Título da obra: O Homem Certo com o Molde Certo


Reprodução fotográfica Edouard Fraipont/Itaú Cultural
Mar do Japão
,
1990
,
Leonilson
Reprodução fotográfica Rômulo Fialdini/Projeto Leonilson
José Leonilson Bezerra Dias (Fortaleza, Ceará, 1957 - São Paulo, São Paulo, 1993). Pintor, desenhista, escultor. Em 1961, muda-se com a família para São Paulo. Entre 1977 e 1980, cursa educação artística na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde é aluno de Julio Plaza (1938-2003), Nelson Leirner (1932). Tem aulas de aquarela com Dudi Maia Rosa (1946) na escola de artes Aster, que frequenta de 1978 a 1981. Nesse último ano, em Madri, realiza sua primeira individual na galeria Casa do Brasil e viaja para outras cidades da Europa. Em Milão tem contato com Antonio Dias (1944), que o apresenta ao crítico de arte ligado à transvanguarda italiana Achille Bonito Oliva (1939).
Retorna ao Brasil em 1982. A obra de Leonilson é predominantemente autobiográfica e está concentrada nos últimos dez anos de sua vida. Segundo a crítica Lisette Lagnado, cada peça realizada pelo artista é construída como uma carta para um diário íntimo. Em 1989, começa a fazer uso de costuras e bordados, que passam a ser recorrentes em sua produção.
Em 1991, descobre estar vivendo com HIV, e o fato repercute de forma dominante em sua obra. Seu último trabalho, uma instalação concebida para a Capela do Morumbi, em São Paulo, em 1993, tem um sentido espiritual e alude à fragilidade da vida. Por essa mostra e por outra individual realizada no mesmo ano, recebe, em 1994, homenagem póstuma e prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). No mesmo ano de sua morte, familiares e amigos fundam o Projeto Leonilson, com o objetivo de organizar os arquivos do artista e de pesquisar, catalogar e divulgar suas obras.
A obra de Leonilson inclui pinturas, desenhos, bordados e algumas esculturas e instalações. Para a crítica Lisette Lagnado, o artista foi movido pela necessidade de registrar sua subjetividade. Assim suas peças são construídas como cartas para um diário íntimo. A princípio, sua obra aproxima-se da visualidade dos trabalhos de Antonio Dias, porém com mais potência erótica. As formas nos desenhos são envoltas por um contorno escuro, como no grafite norte-americano. Em paralelo, começa a elaborar elementos que são permanentemente retomados até o fim de sua vida: o livro aberto, a torre, o radar, o átomo, o coração, a espiral, o relógio, a bússola e a ampulheta, entre outros.
Em 1989, expõe Anotações de Viagem na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, apresentando peças feitas com botões, pedras semipreciosas e bordados, que introduzem um novo e fundamental procedimento em seu trabalho: a costura. As peças sugerem correspondência com os bordados de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), que Leonilson admirava. Entretanto, o universo da costura lhe é familiar, por ser filho de um comerciante de tecidos e ter também o hábito de ver a mãe bordar. Para Lagnado, além destes dados há em sua obra certas similitudes com o modo de vida dos shakers, membros de seita religiosa norte-americana, como o uso marcante de mapas ou o costume de bordar a roupa de cama com iniciais ou números.
Na constituição de uma expressão pessoal e subjetiva, desde 1984, Leonilson realiza formas orgânicas em seus desenhos e pinturas, que se aproximam cada vez mais de cartografias do corpo. Toma também consciência da necessidade de constituir com as palavras uma linguagem própria, tema de O Pescador de Palavras (1986). Nas obras Sua Montanha Interior Protetora (1989) e Oceano, Aceita-Me? (1991) aparece a visão da natureza incomensurável, como o abismo, o vulcão, a corredeira com pedras, o oceano. A postura romântica do artista é revelada também na pintura O Inconformado (1988), na qual um personagem é representado dentro de um carro em que não cabe, devido a suas proporções desmedidas, e em Leo não Consegue Mudar o Mundo (1989), em que o inconformismo se liga à impotência. Sua produção começa a sofrer, então, um despojamento formal, mas o conteúdo não muda: usa palavras carregadas de valor moral como "sinceridade", "honestidade" e "integridade". Por outro lado, as palavras servem para manifestação de estados íntimos: "alegre", "tímido", "solitário", "hipócrita", "deslocado", "cheio e vazio", "cético", "ansioso" ou "confuso".
Em 1991, descobre estar vivendo com HIV, e a relação com o vírus domina por completo a sua obra. Em O Perigoso (1992), série de sete desenhos, trata com ironia a própria condição. No primeiro desenho, há uma gota do seu sangue, infectado. Nos outros, pequenas figuras de mãos associadas a procedimentos médicos ou crucifixos são mescladas a diversas palavras, como nomes de flores, adquirindo uma dimensão alegórica relacionada à simbologia cristã da pureza e da morte. Alguns trabalhos desta fase podem ser vistos como autorretratos. Por exemplo, em El Puerto (1992), um espelho coberto com retalho de uma camisa do artista contém, bordadas com linha azul, informações sobre sua idade, peso e altura. É uma obra que versa sobre o luto e a ausência da figura. A instalação na Capela do Morumbi, de 1993, seu último trabalho, tem um sentido espiritual. Nos tecidos leves e brancos expressa a fragilidade da vida. Há referências irônicas à autoridade e à hipocrisia, nas camisas moles que revestem as cadeiras e nos bordados "da falsa moral" e "do bom coração", mas também à esperança, em "Lázaro".
A obra de Leonilson, ao voltar-se para o corpo do artista, aproxima-se dos trabalhos de Louise Bourgeois (1911-2010), Eva Hesse (1936-1970), Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), entre outros, e tem ressonância na produção artística mais recente, como nos trabalhos de Efrain Almeida (1964) e Sandra Cinto (1968), que lidam com uma linguagem igualmente intimista.
Reprodução fotográfica Edouard Fraipont/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica Vicente de Mello/Projeto Leonilson
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Eduardo Ortega/Projeto Leonilson
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica Edouard Fraipont/Itaú Cultural
Eduardo Brandão/divulgação
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Edouard Fraipont/Itaú Cultural
Seminário: "Projeto Leonilson e a Internacionalização da Obra"
Itaú Cultural
Teatro Sesc Pompéia (São Paulo, SP)
Teatro Lira Paulistana (São Paulo, SP)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Galleria Giuli (Lecco, Itália)
Galeria de Arte da Casa do Brasil (Madri, Espanha)
Galleria Pellegrino (Bolonha, Itália)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
Galeria do Centro Empresarial Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Galeria Luisa Strina
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Galeria Tina Zappoli (Porto Alegre, RS)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Thomas Cohn Arte Contemporânea
Parque Ferial Juan Carlos I
Fundação Bienal de São Paulo
Fundação Bienal de São Paulo
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: