Título da obra: Edifício Copan


Reprodução fotográfica arquivo do artista
Edifício Copan
,
1995
,
Cristiano Mascaro
Reprodução fotográfica arquivo do artista
Ícone da paisagem e da metropolização da cidade de São Paulo, o Edifício Copan é representativo da obra de Oscar Niemeyer (1907-2012). A construção é idealizada em 1951 por um grupo de empreendedores paulistas, à frente do Banco Nacional Imobiliário (BNI), e norte-americanos da Intercontinental Hotels Corporation, de Nova York. Ambos associados na Companhia Pan-América de Hotéis e Turismo (Copan), sigla pela qual o prédio é conhecido. O edifício faz parte de um complexo arquitetônico lançado em 1954, ano do 4º centenário de fundação da cidade. A construção busca incrementar o turismo em São Paulo, em período de crescimento econômico.
A associação entre blocos verticais de habitação com galerias de uso misto não é inédita nem exclusiva do Copan. Comum desde os anos 1940, essa tipologia é fruto do interesse de investidores em diversificar os negócios, da aproximação de arquitetos brasileiros com o conceito de unidade de vizinhança proposta pelo franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) e de experiências estadunidenses, como o Rockefeller Center de Nova York (1929). Entretanto, na Unidade de Habitação de Marselha (1946-1952) proposta Corbusier, as atividades coletivas localizam-se no teto-jardim; na versão paulistana, concentram-se no térreo e na sobreloja, dirigidas para a cidade e não apenas para os moradores do edifício.
O primeiro projeto do Copan é desenvolvido por uma firma estadunidense, mas é recusado pelos investidores brasileiros. Eles rompem a sociedade e convidam Niemeyer para realizar uma nova proposta. Esse arquiteto, responsável pelo projeto mais importante da cidade naquele momento, o Parque Ibirapuera (1951-1954), é uma das estratégias do BNI para atrair clientes, minimizando os riscos envolvidos no sistema de construção do “condomínio a preço de custo”1.
Em 1954, com a decisão do Banco Central de separar as atividades financeiras das imobiliárias, o BNI cria a Companhia Nacional de Investimento (CNI), responsável pela construção do edifício até 1957. Nesse ano, o BNI entra em falência, e a CNI vende o empreendimento para o banco Bradesco, que conclui a obra em 1970.
Por meio do banqueiro Orozimbo Roxo Loureiro, Niemeyer aproxima-se do BNI. O arquiteto realiza para a instituição a Galeria Califórnia (1951-1955) e os edifícios Montreal (1951-1954) e Eiffel (1953-1956), todos em São Paulo. Em 1950, projeta, para o mesmo banco, o Clube dos 500, perto da cidade de Guaratinguetá, no interior paulista. Dada a quantidade de projetos na capital paulista, o diretor do BNI, o jornalista Otávio Frias de Oliveira (1912-2007), sugere a criação de uma filial paulista do escritório de arquitetura de Niemeyer, a ser chefiada pelo arquiteto Carlos Lemos (1925), seu amigo e responsável por outras obras do banco na cidade. A sugestão é aceita por Niemeyer.
Os projetos estruturais são desenvolvidos pelo Escritório Técnico, formado pelos engenheiros Oswaldo de Moura Abreu, Waldemar Tietz (1889-1978) e Nelson de Barros Camargo, com os quais Niemeyer tem relacionamento difícil. Para o arquiteto, esse fato, agravado pela distância e a ingerência dos clientes, desvirtua seu projeto, que é, por isso, desautorizado.
O incômodo do arquiteto com essa produção é comentado em seu famoso Depoimento (1958), no qual afirma que, por descrença na capacidade da arquitetura de superar as contradições sociais do país, ele se descuida “de certos problemas e [adota] uma tendência excessiva para a originalidade, [incentivada] pelos próprios interessados, desejosos de dar a seus prédios maior repercussão e realce”, muitas vezes comprometidos apenas com a “pura especulação imobiliária”. Diante disso, ele reduz os trabalhos no escritório, recusa propostas de interesses apenas comerciais e busca “uma simplificação da forma plástica e o seu equilíbrio com os problemas funcionais e construtivos”2. A ruptura anunciada no artigo não se verifica do ponto de vista arquitetônico. Germes da busca por concisão, “soluções compactas, simples e geométricas”3 estão presentes na Igreja de São Francisco de Assis (1943), na Pampulha, Belo Horizonte, e no edifício Copan4.
É claro o diálogo estabelecido por Niemeyer entre o Copan e outras obras suas: o Pavilhão de Nova York (1939), nos Estados Unidos, elaborado com Lucio Costa (1902-1988); o Conjunto Quitandinha (1947), em Petrópolis, Rio de Janeiro (não construído); o Edifício Montreal, o Conjunto JK (1953-1954) e a Biblioteca Pública Estadual Luiz Bessa (1954-1955), em São Paulo; e o Edifício Niemeyer (1954), em Belo Horizonte. Esse diálogo estabelece-se pela natureza moldável do concreto armado, por permitir uma continuidade plástica expressa no formato sinuoso da marquise e do bloco de habitação, com seus brises-soleils5 horizontais contínuos; pela unidade do conjunto; pelo dinamismo da composição alcançado com a contraposição de blocos curvilíneos e retilíneos; pela leveza das formas; e pela implementação primorosa.
O edifício curvilíneo no centro do lote é destinado à habitação; o outro, retilíneo e mais baixo, beira a avenida Ipiranga e o hotel. Originalmente, uma marquise interliga os dois blocos, e abriga, no térreo e na sobreloja, salas comerciais e de serviço, restaurante, cinema, teatro e um teto-jardim. Com a venda do empreendimento para o Bradesco e o afastamento de Niemeyer, o projeto sofre alterações.
O bloco do hotel é redesenhado por Carlos Lemos para abrigar a sede do Bradesco (1966-1970), respeitando apenas a volumetria original. A marquise fica restrita ao bloco habitacional, rompendo a unidade entre os dois edifícios e a fluidez original do térreo e do teto-jardim, que não é executado. No edifício habitacional, os apartamentos, antes unidos por uma circulação central, são divididos em blocos estanques de quitinetes e apartamentos de 1, 2 e 3 dormitórios.
1. Segundo Daniela Viana Leal, nesse sistema, os clientes pagam 50% do valor do terreno e do imóvel no ato da compra e a outra metade ao final da obra. Com isso, os empreendedores ficam obrigados a lançar novos edifícios simultâneos para conseguir suprir a defasagem do período da construção, gerando, por vezes, problemas de liquidez.
2. NIEMEYER, Oscar. Depoimento. In: XAVIER, Alberto. Depoimento de uma geração – arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 238-239.
3. Ibidem, p. 239.
4. WISNIK, Guilherme. Modernidade congênita. In: ANDREOLI, Elisabetta; FORTY, Adrian (Orgs.). Arquitetura moderna brasileira. London: Phaidon, 2004. p. 30; WISNIK, Guilherme. Oscar Niemeyer. São Paulo: Publifolha, 2011. p. 12-14.
5. Recurso arquitetônico que utiliza lâminas horizontais, verticais ou mistas (móveis ou não) para controlar a incidência direta da radiação solar. É um dos principais elementos compositivos da arquitetura moderna.
Reprodução fotográfica arquivo do artista
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