Título da obra: Os Anos JK

Biografia
Silvio Tendler (Rio de Janeiro RJ 1950). Cineasta, professor e historiador. Aproxima-se do cinema em 1965 pela atividade cineclubista e, em 1968, torna-se presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. Trabalha como assistente de direção na produtora Mapa Filmes. Em 1968, entrevista o marinheiro João Cândido (1880 - 1969), líder da Revolta da Chibata (1910), mas não realiza o projeto cinematográfico. Após o Ato Constitucional nº 5 (AI-5), de 1968, viaja para o Chile no fim do ano de 1970, e se inicia em fotografia e edição, participando de produções de cunho popular.
Muda-se para Paris em 1972, e lá completa sua formação acadêmica. Aproxima-se do coletivo Sociedade para o Lançamento de Obras Novas (Slon), criado pelo cineasta francês Chris Maker (1921), com quem trabalha na realização do filme La Spirale (1975), sobre o golpe civil-militar no Chile, de 1973. Matricula-se no curso de história da Universidade de Paris 7, e se gradua em 1975, com orientação do historiador Marc Ferro (1924). Em 1976, torna-se mestre em cinema e história pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), com dissertação sobre a obra do cineasta holandês Joris Ivens (1898 - 1989).
De volta ao Rio de Janeiro, em 1976, inicia a pesquisa e entrevistas para seu primeiro longa-metragem: o documentário Os Anos JK, uma Trajetória Política, concluído em 1980. Desde 1979 é professor de cinema no Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Realiza seu segundo longa-metragem, O Mundo Mágico dos Trapalhões, em 1981, e, no mesmo ano, funda a Caliban Produções Cinematográficas e inicia o seu terceiro longa-metragem, que retoma o caráter político biográfico da trajetória de outro ex-presidente da República: Jango, finalizado em 1984. Dirige a TV Brasília em 1995 e, no ano seguinte, a Secretaria de Cultura e Esporte do Distrito Federal. Entre 1997 e 2000 assume a Coordenação de Audiovisual para o Brasil e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Volta à direção, em 1998, com o longa-metragem Retrato Falado de Castro Alves, sua única ficção. Realiza o média-metragem Marighella, Retrato Falado do Guerrilheiro em 2001, e um ano depois o longa-metragem Glauber o Filme, Labirinto do Brasil, em que apresenta uma série de depoimentos e imagens de arquivo, entre as quais cenas do velório e do enterro do cineasta.
Finaliza, em 2006, o sexto longa-metragem, Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá, filme que traz uma das últimas entrevistas concedidas pelo professor e geógrafo Milton Santos (1926 - 2001). Lança Utopia e Barbárie em 2010, filme que sintetiza, em duas horas, importantes acontecimentos ocorridos entre os anos 1960 e a primeira década dos anos 2000. Seu mais recente trabalho é Tancredo: A Travessia (2011), a biografia e a trajetória política do presidente da República eleito em 1985.
Análise de trajetória
Os aspectos históricos e políticos com que Silvio Tendler aborda personagens e contextos nos documentários decorrem da formação de historiador, daí a pesquisa em imagens de arquivos, entrevistas e demais fontes documentais em seus filmes. Nesse sentido, credita ao cinema o status de expressão artística privilegiada para o relato e debate de questões históricas, pois supõe ilusória a ideia de neutralidade na narrativa documental. Suas opções, segundo o próprio cineasta, se revestem de posicionamentos políticos perante os temas tratados, procurando novos ângulos na abordagem de figuras como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek (1902 - 1976) e João Goulart (1919 - 1976), o guerrilheiro Carlos Marighella (1911 - 1969), o cineasta Glauber Rocha (1939 - 1981), o geógrafo Milton Santos (1926 - 2001).
O "cinema-verdade" de Joris Ivens, proposta engajada de documentário com posicionamento político em relação àquilo que apresenta, é a maior inspiração de Silvio Tendler, que se espelha na coerência da trajetória do documentarista holandês, sempre preocupada em legitimar suas narrativas abertamente ideológicas em relação aos fatos. O que se reforça, inclusive, pela formação acadêmica e artística de Tendler na França, em parte motivada pela censura e perseguição no cenário político brasileiro e em parte pela pesquisa e convivência com o próprio Ivens. Soma-se a sua formação outra grande presença: a do cineasta francês Chris Marker (1921), com quem tem a primeira experiência na realização de um documentário, o filme La Spirale (1975). Entre os brasileiros, o documentarista Vladimir Carvalho (1935), que conhece ainda antes de deixar o Brasil, em 1970, é sua primeira referência.
Seus três primeiros longas-metragens marcam o alcance do diálogo que estabelece com o público, até hoje as melhores bilheterias de documentários no Brasil: 1 milhão com Jango (1984), 800 mil com Os Anos JK, uma Trajetória Política (1980) e 1,8 milhão de espectadores com O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981). O primeiro trabalho, Os Anos JK, além de boa recepção do público, é premiado pela crítica. Para o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet (1936), em Os Anos JK é clara a opção do diretor pela valorização da imagem de um "presidente liberal", na articulação entre cenas de cinejornais e os comentários do locutor. O sociólogo José Mário Ortiz Ramos, ao comparar Os Anos JK a Jango - filme mais premiado de Tendler -, identifica no primeiro a marca de uma narrativa fria (acentuada pela voz off) pontuada pelo eixo "desenvolvimento e democracia" e, em Jango, o papel da montagem que expressa o posicionamento político do diretor na composição de imagens, fotografias, depoimentos, textos e trilhas musicais que tornam a narrativa mais dinâmica.
Em Encontro com Milton Santos ou o Mundo Globalizado Visto do Lado de Cá (2006) e Utopia e Barbárie (2010), Tendler muda a forma de suas abordagens. No primeiro, resgata o momento histórico da virada do século não mais pela trajetória política de um personagem, mas pelas próprias ideias do geógrafo; em Utopia e Barbárie, apresenta importantes eventos políticos dos últimos 50 anos, enfatizando sua experiência e observação pessoal, a partir da reinterpretação de sequências de obras cinematográficas incorporadas e de depoimentos.
Tal como no conjunto de sua obra, agrega aqui a perspectiva "cinema e história" como exposição de um ponto de vista para além do aspecto puramente documental.
Silvio Tendler - Série Cinema - Jogo de Ideias (2012) - Parte 1/2
Produção Itaú Cultural
Silvio Tendler - Série Cinema - Jogo de Ideias (2012) - Parte 2/2
Produção Itaú Cultural
Itaú Cultural
Itaú Cultural
Itaú Cultural
Itaú Cultural
TENDLER, Silvio. Meu Livro Preferido de História. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 6, n. 68, p. 93, maio 2011.
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