Título da obra: Fomos Maus Alunos

Gilberto Dimenstein (São Paulo, São Paulo, 1956 – idem, 2020). Jornalista. Atua em diversos veículos da mídia brasileira como correspondente internacional, repórter, colunista e membro de conselho editorial.
Seu trabalho na promoção de causas sociais é referência nacional e internacional para projetos de direitos humanos, sobretudo na intersecção entre mídia e educação. Fundador da ONG Cidade Escola
Aprendiz, que trabalha o conceito de Bairro-Escola, e do portal de divulgação de eventos culturais Catraca Livre e um dos criadores da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) – comunicação e direitos.
Dimenstein se forma em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Inicia sua carreira em 1977, escrevendo para a revista Shalon, da Comunidade Judaica do Brasil. Em 1985, começa a trabalhar para o jornal Folha de S.Paulo, pelo qual ganha o Prêmio Esso de Jornalismo em 1988, na categoria principal, com a reportagem “A Lista da Fisiologia”. No ano seguinte, recebe novamente o Prêmio Esso, na categoria Informação Política, com a reportagem “O Grande Golpe”, publicada no mesmo jornal.
Entre 1991 e 1992, Dimenstein recebe a bolsa de estudos da MacArthur Foundation, para pesquisar a violência e a prostituição infantil na Amazônia. Durante seis meses, o jornalista viaja pelo estado investigando as rotas do tráfico de meninas, reunindo relatos de personagens reais. A investigação resulta em uma série de reportagens depois publicada no livro Meninas da Noite: a Prostituição de Meninas Escravas no Brasil (1992), que revela locais de cativeiro, nomes de cafetões, rotas e formas de violência exercida contra as meninas.
Entre os méritos de Dimenstein está a atenção trazida para a relação entre prostituição infantil, desigualdade e narcotráfico. No ano seguinte, a repercussão da obra influencia na formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias, conhecida como CPI da prostiuição infantil.
Ainda em 1993, Dimenstein participa da criação formal da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), que desde 1990 trabalha voluntariamente com mídia em favor de ações sociais. A Andi desempenha o papel de mediação entre a grande imprensa e grupos que defendem os direitos da infância e adolescência.
Com o livro O Cidadão de Papel: a Infância, a Adolescência e os Direitos Humanos no Brasil (1993), o jornalista vence o Prêmio Jabuti de 1994, na categoria livros de não ficção. O título remete à discrepância entre os direitos formalmente garantidos pela Constituição Federal de 1988 e a realidade de grande parte da população, privada desses direitos.
O livro, pensado para ser utilizado por professores e alunos no contexto escolar, apresenta um panorama social brasileiro com enfoque nos efeitos da desigualdade social, como desemprego, falta de moradia, violência e desnutrição. A tese construída é a de que uma verdadeira democracia depende do acesso universal aos direitos humanos e a uma educação para a cidadania.
Em 1995, Dimenstein recebe o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, junto com o cardeal dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). Entre 1995 e 1998, o jornalista exerce a função de acadêmico visitante do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia, em Nova York.
No ano de 1997, Dimenstein cria a organização não governamental (ONG) Cidade Escola Aprendiz, que desenvolve o conceito de Bairro-Escola, replicado internacionalmente com apoio da Unicef e Unesco, e considerado em 2009 “um exemplo de inovação comunitária” pela Escola de Administração de Harvard1.
Iniciada como um laboratório experimental de comunicação e educação, a Cidade Escola Aprendiz propõe uma integração entre cidade e comunidade escolar, expandindo a troca de informações e a produção de arte para além do espaço físico das escolas. O Portal Aprendiz é parte desta experiência, com a participação de alunos na produção de conteúdos e a proposta de formação de profissionais.
O trabalho de Dimenstein com educação e promoção de direitos da infância é uma das inspirações para o Bolsa-Escola, como revela o criador do programa, o então governador do Distrito Federal Cristovam Buarque (1944).
Em 2008, o jornalista cria o site Catraca Livre, portal que agrega a divulgação da agenda cultural das cidades participantes. Além dos eventos culturais gratuitos ou acessíveis, o site reúne informações e serviços de promoção de direitos.
Integra o conselho editorial da Folha de S.Paulo de 2011 até seu desligamento do jornal, em 2013. Além da coluna assinada na Folha, é comentarista dos programas Mais São Paulo e Cidadão Jornalista, ambos da rádio CBN.
Gilberto Dimenstein constrói um legado de projetos e instituições que seguem atuantes na promoção de direitos humanos, com ênfase na relação entre mídia e educação. O conceito de “Bairro-Escola”, trabalhado por Dimenstein, torna-se referência na integração entre comunidade e ensino e na democratização do acesso a serviços públicos. Enquanto jornalista, Dimenstein traz para a pauta nacional questões urgentes e ajuda a denunciar a violação aos direitos humanos, como a prostituição de crianças e adolescentes, e também investe em diversas frentes para estabelecer relações criativas entre comunicação, sociedade e cidadania.
1. Cf.: PORTAL DOS JORNALISTAS. Gilberto Dimenstein. [s.d.]
Itaú Cultural
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