Título da obra: Um Panorama Visto da Ponte


Registro fotográfico Julio Agostinelli
Um Panorama Visto da Ponte
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1958
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Julio Agostinelli
Registro fotográfico Julio Agostinelli
Montagem que inicia a comemoração dos dez anos de existência do Teatro Brasileiro de Comédia, com bem-sucedida encenação de Alberto D'Aversa.
A peça de Arthur Miller, estreada em Nova York em 1955, recebe restrições por parte da exigente crítica da Broadway. Montá-la entre nós, em 1958, é uma atitude arrojada de Franco Zampari, que enfrenta as dificuldades de produção do texto e pretende, com a encenação, voltar aos bons tempos de sucesso, depois de alguns espetáculos mal-sucedidos.
Panorama ambiciona a magnitude de uma tragédia grega, conta a história de Eddie Carbone, estivador do cais do porto de Nova York, que se vê enredado numa sórdida trama de delação. Homem mediano, oscilando entre seus impulsos sexuais frente à sobrinha e uma vida rude, experimenta crises e sofre oposições de várias ordens. Para vivê-lo, Alberto D'Aversa escala Leonardo Villar, que constrói o papel em todas as suas nuances, numa das grandes interpretações de sua carreira. Nathália Timberg, como a esposa, integra-se com ele em perfeita harmonia; assim como Elizabeth Henreid, no papel da sobrinha. Compõem ainda o grande elenco, Sergio Britto e Fernando Torres, em papéis menores, Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi.
A cenografia de Mauro Francini merece destaque por criar no palco a ambiência necessária à descrição de alguns detalhes requeridos pela trama e, ao mesmo tempo, por mostrar o espaço degradado que rodeia o cais.
A apreciação do crítico Décio de Almeida Prado é generosa: "Alberto D'Aversa tem, nesta peça norte-americana passada entre italianos e descendentes de italianos, a sua primeira real oportunidade no Brasil. A sua direção parece-nos perfeita, exemplar, não caindo no melodrama, mas não se refugiando, por outro lado, num cômodo meio-termo, não tendo medo de ir ao ponto mais extremo da dramaticidade. É uma encenação franca, simples, brutal - como a peça.(...) Daí o impacto desse drama que nos atinge - para terminarmos com uma metáfora ao gosto norte-americano - com a simplicidade e o vigor de um soco na boca do estômago".1
Para a época, atingir 435 récitas, nas diversas cidades onde o espetáculo se apresenta, significa um trunfo de indiscutível adesão de público.
1. PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964. p. 93-96.
Registro fotográfico Julio Agostinelli
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