Título da obra: Cecil Thiré (Pitou) no espetáculo A Divina Sarah, de John Murrell, direção de João Bethencourt.


Registro fotográfico Emidio Luisi
Cecil Thiré (Pitou) no espetáculo A Divina Sarah, de John Murrell, direção de João Bethencourt.
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1985
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Emidio Luisi
Registro fotográfico Emidio Luisi
Cecil Aldery Thiré (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943 - idem, 2020). Diretor e ator. Desenvolve uma carreira profícua de intérprete, mas é como diretor que amplia os conteúdos dos textos que encena, junto à capacidade de tirar o melhor dos atores que dirige, que Cecil Thiré firma seu espaço no teatro.
Filho da atriz Tônia Carrero (1922-2018), estuda interpretação com Adolfo Celi (1922-1986), no Patronato da Gávea, no início dos anos 1960. Depois de atuar sob a direção de Ziembinski (1908-1978) em Descalços no Parque, 1964, de Neil Simon (1927-2018), integra o elenco de Pequenos Burgueses, 1965, de Máximo Gorki (1868-1936), no Teatro Oficina. No ano seguinte, participa do Teatro Jovem, na montagem de América Injusta, de Martim B. Dukerman. Em 1967, é dirigido por Ademar Guerra (1933-1993), em Oh, que Delícia de Guerra!, de Joan Littlewood (1914-2002). Em 1970 atua na histórica montagem de Cemitério dos Automóveis, de Fernando Arrabal (1932), dirigida por Victor García (1934-1982). Realiza sua primeira direção em 1971, em Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen (1828-1906), pela qual recebe o Prêmio Estado da Guanabara. Já neste espetáculo de estreia, mostra capacidade para unir visão pessoal e fidelidade ao texto, relacionando os conflitos psicológicos e familiares propostos pelo autor às suas origens sociais e ideológicas. Assim, a montagem transcende o universo norueguês e a leitura feminista com que comumente se aborda o texto: a ideologia capitalista e burguesa de Helmer encontra em Nora a resistência contracultural, e a partida da mulher se torna a crença na possibilidade de um novo sistema. Segundo o crítico José Arrabal, "a revisão crítica de Cecil com a obra de Henrik Ibsen alcança, desta maneira, toda uma importância maior, ao produzir bom conhecimento, obrigação do teatro como diversão".1
Em 1974 está como ator em A Gaivota, de Anton Tchekhov (1860-1904), com direção de Jorge Lavelli (1932). No ano seguinte, recebe o Prêmio Molière de melhor direção, novo reconhecimento pela capacidade de teatralizar a dramaturgia. Em A Noite dos Campeões, de Jason Miller (1939-2001), o eixo da ação é sustentado por cinco atores, cuja relação faz lentamente crescer a tensão da narrativa. Reduzindo a movimentação de cena ao mínimo indispensável, Cecil Thiré realiza, na opinião do crítico Yan Michalski, sua melhor encenação: "Nenhum brilhareco de direção, nenhum vôo autônomo, mas uma constante compreensão do conteúdo a ser transmitido e adequação dos recursos através dos quais essa transmissão pode operar-se com maior eficiência".2
O crítico Flávio Marinho analisa que a principal característica da direção é uma unidade organicamente sólida: "Trata-se de uma mise-en-scène amarrada e vigorosa, de ritmo permanentemente tenso, onde a ênfase no humor cáustico do texto leva ao riso amargo. Ou o riso que também faz pensar".3
Em 1978, estréia, em São Paulo, um texto de Maria Adelaide Amaral, Bodas de Papel. Obtendo um rendimento coeso de todo o elenco, Cecil confirma sua vocação para a construção do trabalho interpretativo. O diretor busca nas entrelinhas a veia crítica do texto e explora, ao máximo, seu humor. Em 1979, recebe o Prêmio Molière pela direção de dois espetáculos: O Fado e a Sina de Matheus e Catirina, de Benjamin Santos, e um novo texto de Maria Adelaide Amaral, A Resistência, que lhe vale também o Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT. Em A Resistência, em que reúne as funções de diretor e intérprete, Cecil Thiré firma-se como diretor de ator e encenador capaz de ampliar os conteúdos da dramaturgia. O crítico Flávio Marinho analisa as qualidades do espetáculo:
"Numa encenação assumidamente naturalista, o diretor valoriza cada linha do texto através de pausas expressivas, absoluta noção de timing e domínio total do ritmo do espetáculo. O resultado é pleno de detalhes de mise-en-scène que garantem um sopro de vida a personagens quase de cartolina. Enquanto isso, Cecil volta a brilhar como diretor de intérpretes, extraindo do elenco um rendimento altamente homogêneo, onde os pontos altos estariam nos verdadeiros duelos interpretativos travados".4
A partir daí, Cecil Thiré passa a trabalhar como ator em espetáculos que dirige, aparentemente sem prejuízo dessas funções. Mas em 1984 se afasta do palco, retornando à direção dez anos depois, quando realiza três espetáculos seguidos. Mantém na televisão uma participação constante, embora espaçada, como ator e diretor, e inicia, no final dos anos 90, um trabalho constante como professor de interpretação em curso profissionalizante.
Notas
1. ARRABAL, José. Casa de bonecas. O Jornal, Rio de Janeiro, 31 out. 1971.
2. MICHALSKI, Yan. Quinteto de campeões. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 ago. 1975.
3. MARINHO, Flávio. A noite dos campeões. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 14 ago. 1975.
4. MARINHO, Flávio. A resistência. Desfile, Rio de Janeiro, n. 31, out. 1979.
Registro fotográfico Emidio Luisi
Teatro Oficina
Teatro Maison de France
Teatro Guaíra
Teatro Glaucio Gill
Teatro Maria Della Costa (TMDC)
Teatro Bela Vista
Teatro Bela Vista
Teatro Glaucio Gill
Teatro Glaucio Gill
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