A Bao A Qu - Um Lance de Dados
Texto
Histórico
O espetáculo, construído sobre o tema da invenção artística, lança a Cia dos Atores, sob a direção de Enrique Diaz (1967), unindo experimentação cênica e comunicabilidade.
Sem um texto nem propriamente uma história para contar, o espetáculo é concebido como uma parábola da criação artística, baseada nas obras de Jorge Luis Borges, Livros dos Seres Imaginários, e de Malarmé, Um Lance de Dados. O diretor Enrique Diaz parte da pesquisa das possibilidades narrativas não verbais para criar associações livres e sem sentido fechado. Com uma língua inventada e uma linguagem corporal que lembra um desenho animado, o roteiro propõe situações dramáticas, sem um fio condutor, a não ser a possibilidade de tudo ali emanar da imaginação de um escritor. A narrativa é demarcada pela fluência rítmica e não pela ação. A distribuição de tapadeiras no palco possibilita a agilidade das marcações. O espetáculo se assume, desta forma, como uma brincadeira teatral, uma investigação cênica sem nada a perseguir a não ser o interesse em si mesmo e na fluência do espectador.
Resultado da pesquisa e da experimentação desenvolvidas na sala de ensaio, A Bau A Qu se torna um espetáculo cult, com filas na porta embora não faça nenhuma publicidade. Na temporada paulista a crítica percebe, na linguagem proposta pelo grupo, uma genuína inquietação estética - e confere ao espetáculo o Prêmio Molière de 1991.
O crítico Jefferson Del Rios (1943) descreve: "O espetáculo não tem quase nada a dizer. É a sua audácia e o seu limite. Quer deixar sensações poéticas e divertidas. (...) as personagens de A Bau A Qu executam uma maratona de idas e vindas, montagens e desmontagens de pilhas de tijolos e jogos variados com pneus e guarda-chuvas. Eles se atrapalham e se exaltam dentro de uma engraçada incomunicabilidade (...). As cenas são estruturadas com agilidade e de forma ultradetalhista. O preciosismo mandaria falar de minimalismo, mas talvez seja melhor recordar equilibristas e palhaços".1
No Rio de Janeiro, o crítico Macksen Luiz (1945), identificando uma linguagem feita de "imagens abstratas que decompõem a veracidade das situações", considera que a habilidade do diretor é "dar solidez cênica a pouco mais que um balé de idéias esparsas". Segundo ele:
"Praticamente sem palavras (há uma babel de línguas que lembram levemente o som de idiomas conhecidos), a única frase dita durante toda a encenação é 'um lance de dados jamais abolirá o acaso'. O espetáculo se constrói sobre essa possibilidade do acaso, da sua interferência sobre o fluxo da racionalidade. São casais que se desentendem, movimentos que reproduzem a neurose urbana e gestos que supõem conflito de sentimentos. Tudo sob a égide do processo de criação".2
Notas
1. RIOS, Jefferson del. 'A Bao A Qu', uma versão requintada do besteirol. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 20 abr. 1991.
2. LUIZ, Macksen. Balé de idéias soltas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, jul. 1990.
Ficha Técnica
Enrique Diaz
Direção
Enrique Diaz (Prêmio Molière)
Direção (assistente)
Eleonora Fabião
Cenografia
Drica Moraes
Paula Joory
Adereço
Beli Araújo
Figurino
Drica Moraes
Marcelo Olinto
Iluminação
Luiz Paulo Nenen
Maquiagem
Walter do Valle
Direção musical
Carlos Cardoso
Trilha sonora
Carlos Cardoso
Direção corporal
Lucia Aratanha
Preparação corporal
Lucia Aratanha
Elenco
Alexandre Akerman
André Barros
Anna Cotrim
Bel Garcia
César Augusto
Gustavo Gasparani
Marcelo Olinto
Marcelo Valle
Susana Ribeiro
Direção de produção
Enrique Diaz
Marcelo Valle
Susana Ribeiro
Produção executiva
César Augusto
Débora Guimarães
Fotografia
Dirce Moraes
Levindo
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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A Bao A Qu - Um Lance de Dados.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento391701/a-bao-a-qu-um-lance-de-dados. Acesso em: 08 de fevereiro de 2023.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7