Artigo sobre Gilgamesh

Teatro Sesc Anchieta
Biografia
José Augusto Mannis (São Paulo, SP 1958). Compositor, intérprete de música eletroacústica, sound designer, educador e pesquisador musical. Inicia seus estudos universitários na área de Engenharia Elétrica na então Faculdade de Engenharia Industrial em 1976. A partir de 1977, concomitantemente à engenharia, torna-se aluno do curso de composição do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) sob a orientação de Michel Philippot, Philippe Manoury e Conrado Silva. Em 1979, contemplado com uma bolsa de estudos do Governo Francês, interrompe ambos os cursos para estudar composição eletroacústica no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris com Guy Reibel, onde se forma em1983. Conclui o mestrado pela Universidade de Paris VIII, em 1988, sob a orientação de Daniel Charles.
Em 1989 retorna ao Brasil e torna-se professor do Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade de Campinas, onde ensina composição, contraponto e acústica musical. Nessa instituição funda, ainda em 1989, o Centro de Documentação em Música Contemporânea, conveniado ao Centre de Documentation de Musique Contemporaine de Paris, o qual dirige até 2005 e onde pode idealizar e implementar projetos como o Musicon - Guia da Música Contemporânea Brasileira, uma base de dados sobre música contemporânea e pesquisa musical brasileiras. Em 2008 obtém, nessa mesma Universidade, o grau de Doutor. Suas áreas de interesse no campo da pesquisa englobam sobretudo o estudo da documentação musical, da engenharia de áudio e da acústica musical. Além do setor da educação, atua em prol da difusão da música contemporânea em geral e da inserção da música contemporânea brasileira no cenário nacional e internacional, através, entre outros, da coprodução de programas radiofônicos na Rádio Cultura FM (1990-1996) e na RádioUSP (desde 1997), ou ainda da colaboração para a produção de Festivais como o Música Nova de São Paulo. Como intérprete de música eletroacústica, trabalha com grupos como o GRM e o Ensemble l’Itinéraire (França), o Ensemble Antidogma (Itália), o Grupo Círculo (Espanha) e o DuoDiálogos (Brasil).
Como compositor, recebe encomendas de entidades como o Ministério de Cultura Francês, a Radio France (1986) e a Bienal Internacional de São Paulo, que resultaram em trabalhos como, por exemplo, Le Messager de L’Automne (1986), para sexteto de cordas. Algumas de suas peças foram registradas em CDs de música eletroacústica e instrumental por grupos como o Grupo de Percussão do Instituto de Artes da UNESP (PIAP) e o DuoDiálogos.
Análise da Trajetória
Fundamentalmente eclético, não é apenas nos seus estudos teóricos sobre música que se expressa a variedade de interesses do compositor. Seu repertório cobre igualmente uma grande diversidade de estilos musicais, indo desde a música eletroacústica pura (Cyclone, 1983), passando pela criação de música instrumental (Mobile, para vibrafone solo, 1995), música mista (Reflexos, para marimba, vibrafone e fita magnética,1995), trilhas para vídeo (O Demiurgo, 1992, utilizado no vídeo de Denise Garcia Costa, Lena Azevedo e Yolanda Costa em 1995), para TV (produção dos documentários Paraíso, premiado pela TV Cultura em 2004) e teatro (Gilgamesh, 1995 e Drácula e outros vampiros, 1996, em colaboração com Antunes Filho), arte radiofônica (3000 anos de Jerusalém, 1995, documentário radiofônico de Regina Porto) e instalações multimídias (The Electronic Carnival, 1994, do grupo formado por Mannis, Artemis Moroni e Paulo Gomide Cohn).
Em termos estéticos, o compositor revela-se também prolixo, conciliando uma grande variedade de referências musicais (melodias folclóricas, música pop, música concreta e eletrônica, ilusões acústicas). De todo modo, apesar de toda essa mescla de referências e de interesses musicais, uma linha condutora bastante coesa pode ser encontrada em seu trabalho no que tange a interrelação entre o som e o gesto musical e a observação do material composicional através de experimentações práticas que antecedem a escrita de suas peças. Outra constante pode ser encontrada na obra do compositor em relação ao apreço que nutre pela criação de motos contínuos não direcionais gerados pela insistente repetição de motivos rítmicos curtos. Ligada em um primeiro momento a uma sonoridade quase ritual, ou tribal, como pode-se ouvir em peças como Synergie (1987), passa, no início do século XXI, a dialogar com as novas correntes populares de música eletroacústica, como o Techno e o Trance, como testemunham as peças Caribal (2000) e Q1, composta nesse mesmo ano. Esse processo revela a intenção do compositor de criar um mundo sonoro que leve o ouvinte a vivenciar um processo de interiorização quase espiritual através de uma espécie de transe criado pela repetição das entidades motívicas propostas.
Seu trabalho como intérprete pode ser compreendido como fruto das experiências profissionais vividas no seio do Ensemble l’Itinéraire, sobretudo durante os anos 1983 e 1988, mesmas experiências que o levaram a estudar tão profundamente a questão da acústica de salas e que culmina com seu trabalho de doutorado em 2008. Da mesma forma, seu interesse pela criação de um acervo de música contemporânea no Brasil e de sua documentação pode ser analisado como uma resultante do trabalho de pesquisa composicional de Mannis durante a sua estadia em Paris.
Teatro Sesc Anchieta
Fundação Bienal de São Paulo
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
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