Título da obra: A Camponesa


Reprodução fotográfica Fábio Praça
A Camponesa
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s.d.
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Quirino Campofiorito
Reprodução fotográfica Fábio Praça
Biografia
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Reprodução fotográfica Fábio Praça
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Lula Rodrigues
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
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Associação dos Artistas Brasileiros (Rio de Janeiro, RJ)
Esplanada Hotel
Galeria Prestes Maia
Edifício Mariana (Belo Horizonte, MG)
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Royal Academy of Arts (RA)
Norwich Castle and Museum
Scottish National Gallery
Kelvingrove Art Gallery and Museum
Victoria Art Gallery
Fundação Bienal de São Paulo
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