Artigo sobre A Casta Suzana

Teatro do Parque
Registro fotográfico Cláudio Gimenez
Mariana Muniz (Caruaru, Pernambuco, 1957). Bailarina, coreógrafa e atriz. Trabalha na intersecção entre dança e teatro, associando técnicas corporais ao uso da voz e do texto. Tem diversos trabalhos apoiados por programas de incentivo às artes e reconhecimento crítico em premiações.
Nascida em Pernambuco, muda-se para o Rio de Janeiro para estudar, de 1969 a 1975, na Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal. Lá, encontra a professora Lourdes Bastos (1927), que lhe apresenta a dança moderna, e o coreógrafo Klauss Vianna (1928-1992), que a convida para trabalhar no Grupo Teatro do Movimento.
O princípio de pensar o corpo por meio da anatomia e da fisiologia, defendido por Klauss, molda o trabalho cênico de Mariana, marcado por uma atenção sistemática ao corpo e suas partes. O uso consciente da respiração, que guia esse processo perceptivo, é fator importante para a articulação que Mariana faz entre as artes, pois serve tanto para o desenvolvimento do movimento corporal quanto da voz.
Em 1982, participa do Grupo Experimental, criado por Klauss no Balé da Cidade de São Paulo. Lá, participa de dois espetáculos, Bolero e A Dama das Camélias. Depois da experiência com Klauss, trabalhos com o diretor francês Stéphane Dosse (1953), em 1984, no Teatro do Aceno, e com o diretor Antônio Abujamra (1932-2015), em 1986, intensificam sua atividade teatral.
O conjunto de trabalhos simultâneos em dança e teatro formam a estética das obras de Mariana: seu foco é continuamente o movimento, mas ele é permeado pelo teatro enquanto motivo e referência. Ela compreende essa articulação artística como um estar na dança e estar no teatro, simultaneamente ser bailarina e atriz. Não se trata de apagar a fronteira entre as artes, e sim de não reconhecê-las como completamente separadas. Expressividade, presença cênica, movimentação, texto e voz são elementos que convergem em sua estética.
Essa proposta é bem avaliada em seu primeiro trabalho solo em São Paulo, Paidiá (1989), pelo qual recebe o prêmio de melhor autora-intérprete em dança da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Paidiá faz um encontro entre dança moderna e teatro, com um roteiro inspirado em textos do poeta Paulo Leminsky (1944-1989), Machado de Assis (1839-1908) e Mário de Andrade (1893-1945), numa reflexão sobre o Maracatu. Desenvolve-se com a imagem da boneca Calunga, figura central dos cortejos. Transformada em máscara, a Calunga é usada na obra como se fosse um segundo elemento de um solo.
As descobertas que Mariana faz por meio da experimentação e teatralização da dança se fundamentam em pesquisa contínua. Ao longo de sua formação, estuda eutonia, body-mind centering (BMC) e Tai Chi, que lhe servem como guias para o entendimento do corpo e da movimentação.
Sua vocação para esse tipo de produção e pesquisa em dança é reconhecida institucionalmente quando recebe financiamentos públicos. Por meio do Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo, funda, em 2007, a Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança, com a qual expande sua produção como coreógrafa. Simultaneamente trabalha como atriz, sobretudo com o Grupo Tapa, do diretor Eduardo Tolentino (1954), a partir de 2011.
Em trabalhos recentes, como Fados e Outros Afins (2018), mantém a mistura de atuação com coreografia, texto, música e canto. Na obra, Mariana realiza uma viagem de Portugal ao Brasil, em um palco transformado em Oceano Atlântico. A bailarina navega entre canções, textos e dança, afirmando sua proposta de convergência das artes. O movimento do corpo se inicia no chão, com torções expressionistas e uma rigidez que se transforma, ao longo da obra, em cenas de acalento. A imagem de angústia do mar está sempre presente, contrastando com as outras linguagens. Em determinado momento, Mariana manipula um esqueleto dourado como se este fosse um barco, deslocando-se pelo espaço.
Inserida num contexto brasileiro de dança-teatro, a produção artística de Mariana Muniz se apoia em seus vários interesses e formações para fazer convergir linguagens. Não se trata só de dança nem só de teatro, assim como a intérprete não se vê só bailarina ou só atriz. Multiplicidade, a partir da mistura.
Mariana Muniz - Série Encontra - Arte 1 (2019)
Mariana Muniz, bailarina e coreógrafa, conta sobre sua teimosia ao ser diagnosticada na infância com um problema ortopédico e receber a notícia de que jamais faria dança. Ainda assim, embora não tivesse o “pé em arco” das bailarinas, decidiu pelo balé. Sua trajetória toma forma com a compreensão da dança por meio da anatomia e fisiologia humanas, seguindo a premissa de Klauss Vianna.
O casamento com o fotógrafo Cláudio Gimenez e outras parcerias afetivas desenvolvidas ao longo da vida são explorados em seu espaço de dança, em São Paulo.
A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Lucas Brum
Teatro do Parque
Teatro Galpão
Teatro Procópio Ferreira
Teatro do Bixiga
Teatro Ventoforte
Teatro Ventoforte
Teatro Sesc Anchieta
Teatro Popular do Sesi (TPS)
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