Artigo sobre Exposição Geral de Belas Artes (12. : 1905 : Rio de Janeiro, RJ)

Biografia
Theodoro José da Silva Braga (Belém, Pará, 1872 - São Paulo, São Paulo, 1953). Pintor, decorador, professor, caricaturista, historiador, crítico de arte. Forma-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1893. Ao mesmo tempo, inicia estudos em arte com o pintor paisagista Jerônimo José Telles Jr. (1851-1914). Produz caricaturas para a imprensa da região.
Em 1894, transfere-se para o Rio de Janeiro e faz caricaturas para o Jornal do Commercio e a revista Vera Cruz. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e tem como professores Belmiro de Almeida (1858-1935) e Zeferino da Costa (1840-1915). Recebe o Prêmio de Viagem em 1899, estuda na Academia Julian em Paris entre 1900 e 1905, com os pintores Jean P. Laurens (1838-1921) e Benjamin J. Constant (1845-1902). Volta-se para a pintura histórica e artes decorativas. Regressa ao Rio em 1905, e realiza a primeira exposição individual, exibida, a seguir, em Recife e Belém. De volta ao Pará, cultiva o interesse por história e ciências naturais. Dedica-se ao estudo de motivos decorativos indígenas e da flora e fauna locais.
Por encomenda do município de Belém, pinta A Fundação da Cidade de Nossa Senhora de Belém (1908). Em busca de fontes para a realização da obra, viaja a Portugal. Redige e ilustra contos folclóricos para crianças, publicados em 1911. Para o tricentenário de fundação de Belém, publica Apostilas de História do Pará (1916), distribuída nas escolas e reeditada pelo Conselho de Cultura em comemoração ao centenário de seu nascimento. Publica ainda A Arte no Pará, 1888-1918: Retrospecto Histórico dos Últimos Trinta Anos (1918). Dirige o Instituto de Formação Profissional Lauro Sodré e promove exposições de trabalhos produzidos por estudantes entre 1908 e 1920.
Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1921, leciona na Enba e dirige interinamente o Instituto de Formação Profissional João Alfredo. Fixa residência em São Paulo e, em 1925, torna-se professor do Instituto de Engenharia Mackenzie e diretor da Escola de Belas Artes. Nos anos 1930, em Perdizes, São Paulo, constrói para si uma casa com motivos marajoaras.
Realiza na Escola Normal do Brás a conferência “O Ensino do Desenho em Nossas Escolas”, transmitida por rádio. Publica artigos sobre o ensino do desenho no Rio de Janeiro a partir de 1921. Faz experiências inovadoras no ensino artístico, como a adoção de modelos baseados na natureza local, ao lecionar na Escola Brasileira de Arte. Publica Desenho Linear Geométrico (1951) e Artistas Pintores no Brasil (1942), que reúne referências sobre centenas de artistas.
Comentário crítico
A produção de Theodoro Braga estende-se pela pintura, decoração, ensino, crítica de arte. Extrapola o campo artístico, abrangendo a História e o folclore, que complementam seu interesse pela cultura amazônica.
O período de formação na França consolida a predileção pela pintura histórica e lhe dá as bases para uma compreensão mais ampla do papel da arte decorativa, que Braga observa em meio a voga do art noveau. Tal como o pintor Eliseu Visconti (1866-1944), Braga foi atento à produção de Eugène Grasset (1841-1917). A partir de 1905, utiliza formas mais geometrizadas em obras decorativas. Compõe um rico repertório de ornamentos intitulado A Planta Brasileira (Copiada do Natural) Aplicada à Ornamentação (1905), com aquarelas de elementos da flora, fauna e de motivos marajoaras, seguidos de suas estilizações em composições decorativas.
O interesse pelo folclore está a par com a importância dada à história. Em seus escritos sobre a história do Pará, enfatiza o papel do indígena na constituição da cultura local. A pintura Fundação da Cidade de Nossa Senhora de Belém (1908) apresenta a chegada da frota de Castelo Branco (1566-1619) à cidade. Em meio à cultura efervescente, propiciada pelo ciclo da borracha, a obra gera grande expectativa na elite local. Sua apresentação ocorre no Teatro da Paz, durante a comemoração do aniversário de seu encomendante, o intendente Antônio Lemos (1897-1911). Para a execução, o artista realiza extensa pesquisa histórica, apresentada na nota explicativa da pintura. A produção coincide com um momento de reconfiguração da historiografia da região amazônica, que busca reconhecimento territorial e a inserção na história nacional. Com atenção a cada personagem, natureza e cor local, a obra representa o marco fundador de uma identidade amazônica.
Os temas históricos que pinta enfatizam o caráter discursivo, como o tríptico Périplo Máximo de Antonio Raposo Tavares (1928), pertencente ao Palácio Bandeirantes, em São Paulo. Pinta as obras Anhanguera, Padre Provincial Alexandre de Gusmão e Padre Antonio Vieira (1917), nas quais percebe-se uma tentativa de aproximação entre pintura e história.
A partir dos anos 1910, promove o debate sobre a reformulação do ensino do desenho na Enba e no ensino regular de todos os níveis, defendendo a utilização de repertório nacional como modelos. Para Braga, a livre expressão deve estar alicerçada em estudo rigoroso desde os níveis primários de ensino.
Entre suas críticas ao programa de desenho do Colégio D. Pedro II em 1926, estão a desarticulação dos exercícios, a exigência de precisão à mão livre em anos iniciais da formação, a cópia exaustiva de sólidos geométricos e a pouca ênfase à perspectiva. Publica, em 1922, o artigo “Nacionalização da Arte Brasileira”, em que conclama a manifestação de um sentimento patriótico no campo das artes. Vê, na educação do operariado, a expansão do conhecimento das coisas pátrias, para que se possa “produzir arte nacional por artistas nacionais”, o que, segundo Braga, já está em curso nas belas artes, mas deficiente nas artes aplicadas. Para tal propósito defende a implementação do ensino artístico técnico, voltado às artes decorativas, tendo como disciplina fundamental o desenho específico para cada ofício.
Seu programa para o ensino da arte decorativa é implementado pelo artista Carlos Hadler (1885-1945) no curso de Pintura da Escola Profissional de Rio Claro a partir de 1927. Esse sistema, segundo Braga, dá suporte a um estilo nacional já conhecido pelos indígenas.
Palácio das Arcadas (São Paulo, SP)
Nicholas Roerich Museum
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