Artigo sobre Tocata em Fuga

Registro fotográfico André Seiti
Maria Ângela Abras Vianna (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1928). Bailarina, professora, coreógrafa, pesquisadora. Angel Vianna é precursora das noções de Consciência/ Expressão Corporal no Brasil. Seu trabalho firma-se no Rio de Janeiro, onde forma profissionais que contribuem para diversificar a dança no país. O pioneirismo em relacionar dança e reeducação do movimento é hoje reconhecido nos três campos em que atua: arte, terapia e educação.
Aos 17 anos, estuda piano e, aos 20, inicia-se em dança no Ballet de Minas Gerais (BMG), primeira escola de balé de Belo Horizonte, dirigida pelo professor Carlos Leite (1914-1995). Em 1952, completa o tripé de sua formação artística com o curso de Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Ainda estudante, é premiada no 1o Festival Universitário de Arte, com a escultura Pé de Bailarina (1952). Essa intersecção entre as artes e o corpo é sustentada em toda sua trajetória.
O interesse pelos estudos anatômicos concretiza-se no curso de Anatomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que frequenta informalmente. Na década de 1960, ao lado de Klauss Vianna (1928-1992), estuda com Antonio Brochado, anatomista docente da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A intelectualidade artística e política que se reúne na revista mineira Complemento [1], a Geração Complemento, na década de 1950, contamina-a pela interdisciplinaridade.
Em 1955, é responsável pelos figurinos de Cobra Grande, espetáculo baseado no texto modernista de Raul Bopp (1898-1984) e primeiro balé de Klauss como coreógrafo. No mesmo ano, Angel e Klauss se casam. Em 1958, nasce o primeiro e único filho do casal, Rainer Vianna (1958-1995), que também segue carreira como bailarino.
No ano seguinte, oficializa, junto a Klauss, o emblemático Ballet Klauss Vianna. As obras apresentadas pela companhia apontam o interesse modernista por "uma dança brasileira".
Convidados para ministrar um curso de férias na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Klauss e Angel integram o corpo docente entre 1963 e 1965.
Angel muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como dançarina em programas de televisão e leciona no Ballet Tatiana Leskova (1922), por quase nove anos. Nesse período, inicia a turma de Expressão Corporal para Atores, um dos principais focos de seu trabalho.
Em 1967, integra o corpo de baile da Cia. Dalal Achcar com participação no espetáculo Giselle, apresentado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. É o último momento de Angel Vianna em cena, iniciando um intervalo de vinte anos longe dos palcos.
Na década de 1970, Angel recebe convites para ministrar cursos por todo o Brasil e assina direção corporal de atores em diversas peças. Em 1972, ministra curso de Expressão Corporal no Conservatório Brasileiro de Música.
Em 1975, funda o Grupo Brincadeiras, que dança em manicômios, presídios e escolas. A companhia chega ao fim no mesmo ano, quando os bailarinos se recusam a dançar com os internos de um manicômio judiciário. Ainda em 1975, ao lado de Teresa D’Aquino e Klauss, funda o Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, conhecido como “Corredor Cultural”, no Rio de Janeiro[2], e iniciam o grupo Teatro do Movimento. Construção (1979-1980), coreografia de Angel, está entre os últimos trabalhos do grupo, desfeito em 1980, depois de perder subsídio da Funarte.
Em 1995, cria o Novo Grupo Teatro do Movimento. No ano seguinte, funda o Instituto de Pesquisa Arte Corpo e Educação (Ipaceav), para a promoção de conhecimentos sobre o corpo nas artes, com ênfase no trabalho para pessoas com necessidades especiais.
Em 1997, recebe o Prêmio Mambembe, mesmo ano em que estreia, de muletas, o solo Angel, Simplesmente Angel, uma homenagem a Rainer e a Klauss, no evento Comfort Dança. Em 1998, apresenta o solo Memória em Movimento, no Panorama RioArte de Dança. Também é homenageada com a exposição Memórias em Movimento – Angel, Klauss e Rainer Vianna, no Centro Cultural Gama Filho, Rio de Janeiro. Angel Vianna recebe o título de doutora Notório Saber (2003), em Conscientização do Movimento, Cinesiologia e Dança, na Ufba.
Participa dos espetáculos Inscrito (1999), A Tempo (2007), Qualquer Coisa a Gente Muda (2010), Ferida Sábia (2012), Amanhã é Outro Dia (2016) e Tempo Não Dá Tempo (2018).
Angel Vianna permanece ativa em suas pesquisas. O interesse pela dança, pautado na observação dos corpos, tece seus passos, fazendo de sua pedagogia uma proposta de dissolução dos limites do corpo autorizado a dançar. O percurso de Angel é fundante na tradição dos Viannas, muitas vezes restrita, equivocadamente, a Klauss.
1. “[...] os romancistas Ivan Ângelo (1936) e Silviano Santiago (1936), também poeta e ensaísta, lançaram a revista Complemento, que durou quatro números entre 1956 e 1958, que contava com a colaboração de críticos de cinema (Maurício Gomes Leite [1936-1993] e Flávio Pinto Vieira [1939-2008]), artes plásticas (Frederico Morais [1936]), teatro (João Marschner [1932-2002]) e música (Ezequiel Neves [1935-2010]), conhecidos como a “Geração Complemento”. In: RUFFATO, Luiz. Revistas literárias em Belo Horizonte. Rascunho, Curitiba, jan. 2012. Lance de dados. Disponível em: http://rascunho.com.br/revistas-literarias-em-belo-horizonte/. Acesso em: 3 abr. 2018.
2. O Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação surge pela necessidade de um espaço voltado à pesquisa baseada no corpo, como afirma a matéria publicada pelo jornal O Globo, em 15 de junho de 1975: “A organização de um centro de pesquisa sobre o corpo é a meta de Angel, Klauss e Teresa D'Aquino, que acabam de inaugurar sua academia. Fica numa velha casa simpática na Rua Góes Monteiro em Botafogo e, apesar de ser recente, já conta com muitos alunos”. In: O GLOBO. O corpo como objeto de pesquisa. O Globo, Rio de Janeiro, 15 jun. 1975. Jornal da Família. Disponível em: http://acervo.oglobo.globo.com/consulta-ao-acervo/?navegacaoPorData=197019750615.
Angel Vianna – Série Cada Voz (2019)
Nesse vídeo, Angel Vianna fala sobre a relação com o pai, o encontro com Klauss Vianna, a morte precoce do filho e sua percepção sobre a vida e a morte.
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Teatro Francisco Nunes
Teatro Francisco Nunes
Teatro Francisco Nunes
Teatro Universitário UFMG
Sala Cecília Meireles (Rio de Janeiro, RJ)
Teatro Nacional de Comédia
Teatro Opinião
Teatro Tereza Raquel
Teatro Ipanema
Teatro João Caetano (Rio de Janeiro, RJ)
Teatro dos Quatro
Teatro Glória
Museu de Arte do Rio (MAR)
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