Título da obra: Estudando o Samba

Registro fotográfico Marcus Leoni
Antônio José Santana Martins (Irará, Bahia, 1936). Compositor, cantor, arranjador e instrumentista. Com obras experimentais, transita entre ritmos e temas e amplia a sonoridade com instrumentos, equipamentos eletrônicos e colagens de fragmentos musicais.
Desenvolve o interesse pela música na prática de violão, canto e composição. Em 1960, apresenta “Rampa para o Fracasso”, canção de sua autoria, no programa Escada para o Sucesso, transmitido pela TV Itapoã. Em seguida, trabalha como diretor musical do Centro Popular de Cultura (CPC), organização ligada à União Nacional dos Estudantes (UNE) de Salvador, e intensifica a crítica política de suas canções. Após o fechamento do CPC, em 1964, estuda na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e tem aulas com o alemão Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005) e os suíços Ernst Widmer (1927-1990) e Walter Smetak (1913-1984).
A identificação do público com o tema de “Rampa para o Fracasso”, baseada na colagem de fragmentos de notícias impressas nos jornais de Salvador, associada à performance cômica, leva a novas apresentações na televisão. Em 1965, grava “Maria do Colégio da Bahia”, inspirada no jornalismo sobre temas do cotidiano. Nela, a crônica e o estilo vocal aproximam Tom Zé de Juca Chaves (1938), conhecido no anos 1960 por obras com temas políticos e sociais brasileiros.
Ainda em 1965, participa com a música “Cachorro do Inglês” [composta com Chico Assis (1933-2015)] do espetáculo Arena Canta Bahia, dirigido por Augusto Boal (1931-2009). Em 1968, vence o 4º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, com a canção “São, São Paulo”. No festival, também conquista o quarto lugar com a composição “2001” [parceria com Rita Lee (1947)].
No mesmo ano, muda-se para São Paulo e, por insistência de Caetano Veloso (1942), adere ao movimento tropicalista. Envolve-se na produção do disco Tropicália ou Panis et Circencis (1968), para o qual grava “Parque Industrial”, com a participação de Gilberto Gil (1942). A canção questiona o capitalismo como meio de redenção do Brasil e o consumo como via para a felicidade. Seu primeiro LP, Grande Liquidação (1968), aprofunda essa crítica em “Sem Entrada e Sem Mais Nada” e “Sabor de Burrice”.
A partir de 1969, rompe com o tradicional processo de composição (criação de melodia, letra e acompanhamento harmônico) e cria aleatoriamente fragmentos musicais com diferentes perfis rítmico-melódicos e instrumentos. Durante o processo, grava e repete esses módulos musicais ao longo da composição, procedimento conhecido como ostinato. Depois, sobrepõe os ostinatos em uma espécie de coral ritmicamente complexo. Só então são acrescentadas letra e melodia.
Ensaia esse procedimento nos primeiros discos, nas canções “Jimmy, Renda-se” (1970) e “O Sândalo” (1972). A técnica ganha mais espaço no disco Todos os Olhos (1973), em “Complexo de Épico” e “Cademar” e consolida-se em Estudando o Samba (1976). Neste álbum, em “Mã”, fragmentos vocais que repetem sílabas sem significado e frases como "Batiza esse neném" ou "Batizado bom" são sobrepostos a ostinatos de diversos instrumentos. Em “Toc”, acrescentam-se sons de máquinas de escrever e de outros aparelhos.
Esse estilo de composição, inusitado para o Brasil da época, contribui para o isolamento de Tom Zé por 17 anos. Em 1990, o artista é "redescoberto" pelo músico David Byrne (1952), que lança no mercado estadunidense e europeu os álbuns The Best of Tom Zé (1990) e The Hips of Tradition (1992).
Nos anos 1990 e 2000, Tom Zé retoma os trabalhos de gravação e as turnês. Explora sua técnica de composição em duas trilhas sonoras para espetáculos do Grupo Corpo: Parabelo (1997) e Santagustin (2002), parcerias com José Miguel Wisnik (1948) e Gilberto Assis (1961), respectivamente. Essa experimentação dialoga com a popularização do sampling digital1.
O tema da citação de outras gravações é central em Com Defeito de Fabricação (1998), no qual defende o plágio com bom humor. Isso também explica a existência do "CD auxiliar" em Jogos de Armar, que traz cada um dos módulos musicais utilizados no disco principal, disponibilizados como fontes para novas colagens. Em 2006, o diálogo com DJs, artistas e público da música eletrônica se intensifica com Danç-Êh-Sá – Dança dos Herdeiros do Sacrifício.
Em 2008, lança Estudando a Bossa, com composições suas sobre a história da Bossa Nova e dos anos 1950 no Brasil, e Pirulito da Ciência (2009), retrospectiva de sua carreira, com produção de Charles Gavin (1960). Em 2010, é lançada nos Estados Unidos Studies of Tom Zé – Explaining Things So I Can Confuse You, caixa com reedições de seus discos.
Em 2016, lança Canções Eróticas de Ninar, disco que traça a relação do artista com os “assuntos do sexo” embalados por ritmos dançantes. Segundo ele, há preocupação para não reproduzir a agressividade à mulher, comum no trato de temas sexuais.
No ano seguinte, lança Sem Você Não A, mais dedicado ao público infantil. Construído em forma de fábula, em parceira com o artista plástico Elifas Andreato (1946), o disco conta as aventuras do alfabeto, da curiosidade e do silêncio, ampliando as descobertas da infância.
Tom Zé transita em experimentações durante toda a carreira, seja nos arranjos musicais ou nas temáticas poéticas. Suas obras atualizam o exercício de ouvir do público, enquanto estudam possibilidades musicais e reinventam sua própria carreira.
Nota
1. Dispositivo utilizado por DJs e produtores musicais para combinar trechos de gravações de outros artistas
Tom Zé – Série Cada Voz (2019)
Nesse vídeo, Tom Zé recupera memórias da infância para contar o início de sua jornada na música. O desejo de ser amado, o complexo de inferioridade e sua incursão pela psicanálise, trazem um perfil mais íntimo do cantor e compositor.
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Tom Zé - Série Encontra - Arte 1 (2019)
Tom Zé e a esposa, Neusa, recebem Gisele Kato na casa deles. Alguns dos assuntos que passam de forma bem humorada são a presença da música no cotidiano, a experiência com a psicanálise, o que é a coragem e o medo e como é olhar para os dois.
No estúdio, o artista mostra seu “berçário de analfotóteles”, fala sobre envelhecer e a relação com Gil e Caetano, companheiros da música e da chegada aos 1980 anos.
A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Tauana Carlier
Teatro Brasileiro de Comédia (TBC)
Teatro Oficina
SESC Sorocaba
Itaú Cultural
Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: