Título da obra: Antonio Bivar (Riff Raff) em cena de Rock Horror Show


Registro fotográfico Ruth Toledo
Antonio Bivar (Riff Raff) em cena de Rock Horror Show
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1976
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Ruth Toledo
Registro fotográfico Ruth Toledo
Antonio Bivar Battistetti Lima (São Paulo, São Paulo, 1939 – idem, 2020). Dramaturgo, biógrafo, jornalista, contista, romancista, tradutor, ator, roteirista, cronista, diretor e produtor musical. Importante nome do movimento que renova a linguagem do teatro no final dos anos 1960, Bivar destaca-se por seu trabalho eclético e provocador.
Passa a infância na capital paulista e em fazendas do interior do estado. Muda-se com os pais e os irmãos para Ribeirão Preto. Disposto a estudar teatro, vai para o Rio de Janeiro como aluno da Fundação Brasileira de Teatro e do Conservatório Nacional de Teatro, onde se forma.
Inicia a trajetória profissional com a peça Cordélia Brasil (1968). Dirigida por Emílio di Biasi (1939-2020), estreia no Rio de Janeiro e prossegue com temporada no Teatro de Arena, em São Paulo. A peça é um sucesso de público e crítica, e rende a Bivar o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. O trabalho seguinte, Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã (1968), garante-lhe o Prêmio Molière de melhor autor. Em 1969, escreve O Cão Siamês de Alzira Porra-Louca, encenada em São Paulo. Ainda nessa década, colabora com jornais como Flor do Mal e Presença.
Bivar faz parte da chamada “geração de 1969”, nome dado pelo crítico Anatol Rosenfeld (1912-1973) ao grupo de jovens dramaturgos que desponta naquele ano, trazendo referências incomuns. A “nova dramaturgia” – como vem a ser chamada – caracteriza-se pela recusa ao realismo canônico, incursionando pelo terreno do absurdo. Leilah Assumpção (1943), Isabel Câmara (1940-2006), Consuelo de Castro (1946-2016), José Vicente (1945-2007) são outros nomes que, ao lado de Bivar, compõem “a safra dos novíssimos”.
Exilado pela ditadura militar, viaja em 1970 para a Inglaterra. Nesse ano, escreve uma nova versão para O Cão Siamês, rebatizada como Alzira Power, a pedido do diretor Antônio Abujamra (1932-2015). Estrelada pela atriz Yolanda Cardoso (1923-2007), a peça conquista o Prêmio Governador do Estado do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que outras obras do autor são interditadas pela censura.
O enredo gira em torno de duas personagens que se encontram numa situação-limite: Alzira, funcionária pública aposentada de 41 anos, e Ernesto, um jovem corretor de automóveis de 23 anos. Alzira, num arroubo de ódio, tranca o rapaz em seu apartamento. Diante dele, discorre sobre sua vida, lembra amores passados, veste-se de noiva, intimida-o, descontrola-o, muda de opinião, num quase monólogo que dispensa interlocução. A engrenagem da peça depende da inversão de papéis – ora Alzira domina a situação, ora Ernesto, cada qual exercendo sua parcela de crueldade sobre o outro. Ainda que o texto remeta à estrutura de obras canônicas do teatro moderno, Bivar cria uma tragicomédia original, sensível às questões de seu tempo.
As opções formais – inspiradas pelo dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912), pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) e pelo dramaturgo norte-americano Edward Albee (1928-2016) – representam a chamada “crise do drama”, quando a forma dramática clássica é colocada em xeque pelo teatro moderno. Também é possível notar referências aos trabalhos do irlandês Samuel Beckett (1906-1989) e do francês Eugène Ionesco (1909-1994).
São dramas curtos, com poucas personagens, centradas em poucos conflitos e ambientadas num único cenário. O coloquialismo dos diálogos remete às obras dos escritores Nelson Rodrigues (1912-1980) e Plínio Marcos (1935-1999). Sua dramaturgia incorpora, ainda, manifestações do tropicalismo: o gosto pelo deboche, o humor e a predileção pelas formas do pop. Enquanto as primeiras peças são a expressão artística de uma nova mentalidade teatral, as outras revelam a sensibilidade dos jovens que aderem à contracultura.
Ainda em 1970 e fora do Brasil, redige a peça Longe Daqui Aqui Mesmo, de cunho memorialista. Outro trabalho que retrata a experiência de Bivar em terras estrangeiras, principalmente a do exílio na Inglaterra, é Verdes Vales do Fim do Mundo (1984). As memórias dos dois textos estão impregnadas do espírito das viagens do escritor à Europa e à América. Ao passo que relatam a sensibilidade artística e comportamental de parte da juventude daqueles anos, descrevem a atmosfera da contracultura, bem como retratam personagens históricas e os bastidores da vida teatral brasileira, testemunhando a formação pessoal do narrador.
Atua como diretor musical dos shows Drama – Luz da Noite (1973), de Maria Bethânia (1946), e Fruto Proibido (1975), de Rita Lee (1947). Em parceria com Alcyr Costa, escreve Gente Fina é Outra Coisa (1976), encenada no Teatro de Arena. Redige Quarteto (1977), para celebrar os 50 anos de carreira do ator e encenador polonês Ziembinski (1908-1978).
É um dos organizadores do festival O Começo do Fim do Mundo (1982), marco do movimento punk. Na década de 1990, escreve o segundo volume de Longe Daqui Aqui Mesmo (1995), com memórias sobre os anos da contracultura no Brasil. Lança Bivar na Corte de Bloomsbury (2006), resultado de seu trabalho com a obra da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Muito interessado pela escritora, Bivar aproveita o período do exílio para estudar a vida e a obra da autora com o grupo de Bloomsbury.
Sensibilizada por questões de seu tempo, unindo humor e inovação, a obra de Antonio Bivar abrange dramaturgia, romance, conto, ensaio literário e autobiografia. A variedade de gêneros é proporcional à riqueza de sua trajetória, que passa também pelo jornalismo e pela atuação na cena musical.
Registro fotográfico Ruth Toledo
O Tablado
Teatro Oficina
Teatro Mesbla
Teatro Mesbla
Teatro de Arena
Teatro Ruth Escobar
Teatro João Caetano (Rio de Janeiro, RJ)
Teatro de Arena
Teatro Ipanema
Teatro de Arena
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