
Um Molière Imaginário

Primeira montagem em que um integrante do Grupo Galpão assina a direção de um espetáculo da companhia. Um Molière Imaginário é uma adaptação do clássico O Doente Imaginário, de Molière, com direção de Eduardo Moreira e dramaturgia de Cacá Brandão, realizada depois dos premiados espetáculos Romeu e Julieta, 1992, e A Rua da Amargura, 1994, dirigidos por Gabriel Villela.
Um Molière Imaginário, produzida em comemoração dos 15 anos do Galpão, é uma homenagem declarada ao dramaturgo francês e ao teatro, e uma reflexão sobre o ofício do ator. O dramaturgista Cacá Brandão relata os motivos que levam o grupo a escolher a peça: "Molière aparecia como a própria encarnação do fazer teatral, identificava-se com a trajetória do grupo, seja pelo seu amor e dedicação a essa arte, seja pelo seu caráter popular e sua formação mambembe, e fornecia uma impiedosa crítica à hipocrisia da sociedade contemporânea".1
Comédia entremeada de música e dança, a peça original integra um ciclo de obras que satirizam a medicina da época. Molière morre em cena, em 1673, durante uma apresentação de O Doente Imaginário. O espetáculo do Galpão se inicia com o cortejo fúnebre que conduz o caixão do dramaturgo. Segue-se uma comédia, com tom farsesco, na qual o próprio autor renasce para contar, pelo enredo de O Doente Imaginário, sua vida e sua morte. O autor/personagem interfere no espetáculo, fala sobre teatro e assume o papel do irmão do hipocondríaco Argan, protagonista da peça. A reviravolta se dá no desfecho do espetáculo, quando Argan se diploma em medicina e morre em seguida, em alusão à morte real do autor. Enquanto isso, Molière, o autor/personagem, tem um fim glorioso: morre em uma tourada e é sepultado com carnaval e festa. Mas, como o autor permanece vivo em suas obras, reaparece em cena vindo de debaixo do palco.
Como no teatro que Molière apresenta para a corte de Luís XIV, na montagem do Grupo Galpão a música tem lugar de destaque, tanto na estrutura das cenas quanto na construção dos personagens. O bolero identifica o vilão da peça, o samba acentua a malandragem do tabelião e as árias de ópera dão o tom romântico que envolve os enamorados.
A dramaturgia incorpora ao texto referências ao livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1893 - 1908), utilizando-as para encontrar o tom sarcástico da peça. Figurinos e movimentos são inspirados no clima onírico e na leveza das pinturas de Marc Chagall, com predomínio da cor lilás. A atmosfera de sonho está presente também nos adereços e na cenografia, que remete a obras do pintor Piero della Francesca, representante do quatroccento italiano.
A estreia de Um Molière Imaginário ocorre na praça em frente a uma igreja da cidade histórica de Tiradentes, em Minas Gerais. Em seguida, o Galpão abre o 6º Festival de Teatro de Curitiba com o espetáculo. Sobre a apresentação, a crítica Barbara Heliodora escreve: "O Festival de Teatro de Curitiba estreou lindamente sob o signo do milagre do encantamento teatral graças à contagiante alegria de 'Um Molière Imaginário' [...] O resultado é ótimo, com a leve caricatura circense contribuindo para tornar clara a história a ser contada, cheio de momentos inesperados, pleno de carinho para com Molière e para com o mundo dos mambembes".2
Com o espetáculo, o Grupo Galpão abre a quarta edição do festival Porto Alegre em Cena; reúne cerca de 1.500 pessoas na Praça do Papa, em Belo Horizonte; além de viajar por vários países.
Um Molière Imaginário recebe, em 1997, o Prêmio Bonsucesso de melhor espetáculo, hors-concours. Em maio de 1998, ganha o Prêmio Sesc/Sated nas categorias melhor espetáculo, direção, figurino, trilha sonora, iluminação, texto e melhor ator, para Rodolfo Vaz.
Notas
1. BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Grupo Galpão: 15 anos de risco e rito. Belo Horizonte: O Grupo, 1999. p. 134
2. HELIODORA, Barbara. Um exemplo de encanto com alma mambembe. O Globo, Rio de Janeiro, 15 mar. 1997.
Ficha Técnica
do evento Um Molière Imaginário:
- Autoria (Premiação)
- Tradução (Premiação)
- Dramaturgia (Premiação)
- Direção (Premiação)
- Direção (assistente) (Premiação)
- Cenografia (Premiação)
- Figurino (Premiação)
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Iluminação
(Premiação)
- Alexandre Galvão
- Chico Pelúcio (Prêmio Sated)
- Wladimir Medeiros
- Trilha sonora (Premiação)
- Coreografia (Premiação)
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Elenco
/ Personagem (Premiação)
- Antonio Edson / Sr. Boa Fé e Dr. Purgan
- Arildo de Barros / Dr. Disáforus
- Beto Franco / Sr. Flores
- Chico Pelúcio / Sr. Flores
- Eduardo Moreira / Tomás Disáforus
- Fernanda Vianna / Rainha Mab e Belinha
- Inês Peixoto / Belinha
- Júlio Maciel / Molière e Beraldo
- Lydia Del Picchia / Rainha Mab e Angélica - substituição eventual
- Margareth Serra / Nieta
- Paulo André / Cleanto
- Rodolfo Vaz / Argan
- Simone Ordones / Angélica
- Teuda Bara / Nieta
- Produção (Premiação)
Fontes de pesquisa (4) 
- ALVES, Júnia & Noe, Márcia. O palco e a rua: a trajetória do teatro do Grupo Galpão. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2006.
- BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Grupo Galpão: 15 anos de Risco e Rito. Belo Horizonte: O Grupo, 1999.
- BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Grupo Galpão: diário de montagem. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
- MOLIÈRE. O Doente Imaginário. Belo Horizonte: Crisálida, 2002.
Como citar? 
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UM Molière Imaginário. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento402314/um-moliere-imaginario>. Acesso em: 06 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7