A Máquina
Texto
Histórico
O texto, uma coautoria de Adriana Falcão e João Falcão (1958), enfoca uma personagem única - Antônio - jovem que zela pelos destinos da amada. Em clima jovial e abusando de afirmações às vezes ingênuas, às vezes sarcásticas, a realização emprega quatro atores que se revezam no desempenho da personagem masculina, o que lhe confere um acento não-realista e altamente vibrátil.
A roteirista é responsável pela adaptação cinematográfica do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (1927-2014), pelo qual nutre grande empatia, e seu texto, refletindo esse clima, articula-se na mesma prodigiosa voragem de palavras. A máquina, que dá título à trama, é imaginada pela personagem central como solução para manter junto de si a amada, que sonha abandonar a pequena cidade e tornar-se artista de TV.
A encenação de João Falcão é estruturada num palco giratório, manipulado pelos próprios atores, alcançando assim fluência, desenvoltura e agilidade. A inspiração confessa são os cantadores de feira e seus desafios, e embora a realização não esconda sua matriz regional, ambientada numa fictícia cidade chamada Nordestina, é estruturada com a agilidade dos raps das grandes cidades do sul. No desempenho de Antônio revezam-se os atores Gustavo Lago, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Vladimir Brichta, ao lado da quase estreante Karina Falcão.
A realização, nas palavras da crítica Mariangela Alves de Lima (1947), alcança pleno sucesso: "As características parecem sugerir uma ficção regionalista, como as incontáveis reapropriações que o teatro e a literatura moderna fizeram das convenções, das personagens e dos temas da literatura popular nordestina. Apenas as simbolizações são contemporâneas na sua analogia com as condições históricas: as pequenas cidades despovoadas e a figuração do seu contrário por meio das emblemáticas realidades do shopping e da televisão. No espetáculo adaptado e dirigido por João Falcão, entretanto, a marca de origem do herói é atenuada e a amplitude mítica reforçada por recursos do espetáculo. Antônio tem o sotaque nordestino, mas multiplicou-se como um nordestino claramente alegórico. Vários atores representam o protagonista, diversificando a visualização, a tonalidade vocal e dramática do personagem. Há o amoroso, o cômico, o ardiloso, o poeta e cada faceta da personagem encontra um intérprete que o privilegia. Ao mesmo tempo, a formalização espacial do espetáculo situa essas figuras em uma arena com saídas para os quatro pontos cardeais. A sensação de multiplicidade, de que a personagem se expande, ubíquo, por todo o mundo que quer abarcar, se configura sobretudo por meio dessa representação espacial.
Mas há também nesse espetáculo uma recorrência ao mimo e às acrobacias para complementar a forma demonstrativa do texto. Na maior parte do tempo, Antônio não é um sujeito manifestando suas idéias e sentimentos, mas um personagem configurado por uma referência à terceira pessoa. A essa forma narrativa convém ilustrações físicas de atos indicados pela fala e ações corporais coreografadas que garantem ao espetáculo dinamismo e um belo desenho".1
Notas
1. LIMA, Mariangela Alves de. Dinamismo de 'A Máquina' é sedutor. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 nov. 2000. Caderno 2, p. A-3.
Ficha Técnica
Adriana Falcão
Adaptação
João Falcão
Direção
João Falcão
Cenografia
João Falcão
Figurino
Jefferson Miranda
Iluminação
Ney Bonfante
Trilha sonora
DJ Dolores
Preparação corporal
Tânia Nardini
Elenco
Felipe Konry / A Máquina
Gustavo Lago / A Máquina
Karina Falcão / A Máquina
Lázaro Ramos / A Máquina
Vladimir Brichta / A Máquina
Wagner Moura / Antônio
Fontes de pesquisa 5
- AP. Fábula para adultos. Época, São Paulo, p. 127, 17 jul. 2000.
- FIORATTI, Gustavo. Falcão monta fábula nordestina em 'A Máquina'. Revista da Folha, São Paulo, p. 29.
- LIMA, Mariangela Alves de. Dinamismo de 'A Máquina' é sedutor. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 nov. 2000. Caderno 2, p. A-3.
- PAIVA, Marcelo Rubens. João Falcão vai no inverso da fama. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 jan. 2000. Ilustrada, p. E5.
- PAIVA, Marcelo Rubens. O vôo de João Falcão. Folha de S.Paulo, São Paulo, 3 mar. 1999. Ilustrada, p. 1.
Como citar
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A Máquina.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento391102/a-maquina. Acesso em: 31 de janeiro de 2023.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7