
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- 9) Site Folha de S. Paulo. Disponível em: [http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u42572.shtml]. Acesso em: 19 mar. 2004. Folha de S. Paulo
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- DUARTE, Paulo Sérgio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Lech, 1998. 709.81 D812a
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- RODRIGUES, Glauco. Glauco Rodrigues: pinturas e aquarelas. São Paulo: Galeria de Arte São Paulo, 1990.
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Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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GLAUCO Rodrigues.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1529/glauco-rodrigues. Acesso em: 15 de agosto de 2022.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7