A Moratória
Texto
Histórico
Peça de estréia do dramaturgo Jorge Andrade (1922-1984), encenação de Gianni Ratto (1916-2005) para o Teatro Maria Della Costa (TMDC), com interpretação marcante de Fernanda Montenegro (1929).
O texto enfoca a crise na produção cafeeira nacional gerada pela quebra da Bolsa Valores de Nova York e acompanha a derrocada de uma aristocrática família reduzida subitamente à pobreza. Centralizando o conflito está o velho Quim, um coronel à antiga, que vê os filhos e a mulher minguarem, saudosos dos velhos tempos e sem perspectivas de futuro. Ambientada em dois momentos - os anos de 1929 e 1932, antes e depois do desastre econômico, a estrutura dramatúrgica intercala cenas na casa da fazenda e cenas na pequena casa da cidade, onde a família passa a viver dos modestos ganhos dos filhos, especialmente de Lucília, que se torna costureira. Esse recurso permite ao autor apresentar o verso e o reverso das situações, justificando comportamentos e projetando expectativas. A alternância entre os dois momentos, mostrados simultaneamente, constitui-se no trunfo maior da arquitetura cênica de A Moratória.
A produção do Teatro Maria Della Costa é esmerada e cerca-se de todos os cuidados. A direção e a cenografia são entregues a Gianni Ratto, que dispõe de longo período para burilar o trabalho dos atores. Despidos de teatralidade, concentram nas inflexões psicológicas o principal do material expressivo, alcançando um conjunto de desempenhos de rara profundidade. Elísio de Albuquerque e Monah Delacy vivem os pais; Fernanda Montenegro e Milton Moraes, os filhos; Sergio Britto (1923-2001) faz o noivo; e Wanda Kosmo uma tia que visita a família. A harmoniosa realização, perpassada de sensibilidade, evoca climas de Anton Tchekhov e Arthur Miller, dois modelos que Jorge Andrade admira e com os quais dialoga.
Em seu comentário crítico, Décio de Almeida Prado (1917-2000) assim escreve sobre a encenação: "A peça de Jorge Andrade apóia-se inteiramente, não sobre o espetáculo, mas sobre o desempenho individual dos atores. Propunha, portanto, uma nova prova para Gianni Ratto, que a venceu com a maior maestria, oferecendo-nos uma representação primorosa, pouco menos que perfeita, uma das melhores que já vimos em palcos nacionais. (...) Esse o milagre da encenação: o de ser tão singela, tão verídica, não acrescentando nada à peça, no sentido de achados exteriores. Fez o mais difícil: deixou as personagens serem livremente sentimentais, sem ela mesma o ser. Na comoção, guardou o mais possível o senso de recato e de medida".1
Notas
1. PRADO, Décio de Almeida. A Moratória. In: ______. Teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 102.
Ficha Técnica
Jorge Andrade (Prêmio Saci)
Direção
Gianni Ratto (Prêmio Saci)
Direção (assistente)
Fernando Torres
Cenografia
Gianni Ratto
Figurino
Luciana Petruccelli
Elenco
Elísio de Albuquerque / Joaquim
Fernanda Montenegro / A Moratória (Prêmio Saci)
Milton Moraes / A Moratória
Monah Delacy / A Moratória
Sergio Britto / A Moratória
Wanda Kosmo / A Moratória
Produção
Sandro Polloni
Fontes de pesquisa 5
- ANDRADE, Jorge. Marta, a árvore e o relógio. São Paulo: Perspectiva, 1970.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Debates, 211).
- RATTO, Gianni. A mochila do mascate. São Paulo: Hucitec, 1996. 382 p.
- SILVA, Tânia Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 204 p. Tese (Doutorado em História da Arte) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
- SILVEIRA, Miroel. A outra crítica. São Paulo: Símbolo, 1976.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
A Moratória.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento395654/a-moratoria. Acesso em: 01 de julho de 2022.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7