Título da obra: Metaesquema


Reprodução fotográfica César Barreto
Hélio Oiticica em Mitos Vadios - Rua Augusta, São Paulo SP
,
1978
,
Loris Machado
Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937 – idem, 1980). Artista performático, pintor e escultor. Sua obra caracteriza-se por um forte experimentalismo e pela inventividade na busca constante por fundir arte e vida. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, com a presença de textos, comentários e poemas.
Essa inventividade do artista pode ser em parte explicada por sua formação. Por opção familiar, ele não frequenta escolas na infância. Recebe educação formal de seu pai, o fotógrafo José Oiticica Filho (1906-1964). Em 1954, com o irmão César Oiticica (1939), Hélio inicia os estudos de pintura com Ivan Serpa (1923-1973), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).
Uma das primeiras obras do artista é a série de guaches sobre papel denominada, nos anos 1970, Metaesquemas. Iniciada em 1957, essa série, segundo Oiticica, já apresenta o conflito entre o espaço pictórico e o extrapictórico, prenunciando a posterior superação do quadro. Assim, em 1959, o artista marca o início da transição da tela para o espaço ambiental, o que ocorre com os Bilaterais – chapas monocromáticas pintadas com têmpera ou óleo e suspensas por fios de nylon – e os Relevos Espaciais, suas primeiras obras tridimensionais.
Em 1960 participa da 2ª Exposição Neoconcreta no Rio de Janeiro e cria os primeiros Núcleos, também denominados Penetráveis – placas de madeira pintadas com cores quentes e penduradas no teto por fios de nylon. Neles, tanto o deslocamento do espectador quanto a movimentação das placas passam a integrar a experiência. O espectador já é participante ativo nos Núcleos, mas essa participação é radicalizada pelo artista em 1963, em suas primeiras estruturas manuseáveis, os Bólides – recipientes que contêm pigmento –, resultado da vontade de dar corpo à cor e acrescentar à experiência visual outros estímulos sensoriais.
No fim da década de 1960 começa a colaborar com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Envolve-se com essa comunidade, e, dessa experiência, nascem os Parangolés, a obra mais conhecida de Oiticica. São tendas, estandartes, bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança, poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva. O próprio artista assim os define: "Chamarei então Parangolé, de agora em diante, a todos os princípios formulados aqui [...]. Parangolé é a antiarte por excelência; inclusive pretendo estender o sentido de 'apropriação' às coisas do mundo com que deparo nas ruas, terrenos baldios, campos, o mundo ambiente enfim [...]"1.
Em 1967, as questões levantadas com o Parangolé desembocam nas Manifestações Ambientais, com destaque para as obras Tropicália (1967), Apocalipopótese (1968) e Éden (1969). A Tropicália, apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM/RJ, é considerada o apogeu de seu programa ambiental – é uma espécie de labirinto sem teto que remete à arquitetura das favelas e em seu interior apresenta um aparelho de TV sempre ligado. Depois que o compositor Caetano Veloso (1942) passa a usar o termo tropicália como título de uma de suas canções, ocorrem diversos desdobramentos na música popular brasileira e na cultura que ficam conhecidos como tropicalismo.
O projeto Éden – composto de Tendas, Bólides e Parangolés como proposições abertas para a participação e vivências individuais e coletivas – é apresentado em Londres, em 1969, na Whitechapel Gallery. Considerada sua maior exposição em vida, é organizada pelo crítico inglês Guy Brett (1942) e apelidada de Whitechapel Experience. Com essa espécie de utopia de vida em comunidade surge a proposição Crelazer, ligada à percepção criativa do lazer não repressivo e à valorização do ócio.
Em 1970, ganha uma bolsa da Fundação Guggenheim e instala-se em Nova York. Participa da exposição Information, realizada no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, em que desenvolve a ideia dos Ninhos como células em multiplicação ligadas ao crescimento da comunidade. Volta ao Brasil em 1978 e participa de alguns eventos coletivos. Em 1980, propõe o segundo acontecimento poético-urbano Esquenta pr'o Carnaval, no Morro da Mangueira.
Em 1981, é criado no Rio de Janeiro o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar, analisar e divulgar sua obra, dirigido pelos artistas Lygia Pape (1927-2004), Luciano Figueiredo (1948) e Waly Salomão (1943-2003). Em 1996, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro funda o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, para abrigar todo o acervo do artista e colocá-lo à disposição do público.
Hélio Oiticica é um nome essencial da arte brasileira. Com seu desejo constante pela experimentação e sua preocupação com o ambiente, constrói uma obra diversa e ao mesmo tempo única, capaz de afetar o público da forma como ele deseja, convidando-o a ser parte da obra, o que ilustra também a sua crença de que arte e vida se mesclam. A obra de arte, para Oiticica, é um objeto a ser experienciado, construído, usufruído, e que ganha sentido na relação que o homem estabelece com ele. Sua arte está no mundo, assim como o mundo está na sua arte.
1. OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 79.
Reprodução fotográfica César Barreto
Reprodução fotográfica Sérgio Guerini / Itaú Cultural
Reprodução fotográfica César Barreto
Reprodução fotográfica Antonio Caetano
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Luigi Stavale
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Galeria Multiarte (Fortaleza, CE)
Galeria Ibeu Copacabana
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño (ICUB)
Itatiaia Country Club (Resende, RJ)
Companhia Siderúrgica Nacional (Volta Redonda, RJ)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino (Rosário, Argentina)
Museo de Arte Contemporáneo (Santiago, Chile)
Fundação Bienal de São Paulo
Museo de Arte de Lima (Lima, Peru)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Galeria Belvedere da Sé (Salvador, BA)
Helmhaus Zürich
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
Maison de L'Amérique Latine (Paris, França)
Fundação Bienal de São Paulo
NEOCONCRETISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3810/neoconcretismo>. Acesso em: 31 de Jul. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
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