Artigo sobre Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 (2012 : São Paulo, SP)

Galeria Flávio de Carvalho
Márcia Pastore (São Paulo, 1949). Artista plástica. Sua produção tem o predomínio da escultura como território de exploração dos limites poéticos da matéria e sua relação espacial e referencial com o corpo, com certo sensualismo brutalista.
Forma-se em artes plásticas pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie em 1986 e frequenta o curso de arquitetura na mesma instituição, mas sem concluir a segunda graduação. Entre 1987 e 1989, faz cursos livres, como os do artista plástico Nuno Ramos (1960), do escultor Paulo Monteiro (1961), e do artista plástico Carlos Fajardo (1941), com enfoque em desenho e pintura. Frequenta aulas de estética do crítico e curador Alberto Tassinari (1953) e também a primeira turma do curso de história da arte do historiador e crítico Rodrigo Naves (1955).
Sua primeira participação expositiva acontece no 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea em 1988. Desse mesmo ano, merece destaque a participação na 1ª Bienal de Escultura ao Ar Livre na cidade do Rio de Janeiro, ocorrida nas dependências do Parque Lage, em que recebe menção honrosa. Ao longo de 1989, participa de diversas coletivas, entre as quais se destaca o 11ª Salão Nacional de Artes Plásticas na Funarte do Rio de Janeiro, quando é contemplada com o 3º prêmio Bolsa Emile Eddé para jovens artistas do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP).
A primeira exposição individual de Márcia Pastore acontece em 1990 nas dependências do MAC-USP, resultante do financiamento da premiação Bolsa Emile Eddé do ano anterior. A peça escultórica Sem Título, integrante dessa individual, encontra-se desde 1994 instalada permanentemente em frente à antiga sede do museu, e é constituída por uma massa asfáltica contida por três tiras de aço em forma quadrangular irregular, mas que sugere um eminente vazamento de seu conteúdo. A escolha do material segue o interesse central da pesquisa plástica de Pastore no período: o uso de materiais industriais, aplicados geralmente no setor da construção civil, em deslocamento de sua função e em diálogo dual com aspectos da tradição escultórica como volumetria, negatividade do espaço, horizontalidade versus verticalidade, equilíbrio e peso, por meio de materiais ditos não nobres, mas já consagrados pelo sistema das artes a partir do minimalismo e arte povera. Nessa peça em particular, sucede um contraste entre a materialidade de sua fatura, pesada, volumosa e áspera, e seu entorno, um jardim amplo com cercania de árvores e com intenso trânsito do corpo universitário.
Ao longo de sua trajetória, Pastore tem trabalhado com o tensionamento entre materiais aparentemente opositores em sua estrutura, em que articula as especificidades de sua consistência e função, em relação aos espaços de instalação e intervenção. Dessa maneira, ela mobiliza as estratégias construtivas de sua formação parcial em arquitetura e os campos da engenharia projetual e de materiais, territórios de fascínio já antigos da artista, a fim de obter em suas peças um estranhamento funcional de elementos e formas empregados. Corpos pesados em frágil equilíbrio efetuam uma distensão narrativa da espacialidade a partir de sua presença e abrem espaço para a relação espacial do corpo feminino com as formatações e delimitações arquitetônicas, como na peça Sem título (1989), em que pedras são contidas por tiras de borracha formando uma parede de bordas ovaladas com dificuldade de contenção e equilíbrio, ou peças delicadas em condição de tensionamento maquinário, como em Risco (2013), em que bastões com grafite na ponta efetuam um desenho mecânico de acordo com o agenciamento da artista na peça.
O corpo da artista torna-se gradativamente ferramenta de experienciação da espacialidade e da matéria. Ainda que na produção de Pastore se mantenha a larga presença matérica das substâncias mobilizadas para rearranjar o espaço expositivo e escultórico e sua função construtiva, o corpo e sua gestualidade passam a ocupar um lugar de orquestração nas medições, proporções, delimitações de forma e disposição compositiva. Na série Frestas, produzida pela primeira vez entre 2003-2004, a artista realiza moldes dos vãos, dobras e restos gestuais de seu corpo no espaço e em contato com materiais maleáveis em sua estrutura, como gesso e resina, e realoca esses moldes esculturais ao longo do local expositivo em condição fantasmagórica, flutuante, de modo que muitas vezes se escondem no espaço.
Em 2017, a artista realiza no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE) a exposição individual Corpo de Prova, em que retira amostras de material da estrutura arquitetônica modernista de Paulo Mendes da Rocha (1928), e, com base nesses vestígios, redesenha o espaço negativo do vão. Em 2019, na Estação Pinacoteca (Pina_Estação) do Estado de São Paulo, abre sua primeira exposição retrospectiva com um conjunto de trabalhos produzidos ao longo de 20 anos e que delimitam uma mudança de paradigma em sua carreira.
Partindo de um fascínio pelos limites e contrastes entre materiais do universo da construção civil e das indústrias construtivas, Márcia Pastore é capaz de tensioná-los a ponto de abandonarem parte de sua aridez simbólica para interagirem com as impressões e marcações espaciais dos corpos, até se tornarem vestígios dessa presença no mundo.
Galeria Flávio de Carvalho
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Fundação Nacional de Artes. Centro de Artes
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Paulo Figueiredo Galeria de Arte
Valu Oria Galeria de Arte
Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA)
Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi
Galeria Casa da Imagem
Galeria Casa da Imagem
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
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Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
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Fundação Bienal de São Paulo
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