Título da obra: Cartaz do filme Mulher, Mulher


Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Cartaz do filme Mulher, Mulher
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ca. 1979
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Benício
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Mulher, Mulher, dirigido por Jean Garrett (1947-1996), é o terceiro filme do cineasta produzido por Manoel Augusto Cervantes, da Maspe Filmes. Segundo informações de Nuno César Abreu1, o filme é uma produção típica da Boca do Lixo paulista. Cervantes financiava o filme até o final das filmagens, quando então, negociava o acabamento e o seu lançamento junto aos distribuidores. Mulher, Mulher foi muito bem sucedido na bilheteria2.
Este filme faz parte de um segmento específico da produção de filmes eróticos que, de acordo com o pesquisador Inimá Simões3, une a exploração da nudez feminina com maior atenção ao tratamento das imagens e algumas referências culturais eruditas. Há uma preocupação em desvincular-se da imagem grosseira e mal-acabada, atribuída na época aos filmes da Boca do Lixo. O tema de Mulher, Mulher, uma personagem complexa, em busca de superar suas neuroses, é bastante intelectualizado, se comparado a outros filmes eróticos.
A personagem principal é interpretada por Helena Ramos, atriz então conhecida e elogiada pelo público das chamadas pornochanchadas. O filme apresenta a história de Alice, uma jovem que reavalia a própria vida após se tornar viúva de um renomado psiquiatra, que pesquisava a felicidade no amor e no sexo. Alice não era uma mulher realizada; ao contrário, sentia-se traumatizada, por ser obrigada pelo marido a estranhas práticas sexuais. Depois de sua morte, Alice passa por uma grande crise. Um dia, ela encontra fitas gravadas com depoimentos dos pacientes do psiquiatra. Neles, ouvem-se relatos sobre as formas como encontraram o desejo sexual. Este encontro passava pela recorrente experiência do que era condenado pela sociedade, como a necrofilia, a homossexualidade feminina e a troca de casais. Alice sente prazer ao escutar os depoimentos. Em um sítio, nas proximidades do litoral paulista, Alice fantasia seu envolvimento com uma estudante feminista, com o caseiro, e com o advogado da família, Luiz Carlos (Denys Derkian) que, após a morte do psiquiatra, tenta, sem sucesso, se aproximar de Alice . Ao final ela supera seus problemas ao final, quando, após uma alucinação em que presencia a morte do marido, aceita Luis Carlos.
Mulher, Mulher reafirma vários traços de outros filmes da Boca do Lixo e, como outras obras eróticas conhecidas pelo termo soft-core, procura se esquivar da ação da censura. O filme é apresentado como um produto pornográfico, embora não possua cenas de sexo explícito. Algumas das imagens exibem Helena Ramos nua, ou com roupas molhadas, ou se masturbando, mas sem a apresentação direta de atos sexuais. Uma das estratégias é atrair o público com a sugestão de perversões eróticas.
Por seu sucesso, o filme incentiva a produção de uma série de filmes pornôs, realizados na Boca do Lixo ao longo dos anos 1980, como A Menina e o Cavalo (1983), de Conrado Sanchez, Sexo a Cavalo (1985), de Juan Bajon e Experiências Sexuais de um Cavalo (1985), de Rubens Prado.
Mulher, Mulher é retido pela Censura durante cinco meses, mas liberado sem cortes para exibição comercial. A maior parte dos críticos demonstra decepção, como Inimá Simões, que comenta que o filme recai num psicologismo barato4. Outros críticos identificam o filme uma seriedade e um formalismo que destoam da maioria dos filmes eróticos. Jairo Ferreira, por sua vez, elogia Mulher, Mulher por sua depuração pela interpretação de Helena Ramos5.
1 ABREU, Nuno César. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas: Ed. da Unicamp, 2006.
2 Segundo Inimá Simões, no livro "O Imaginário da Boca", o filme de Garrett custou 2 milhões e rendeu 25 vezes mais, em menos de 1 ano.
3 SIMÕES, I. O imaginário da Boca. Cadernos Idart 6. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura do Estado de S. Paulo, Centro de Documentação e Informação sobre Arte Brasileira Contemporânea, 1981.p.48.
4 SIMÕES, Inimá. "Boca do Lixo ainda." Filme Cultura, n.37, jan./fev./mar. 1981. p.44
5 FERREIRA, Jairo. "Parabéns Jean Garrett." Folha de S. Paulo, Folhetim, 9 set. 1979. p.15.
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
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