Titãs
Texto
Titãs é um grupo musical de rock formado na cidade de São Paulo em 1982, composto originalmente por nove integrantes. A trajetória da banda é representativa das transformações do rock brasileiro do final do século XX e início do século XXI. Os Titãs protagonizaram mudanças significativas no estilo musical, marcadas pela originalidade de suas composições e pelo rigor de sua produção musical.
A primeira formação da banda contava com Arnaldo Antunes (1960), Branco Mello (1962), Ciro Pessoa (1957-2020), Marcelo Fromer (1961-2001), Nando Reis (1963), Paulo Miklos (1959), Sérgio Britto (1959), Tony Bellotto (1960) e André Jung (1961), sendo este substituído por Charles Gavin (1960) em 1984. Com exceção de Bellotto e Gavin, todos integrantes dos Titãs estudam e tornam-se amigos no Colégio Equipe, em São Paulo, na década de 1970. O grupo é formado em 1982 a partir dos integrantes de três conjuntos distintos: Mello, Fromer e Bellotto, do Trio Mamão e as Mamonetes; Arnaldo Antunes e Paulo Miklos do grupo Aguilar e a Banda Performática, e Nando Reis do grupo Sossega Leão. Ciro Pessoa não atua em nenhum conjunto anterior aos Titãs. O noneto atua pela primeira vez sob o nome de Titãs do Iê-Iê em agosto de 1982 no teatro Lira Paulistana. Em 1984, Pessoa sai do grupo, que encurta o nome para Titãs e assina contrato com a gravadora WEA. O primeiro disco, Titãs (1984) é bem recebido pela crítica com "humor surpresa, rock amalucado e sem rejeitar gêneros"1, que destaca também a formação excepcional da banda: todos os membros são compositores, e cinco deles, cantores. O álbum seguinte, Televisão (1985), produzido por Lulu Santos (1953), reafirma a ironia e as influências dos integrantes vindos das artes performativas e visuais – exemplificadas nas coreografias e no comportamento de palco e na atuação do grupo em videoclipes, como o da canção "Televisão" –, bem como da poesia concreta, em letras como a de "Babi índio".
A partir da sonoridade punk, a banda promove uma revisão musical no álbum seguinte, Cabeça dinossauro (1986), que se torna o primeiro grande sucesso de vendas dos Titãs. Produzido por Liminha (1951), o disco traz uma unidade sonora calcada nas guitarras de Bellotto e Fromer e expõe uma revisão de valores sociais e políticos em canções como "Polícia", "Igreja" e "Estado violência". A ironia lírica dos compositores, característica da banda, está presente em "Bichos escrotos", "Família" e "Homem primata". Em retrospectiva musical promovida pela imprensa, a crítica garante a Cabeça dinossauro o título de melhor disco de rock da década de 1980. Essa colaboração com Liminha rende uma trilogia com outros dois discos igualmente bem-sucedidos: Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987) e Õ blésq blom (1989), álbum que consolida a carreira do grupo ao apresentar uma "alta sofisticação intelectual e tecnológica aliada à brutalidade"2, presente nos versos sintéticos "antipanfletários" das letras, inspiradas pela poesia concreta, e na produção musical que converge a sonoridade punk aos sintetizadores e baterias eletrônicas.
Em Tudo ao mesmo tempo agora (1991), os oito integrantes decidem pela primeira vez assinar a produção do disco. Com a ascensão midiática de estilos musicais diversos, como o sertanejo, a axé music e o pagode, o rock perde o protagonismo na indústria fonográfica brasileira, e o álbum frustra as expectativas da banda. No ano seguinte, no décimo aniversário do grupo, Arnaldo Antunes deixa os Titãs. Em 1993 é lançado o disco Titanomaquia, primeira colaboração da banda com o produtor norte-americano Jack Endino (1964), que produz todos os discos da banda até 2005, com exceção de Acústico MTV (1997). Produzido por Liminha, este disco gravado ao vivo conta com a participação do músico jamaicano Jimmy Cliff (1944), do argentino Fito Paez (1963) e de Marisa Monte (1967) e se torna o grande recordista de vendas da história dos Titãs, alcançando, em cinco meses, um milhão de cópias vendidas.
Em 2001, Marcelo Fromer morre durante a pré-produção de A melhor banda de todos os tempos da última semana. Mantendo os arranjos esboçados por Fromer, a banda convida o guitarrista Emerson Villani (1972) para a gravação e a turnê do disco. "Epitáfio" se torna a canção dos Titãs com o maior número de execuções públicas no século XXI. No ano seguinte, Nando Reis deixa a banda. O grupo segue como quinteto em mais dois discos de estúdio: Como estão vocês? (2003) e Sacos plásticos (2009). Em 2010 é a vez do baterista Charles Gavin deixar o grupo. A banda lança Nheengatu (2014) e Nheengatu ao vivo (2015) e se torna um trio com a saída de Paulo Miklos em 2016. Os três integrantes remanescentes, Tony Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto, criam a ópera rock Doze flores amarelas (2018) e, em comemoração às duas décadas do Acústico MTV, lançam o EP Titãs trio acústico (2020).
Depois da consolidação como prestigiado grupo musical brasileiro nos anos 1980, a banda decresce em número de integrantes ao longo dos anos, até chegar ao formato de trio em 2016. A mudança estrutural se reflete, a partir da década seguinte, numa produção musical mais heterogênea, com a participação de diferentes músicos e produtores, mas ainda frequente.
Notas
1. "Titãs chegam com humor surpresa e um rock amalucado". SOUZA, Tarik de. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 set. 1984. Caderno B.
2. VELOSO, Caetano. Release do álbum Õ Blésq Blom, 1989.
Obras 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 3
- DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
- RODRIGUES, Apoenan. "Titãs chegam com humor surpresa e um rock amalucado". Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 out. 1989. Caderno B.
- SOUZA, Tarik de. "Titãs chegam com humor surpresa e um rock amalucado". Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 set. 1984. Caderno B.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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TITÃS.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo626765/titas. Acesso em: 30 de janeiro de 2023.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7